WOODHEAD, A. Os gregos do Ocidente. Lisboa: Verbo, 1972.

Nome do aluno: Jonathan Afonso Braun

Resenha: Nesta obra Woodhead apresenta um texto que trabalha com os gregos que vieram, a partir do século VIII a.C., habitar e, conseqüentemente, difundir parte de sua cultura no Ocidente.

Após a introdução do livro, quando o tema proposto é a preocupação principal, soa expostos os motivos principais que levaram tais cidadãos gregos a deixarem suas moradas. Alguns destes motivos podem ser aqui citados rapidamente: o fato que nesta época houve uma explosão demográfica na Grécia, o espírito de aventura dos gregos, uma expansão territorial (principalmente voltado à agricultura e a criação de animais), e a dominação persa. Diferente do que se pensa hoje, expandir as relações comerciais não era uma meta primária para tais aventureiros. São mostradas também as principais áreas que a colonização grega ocupou, e suas principais atividades dentro delas. Além disso, o livro traz também parte da história de diversas cidades-estado fundadas na região da Itália e da Sicília, como Ácragas, que foi uma das mais bem sucedidas e Siracusa, que já era uma região que tinha um comércio forte e que mais tarde é habitada pelos gregos imigrantes. Trata também das colônias de duas maneiras distintas:as colônias primárias, que foram fundadas pela Grécia diretamente, como Naxos, e as secundárias, que rebentaram com estas, como Leonte e Catânia.

É objetivo do autor também destacar as lendas gregas, a influência que ela exercia sobre a sociedade da época, além de analisá-las com mais afinco, com a intenção de comprová-las ou desmistificá-las, como até hoje os vestígios arqueológicos o têm feito.São apresentados registros que comprovam, que antes da chegada dos Gregos no Ocidente, já existia um comércio entre ambas as partes relacionadas, como pode ser comprovado pelos achados cerâmicos em Siracusa no período pré-grego, ou o fato de Ulisses, antes do período colonizador, possuir uma criada siciliana.

Notamos também que o autor faz uma analogia entre a chegada dos gregos e os fatos que posteriormente aconteceram, como as guerras(exemplo: gregos e cartagineses), a tirania que se desencadeou em algumas dessas cidades ocupadas e até mesmo a primeira guerra púnica, que ocorreu durante a colonização grega na área siciliana.

Em seguida, o autor trata dos valores que foram levados da Grécia para o Ocidente, como hábitos, costumes e as diferentes formas de cultura. Mas é importante ressaltar que para esses colonizadores difundir a cultura helênica, era importante, mas não era objeto de suma importância, isso foi uma conseqüência de séculos de contato entre tais povos. Assim vemos, que muito do que hoje são ruínas e fazem parte de um patrimônio histórico, são reflexos também de uma miscigenação das culturas, no caso a grega com o Ocidente.

Neste tema o autor aborda diversos tópicos, no qual se comprova esta anteriormente citada miscigenação, mostrando-nos desde a influencia arquitetônica, as quais se refletem em traços característicos principalmente em templos e também a implantação do sistema hipodâmico nas cidades, ou seja, o axadrezamento das ruas(constituindo as quadras como as conhecemos hoje); até as influências que refletiram mudanças nas áreas da política, das artes e uma introdução do pensamento filosófico. No campo científico o livro retrata o período em que nomes como Platão, Heródoto, Tucídides, Arquimedes e Pitágoras deram suas contribuições que soa vistas no nosso dia-a-dia, seja na história, na matemática ou também na filosofia. Gerando avanços que dominaram áreas como a mecânica, os estudos de geometria, os engenhos de guerra e até a descoberta da razão.

Esta obra leva o leitor a analisar mais profundamente a questão da difusão da cultura helênica, e como ela nos afeta atualmente, além de propôr ao estudante da Antiguidade uma panorâmica mais prática do que foi este período de contatos entre culturas distintas.


Títulos dos trechos selecionados: “Factos e lendas anteriores à colonização grega” e “A obra dos gregos no Ocidente”.

Trecho:
Quando no decurso do século VIII a.C., os gregos da Eubeia se fizeram ao mar para fundarem as primeiras colônias no Mediterrâneo Ocidental, já não se estavam a aventurar pelo desconhecido, por mares onde os gregos não houvessem navegado. É certo que era um empreendimento ousado e arriscado vogar rumo ao Ocidente para não mais voltar, na intenção de fundar uma nova polis grega que não reproduzisse em terra alheia aquilo que haviam deixado para trás. A nova polis , com efeito, tal como as páginas seguintes o hão-de demonstrar, tendia a reproduzir com demasia fidelidade os vícios, e também as virtudes das cidade- estado grega, mas os colonos, neste caso, não iam como Os Pilgrim Fathers à procura de uma terra onde não existisse a perseguição, em que sua colônia pudesse vir a ser uma versão aperfeiçoada da cidade que lhe dera origem. Os colonizadores gregos procuraram estabelecer o mesmo modelo de sociedade numa pátria nova, demandando principalmente mais espaço para viver e terras mais vastas para agricultura e pastoragens. Ao partirem devem ter-se apoiado em conhecimentos geográficos adquiridos pelos mercadores cujos barcos, ao tempo, já começavam a conhecer os caminhos para os portos mais importantes dos mares do Ocidente.

Este comércio não podia, antão, ser grande. Como se verá adiante, é duvidoso que tenha, por si só, constituído a razão de ser destas colônias e também não se sabe ao certo qual o volume de intercambio comercial efectuados antes da chegada dos colonos aos locais que vieram a ser ocupados.A importância anteriormente dada a esses factores necessita de ser revista. Todavia, até os mais antigos viajantes não fizeram senão uma coisa: seguir uma rota já consagrada na tradição grega, tradição esta que teria tido provavelmente a sua origem no começo da fase micénica e na presumível colonização do Ocidente por Micenas.(...)

Até que ponto se deve postular uma autêntica colonização, de preferência a um comércio de particular intensidade, eis uma questão que permanece me aberto. Talvez os especialistas estivessem sobremaneira ansiosos por identificar colônias onde apenas existiram pequenos entrepostos comerciais. As importações e influências micénicas concentram-se, de um modo geral, em áreas bastante bem definidas, onde se desenvolveu o comércio entre o mundo Egeu e nativos particularmente avançados e receptivos. Em Tarento, a candidata a maiores probabilidades a colônia micénica regular, o quadro tornou-se bastante confuso com uma notável estratificação de achados de escavações efectuadas no princípio do século, em que se apresentavam associados no mesmo estrato fragmentos micénicos e protocoríntios.Isso levou T.J. Dunbabin a sugerir que “o contato com o Egeu não esteve interrompido por muito tempo, se é que chegou a haver uma rutura entre as importações micenicas do fim do século XIII e a vinda dos gregos”.Mas é muito possível que tivesse havido uma confusão na altura da descoberta da cerâmica.Aqui como em outros lados, parece que foram quebrados os contatos, aquando da derrocada do poder micenico na Grécia.Ficaram alguns traços da influência egeia em certos usos e estilos arquitetônicos e cerâmicos, mas só a partir da fase final do Período Geométrico da Grécia é que a cerâmica de manufactura grega principiou outra vez a tomar o caminho do Ocidente.

Entretanto o Ocidente povoara a memória dos Gregos, tornando-se uma terra de maravilha e aventura. O apelo dos seus encantos lendários foi sem dúvida um dos vários fatores que os levaram a estabelecer-se aí no “período da colonização”, pois nessa altura já o Ocidente estava consagrado nalgumas das suas principais narrativas tradicionais, e as épocas posteriores aumentaram e transformaram muito deste fundo lendário para servir os diferentes desígnios das respectivas gerações, adaptando determinadas narrativas, de modo a exaltar uma tradição local, a explicar um costume ou a reinvidicar origem antiga e nobre para uma família ou cidade. Torna-se assim, bastante difícil deslindar as diversas versões nas suas várias fases para descobrir qual a base histórica, se alguma existe, que se lhe pode atribuir.(...)

A história dos gregos no Ocidente não é portanto apenas elucidativa, como foi para Platão e Aristóteles, por ilustrar os pontos fracos da democracia e pelos muitos e repetidos exemplos da desagregação do pior de todos os sistemas: a tirania. Mostra ainda a polis grega exposta a todas as provocações a que os caprichos da história pouparam as cidades da península grega, e com esta revelação dos seus defeitos poderemos talvez vencer determinada atitude de preconceito que, a considerarmos somente a Grécia, bem pode deturpar o nosso juízo.

O gênio grego assim propagado tem para nós um sentido - e não porque aprendamos com a história da Grécia ou beneficiemos dos exemplos das virtudes e dos vícios dos gregos: uma tal visão utilitária nem sempre é defensável e séria, possivelmente, aplicável a qualquer período da história ou mesmo a qualquer povo. Os princípios da cultura ocidental e as premissas do pensamento do Ocidente repousam sobre alicerces que os gregos lançaram, e o nível de suas realizações oferece como sempre ofereceu um permanente enriquecimento a quem quer que as procure - quanto mais tenaz for a demanda, maior será a recompensa. E aqui, pela oportunidade de procurar e pelo valor do prêmio alcançado, seja-nos permitido registrar o tetemunho de uma particular gratidão devida aos gregos do Ocidente.

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