SHERRAD, P. Bizâncio, Rio de Janeiro: Livraria José Olympio,1970.

Nome do aluno: Jonathan Afonso Braun

Resenha:
Nesta obra Sherrard nos mostra mais uma das fases do Império Romano, a época do império Bizantino, nos deixando claros seus atributos e principais características.

Desde o início é ressaltado que a base e a essência da vida bizantina é o cristianismo, que junto com a metamorfose do Império Romano forjam o nascimento de tal civilização. Influenciado pelos ideais de Diocleciano, Constantino é aclamado Augusto e tente reerguer o Império Romano, uma de suas primeiras medidas é mudar a capital para outro local, e este local foi a pequena cidade de Bizâncio, construída por gregos em torno do século VII a.C. A partir daí inicia-se um período de turbulentas e exageradas ações dos imperadores, como a desenfreada construção de edifícios enormes e imponentes, assim como a introdução do pensamento cristão e, de início, a sua tolerância visto que a mãe de Constantino era cristã.

Muitos autores relatam que de 400 a 1400 o avanço cultural foi praticamente nulo, principalmente no campo das artes e das ciências, Sherrard discorda completamente deste prensamento, adicionando uma severa crítica à historiadores como Willian Lecky; que diz o período bizantino ser monótono e de pouca prosperidade.

Nesta questão de avanços, o autor foca-se principalmente em quesitos arquitetônicos, como os mosaicos, as formas, os prodígios de engenharia e a exacerbadão de detalhes empregados principalmente em edifícios religiosos. O exemplo mais relevante, e que, até hoje pode ser admirada é a Igreja Hagia Sophia, que sofreu muitas reformas desde a sua construção até os dias de hoje.

Em seguida, o tema abordado é o cotidiano do povo bizantino. Neste tópico, o autor mostra as principais atividades da época, como os ofícios de sapateiro, músico ou a questão dos bazares, todos esses podendo ser encontrados na rua, ou seja, ambulantes. Há também a questão das mulheres, que agora ocupam um lugar privilegiado na sociedade, com diversos direitos estabelecidos pelo Estado. Outro ponto analisado é o exército bizantino, que era considerado a melhor força combatente do mundo, legitimado por seus oficiais especialistas estratégicos e pela proteção divina oferecida aos soldados. E, ainda, há uma fala a respeito do pão e circo, que se tratava dos banquetes e espetáculos oferecidos pelo imperador ao povo. Estes espetáculos geralmente se davam no Hipódromo, uma construção gigantesca capaz de acomodar cerca de 60000 espectadores, e normalmente se tratava de corridas, caças simuladas,desfiles de animais exóticos ou representações de dramas sacros. A presença da religiosidade era tão forte que em alguns períodos, como o de Justiniano(o imperador que nunca dorme), a unidade estatal e religiosa era considerada uma só.

Tratando do imperador em si, a obra nos mostra que este era tratado como a presença divina na Terra. E assim como ele era indicado ao trono, poderia ser abdicado a qualquer momento, pela “vontade divina”, sendo em alguns casos condenados à mortes terríveis, como se deu ao longo de um determinado período, onde 29 imperadores morreram sendo torturados, mutilados, etc. Os imperadores mais trabalhados são Constantino, Justiniano e Basílio, o Magnífico, devido aos seus feitos de suma importância.

Ao final é feito um paralelo entre o período bizantino e os dias atuais, nos mostrando, que grande parte da cultura latina descende de certa maneira desse período; tais como as estratégias de guerra, o Direito reformado por Justiniano, a própria religião católica, além da introdução de um novo estilo decorativo arquitetônico.

O principal objetivo do autor é, justamente mostrar que o período bizantino teve sua importância principalmente para a sociedade latina como a vemos hoje; além de estimular o leitor a procurar estudos mais aprofundados.


Título do trecho selecionado: “A Nova Roma”.

Trecho: Durante muito tempo a visão geral da história da civilização ocidental relegou a plano secundário uma das épocas mais fascinantes e influentes do passado da humanidade. È digno de nota que Bizâncio, vasto império e esplêndida entidade cultural que durou mais de um milênio, tenha sido menosprezada pelo maioria dos historiadores do Ocidente.

Segundo essa visão geral, a civilização ocidental teve suas origens na Grécia antiga. Atrás do próprio mundo grego antigo jaziam as impressionantes, ainda que as vezes sombrias, formas de outras várias civilizações - entre elas Assíria e Egito, Índia e Creta minóica. Mas foi na Grécia Antiga que os elementos vitais dessas civilizações mais primitivas se fundiram num padrão de vida civil e cultural que hoje reconhecemos como especificamente ocidental. Contudo, não souberam os gregos concretizar seu pensamento político numa escala mais ampla do que a da cidade-estado. Embora rompesse o limites do mundo grego clássico e difundisse a cultura grega pelas terras da Anatólia, Síria e Egito, não logrou Alexandre Magno criar uma organização política apta a unir os numerosos povos que havia conquistado.

Só três séculos mais tarde, com a ascensão do poderio romano e a consolidação do domínio romano, foi que a civilização ocidental adquiriu pela primeira vez um modelo para a ordem política. Roma absorveu e preservou a cultura e a educação gregas dentro de uma estrutura política que se estendia de York, na Britânia, a Alexandria, no Egito, do Atlântico ao Eufrates. Mas era um império fadado a desintegrar-se. Após cinco séculos, entre o IV século e princípios do VI, os grandes chefes bárbaros- Alarico, Átila, Clóvis e Teodorico – entraram impetuosamente na Itália e em outras partes do império, no Ocidente. As velhas classes dirigentes de Roma foram destruídas, e o Ocidente mergulhou naquele período de sua história conhecido pelo nome de Idade Negra.

A grande fase seguinte, nessa visão geral da civilização ocidental, é representada pela Renascença, e pelo revivescimento da erudição e da cultura ocorrido na Itália e em outros lugares a partir de 1400. A “redescoberta” da literatura e da arte do antigo mundo greco-romano, escondidas durante tantos séculos sob um manto de ignorância e incultura, decretou o fim da Idade Média “obscurantista” e preparou o caminho para o aparecimento do moderno mundo ocidental.

Nessa esquematização dos fatos há como que uma estranha lacuna ou hiato entre o declínio do Império Romano e o despontar da Itália Renascentista. O mundo civilizado parece ter sofrido um eclipse. Nem mesmo as pompas da corte de Carlos Magno e o esplendor da erudição medieval têm importância. Presume-se que de 400 a 1400 o progresso das artes e ciências, e em verdade de toda a vida cultural, esteve paralisado.

Tal versão da história é mais que uma super-simplificação: é uma deturpação. Porque entre o velho Império Romano e a Renascença situa-se a grande época de Bizâncio. Durou ela onze séculos e constitui-se numa ponte estratégica entre a antiguidade e o mundo moderno. Não somente preservou os dois elementos unificadores do Império Romano- a organização jurídica e estatal romana e a tradição herdada da cultura helênica- como ainda acrescentou uma terceira e até mais poderosa força organizadora: o cristianismo.

Em verdade o que espanta não é que Bizâncio seja “redescoberta” hoje em dia, mas que tenha passado tanto tempo amortalhada em mistério e equívocos. Há, com efeito, uma parte considerável do mundo que vê em Bizâncio a fonte máxima de sua linhagem cultural: os balcãs e a Rússia ocidental. A esses setores da Europa, mais do que a qualquer outros, Bizâncio(que caiu em poder dos turcos em 1453) transmitiu seu rico legado de tradição e invenção. A religião ortodoxa cristã, o alfabeto cirílico, o próprio modo de viver desses povos remontam as origens bizantinas.

Notáveis entre as contribuições de Bizâncio para a Europa Oriental e Ásia Ocidental são seus reluzentes mosaicos, e as formas arquitetônicas, os prodígios de engenharia, patentes em suas igrejas - estruturas fulgurantes, multifacetadas, ainda hoje construídas nessas mesmas áreas segundo os mesmos princípios. Nas serpeantes cordilheiras da Iugoslávia, nos extremos vales da Romênia ou nos desertos sírios, onde quer que avistemos as muitas e majestosas abóbodas e cúpulas de uma igreja de pedra, temos também de proclamar a dívida para com o gênio dos construtores bizantinos que foram os primeiros a estabelecer tal hierarquia de formas.

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