BLOCH, R. Origens de Roma. Lisboa: Verbo, 1966.

Nome do aluno: Jonathan Afonso Braun

Resenha:
No livro de Raymond Bloch, nos é apresentado um texto que visa refletir as origens de Roma com tal, e discutir diferentes pontos de vista em torno deste assunto.

No ponto de vista do autor é tolerável a hipótese da fundação de Roma por Rômulo, no século VIII a.C., mas existe uma dificuldade para falar a respeito destas origens, já que os historiadores desta época supervalorizavam o Império, relatando fatos que na sua maioria legitimavam o nacionalismo já formado. É importante também ressaltar as lendas da Antiga Roma, que segundo o autor, é necessário estudá-las e interpretá-las, para posteriormente classificá-las como ficção, ou como tendo um fundo verídico.

Em sua obra o autor mostra um grande embasamento nas falas de Tito Lívio, citando ao longo da leitura diversas falas desse historiador. Também demonstra uma forte ligação com a Arqueologia, buscando através de argumentos e fotos caracterizar a cerâmica, as moradias, os templos, etc. deste cotidiano. Principalmente neste caso trabalhando com as descobertas de Boni e Vaglieri.

Há também uma crítica do autor aos historiadores e estudantes da História Antiga, que analisam a história de Roma de forma superficial ou inadequada, negligenciando fatores de suma importância para o entendimento da formação dessa cidade. Essa crítica é direcionada aos estudantes dessa cultura que não interpretam corretamente as lendas, ainda acreditam na formação da cidade romana por si só (o que é desmentido ao longo do livro), dentre outras falhas citadas.

Em seguida, o tema abordado é a permuta econômica e cultural que Roma realiza com diferentes regiões, e que posteriormente desencadeou o seu desenvolvimento. Como por exemplo, a influência dos gregos (helenização), que inicialmente trouxerem ao sul da Itália o ensino, a filosofia, a poesia, a arquitetura civil e militar e as artes em geral.

Na arquitetura, no inicio da civilização romana vemos moradias rústicas e sem maiores ornamentos, era a chamada arquitetura vilanovense, que depois de um determinado avanço foi substituída por edificações de melhor qualidade e com o toque artístico dos gregos. No quesito organização da cidade há a influência etrusca. Essas questões levaram a um avanço nos centros urbanos romanos, os modificando quase que completamente.

Na questão das artes também há uma significativa mudança, como é mostrado pelo autor; há uma grande difusão da poesia e das peças teatrais dos gregos, uma introdução da literatura dos povos latinos e o inicio do cultivo de entidades mitológicas.

A religião em Roma, quando tratada, nos mostra que, anteriormente a colonização grega e a dominação etrusca, a presença de deuses e de uma mitologia era quase nula nesta sociedade, mas após esses ocorridos há um inicio dessas crenças. Tanto que anos após foram relatados a presença de diversos deuses (ex: Júpiter) e até mesmo rituais com sacrifícios humanos. Essa religião era normalmente baseada no conceito de sagrado e profano, baseando um equilíbrio estabelecido pelos deuses perante os homens em seu destino. Havia a divisão das cerimônias em três classes: res sacrae, destinada aos deuses superiores, res religiosae, dedicada aos deuses inferiores, e o res sanctae que eram dedicados as coisas colocadas sob a proteção de um deus, como as muralhas de Roma.

A língua falada em Roma também é um dos assuntos abordados, diante disto o autor expõe o quão complexo é o tema, visto que as influências foram muitas, para citar apenas as mais relevantes temos o latim, o indo-europeu, o osco-umbro e o grego. Sendo que normalmente havia importações de palavras etruscas e gregas para o latim românico.

O direito romano mostra em muito ser influenciado pela religião da época, pois até meados do século V o direito era exclusividade dos pontífices, quando foi estabelecido a Lei das Doze Tábuas, que garantia ao povo romano tais direitos a partir desse decreto.

Essa ligação era tão próxima que temos uma citação do autor que a exemplifica: “Numa Pompílio determinou que quem ao lavrar atingisse a delimitação dos campos seria oferecido aos deuses, assim como os bois.” Isso nos leva a crer que as linhas divisórias tinham caráter sagrado.
A proposta do autor se atém a mostrar ao leitor como a antiga história de Roma nos aparece hoje e a influência das ciências auxiliares como a epigrafia e a arqueologia exercem em linhas evolutivas que antes julgaríamos impossíveis de serem estudadas.


Título do trecho selecionado: “Roma desde 700 até ao século V a. C.”

Trecho: As escavações da Roma arcaica demonstram amplamente o alto nível criador que no domínio da arte se alcançou durante o período etrusco. As terracotas arquitetônicas são comparáveis as que em grande número se encontravam em Veios e Cere. Em Roma, como nessas cidades, as figuras decorativas dos templos devem ter formado uma galeria magnífica de imagens de heróis e de deuses. Durante o período que estamos tratando, as produções do Lácio apenas diferiam dos da Etruria porque denunciavam certa faceta de provincianismo e com freqüência uma agradável simplicidade na maneira de tratar os grupos e expressões de rosto. Mas essa particularidade e mais acentuada em centros como Lavínio do que em Roma.

Em arte Roma aproxima-se muito da Etruria, o que e frequentemente salientado pela tradição.Certas características dos relatos dizem respeito a aspectos importantes e gerais da arte etrusca como um todo, e não da arte puramente romana. É bem conhecido que a inflluência grega teve um efeito profundo em artistas toscanos nos diferentes períodos de sua história. Alguns especialistas, chocados por essa constante interdependência,concluiram que a arte toscana era inteiramente desprovida de originalidade, sendo apenas um mero reflexo provincial da arte grega.Tal conclusão é forçada e, com certeza incorreta.As obras etruscas não são meras cópias servis das obras gregas, e não é preciso mais que passar de uma sala grega para uma etrusca, em qualquer museu para nos darmos conta disso. A Grécia era sem dúvida uma fonte de inspiração, mas não asfixiou a originalidade do caráter totalmente diferente da Etruria.

A Etruria importava constantemente produções de toda a espécie, e é preciso ter em mente esses modelos para apreciar as reacções etruscas no que lhes respeita. Mesmo para Roma, tenhamos isso presente, foram importadas durante o período etrusco grandes quantidades de vasos áticos, primeiro com figuras decorativas a preto e mais tarde a vermelho. A análise dos textos fornece mais alguns pormenores que indicam a presença de imigrantes gregos na Etruria, e associam essa presença ou com a propria família real ou com a decoração de um ou outro edificio sagrado.

Segundo Plínio, o Velho(XXXV,152 e 154), Demarato, pai de Tarquínio, o Antigo, veio de Corintio para a Etruria acompanhado de koroplathoi com os respeitáveis nomes de Eucheir, Diopos e Eugrammos. Foram estes os três artistas que, segundo se aceitava, ensinaram a Itália a arte da escultura de terracota, em que eram mestres. Não podemos, evidentemente, determinar exactamente o que há de verdade nesta lenda. Mas ela reflecte, sem dúvida, a profunda influência exercida pela arte pelonoponésia de Corintio na arte etrusca em geral desde o seculo VII a . C. Há mesmo uma coincidência curiosa entre as datas de Plínio e as estabelecidas pela arqueologia. A tradição fixa em 616 a data da subida ao trono de Tarquinios, o Antigo, o que situa a chegada a Itália de seu pai e dos artistas coríntios que o acompanhavam mais ou menos em meio do século VII a . C. Ora essa é precisamente a data em que os pequenos vasos de perfume chamados protocorintios comecaram a aparecer em território etrusco e em Roma; isto prova que havia relações comerciais com Corintio, por um lado, e com a Etruria e o Lácio, por outro. Posteriormente, os vasos corintios continuaram a ser importados por bastante tempo, e grande quantidade de uma cerâmica, deles deriva a conhecida como ítalo-corintia ou etrusco-coríntia, passou a ser trabalhada no próprio local. Pode-se deduzir daqui que, quando a lenda fala da chegada de artistas coríntios antes da dinastia tarquiniana, corporiza uma influência artística real e profunda de que tanto Roma como o Lácio e a Etruria beneficiaram.

Houve de facto pequenas colônias de comerciantes gregos que viviam em diversas partes da Etruria durante o período arcaico; a sua presença é atestada pela epigrafia desde uma data muito remota em Cere e mais tarde em Espina, a cidade etrusca da foz do Pó. Foram encontrados na Etruria objectos que só de uma oficina grega poderiam ter vindo; tais são as famosas hydriai, com figuras decorativas a preto, feitas em Cere por um grego da Jônia Asiática, que provavelmente veio para a Toscana em meados do seculo VI a .C. Com respeito a Roma, temos a informação exacta dada pelo proprio Plínio, o Velho. Um templo consagrado em 493 a .C., e por isso de certeza quando Roma estava ainda sob a influência etrusca, foi decorado por dois artistas gregos. O templo era de facto um santuário dedicado a três divindades da fertilidade, Ceres, a antiga deusa da agricultura, e Liber e Libera, que presidiam a reprodução animal. Uma tese recente analisa em pormenor a origem desta associação e o caráter do novo templo, que havia de tornar-se imensamente popular entre os plebeus. Dois artistas gregos, cujos nomes sabemos por Plínio, levaram a cabo a decoração desta forma: ”os famosíssimos modeladores eram Damofilo e Gorgaso, que também eram pintores. Ornamentaram o templo de Ceres, em Roma, junto do Circus Maximus, com os seus trabalhos nas duas artes e indicaram com uma inscrição em verso grego que o trabalho da direita era de Damofilo e o da esquerda era de Gorgaso” (Plínio, XXXV, 154).

Era absolutamente normal na Etruria e no Lácio mandar fazer tal decoração plastica e pictórica dos gregos; a sua cultura artística era nessa altura profundamente influenciada pela Grécia indicara isso a helenização nessa data remota de cultos agrários de origem e caráter tipicamente latinos? Hesitaria em tirar semelhante conclusão. Bastara dizer que uma decoração dessa especie, tanto ao gosto do tempo, podia Ter facilitado a helenização posterior dos deuses e da religião.

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