FEIJÓ, M. A Democracia Grega. São Paulo: Ática, 1988

Paula Mariana Morandi

Resenha:
O autor Martín Cezar Feijó, nesse livro procura demonstrar de forma narrativa os principais pontos da democracia grega, tendo como personagens principais os irmãos Glauce e Teodoro, que vão em busca da resposta pela condenação de Sócrates.

Tudo começa quando Glauce vai até ao Partenon com o intuito de “conversar” com a deusa Atena, mas acaba ouvindo uma conversa onde discutiam sobre o julgamento de Sócrates. E ao descobrirem a jovem ali pediram que ela se retirasse do local, então ela foi para sua casa no bairro Cerâmico, que tinha esse nome pelo fato de possuir muitos artesãos. Chegando em casa, conta ao pai que julgariam Sócrates, usando o argumento que ele prejudicou a democracia, enquanto isso Ariston explica que Sócrates é um pobre-coitado que não cobra nada para ensinar, que também é físico. Então questionaram Glauce se ela reconheceria os homens que falavam sobre isso, ela disse que sim, mas os lugares que eles freqüentam mulher não podia entrar, então disfarçaram-na. Um dos lugares era a Assembléia do Povo, que era a principal instituição da Democracia, a sessão iniciava após o sorteio de um dos membros do Conselho dos Quinhentos. Mas Glauce e Teodoro ficaram com aquela dúvida sobre o porque da morte de Sócrates e foram buscar ajuda no oráculo de Delfos, um oráculo no povoado de Delfos onde os gregos faziam consultas para tirar as dúvidas e descobrir o futuro, então eles foram até Apolo para fazer a pergunta levando a cabra para o sacrifício, após a consulta descobriram que Sócrates se sairia muito bem no julgamento, mas não descobriram o porque do julgamento, mas foram orientados a procurar o filósofo.

Então, no outro dia foram até a Agora do Cerâmico, e como chegaram cedo avistaram Sócrates em companhia de seus discípulos, e o questionando, Sócrates os contou a história de Hipólito, e saíram da Agora acompanhados por Platão e a dúvida sobre o julgamento continuava. Seguindo os três para a casa de Platão, ele os contou que Sócrates vinha sendo acusado da crise democrática em Atenas, e explicou que ele era muito teimoso, que muitos tentaram reverter a situação, e que queria passar pelo julgamento. Então Sócrates os chamou para participarem do julgamento no dia seguinte.

No tribunal, quando todos os acusadores haviam discursado, Sócrates ironicamente respondeu que as acusações eram ridículas e que não tinham nenhum motivo para estarem as fazendo. Então Glauce põe-se a chorar desesperadamente e é descoberta, então saem do tribunal expulsos e com a certeza da condenação do filósofo.

Um ano após a condenação Glauce estava sentada no teatro de Dionísio assistindo a uma tragédia, onde os atores cobriam seus rostos com máscaras, e faziam uso de sandálias com salto alto para serem vistos por toda a platéia, que ao término retirou-se emocionada com a apresentação, mas Glauce permanecia esperando Teodoro, quando se encontraram, Platão se aproximou deles, contente por poder revê-los após a condenação de Sócrates, dizendo que ele mereceu tomar a cicuta, e que morreu com muita serenidade. Platão então aproveita para convidá-los a participarem da sua Academia de Atenas, recebendo uma resposta positiva de Glauce.

E com esse livro passei a entender melhor não só a democracia grega, mas também como se organizava e se mantinha a sociedade grega, numa linguagem bem simplificada, onde o entendimento é certo.


Trechos Selecionados:

“A evolução de Atenas”

Com o estabelecimento dos jônios na planície da Ática, próxima do mar Egeu, se consolidou uma comunidade baseada numa grande família: o genos. A propriedade da terra era coletiva, e o trabalho, dividido por um sistema de rodízio, na agricultura, cerâmica ou metalurgia. O chefe desta comunidade era o basileus, uma espécie de “pai”.

O basileus organizava o rodízio do trabalho, as festividades religiosas e armazenava as armas para um caso de guerra.

Só que o aumento populacional acabou por provocar uma crise nessa comunidade. As técnicas de produção não se inovavam, o terreno era pobre, e o que se produzia não acompanhava o ritmo das necessidades. A escassez de produtos começou a gerar lutas na comunidade pelo acesso da fonte principal de riqueza: a terra.

Nessas lutas entre os membros de uma mesma “família”, foram beneficiados os que estavam mais próximos do basileus, que detinha não somente as armas, mas a capacidade de organização.
Assim, uma minoria armada e organizada passou a submeter uma maioria desarmada e desorganizada. Uma parte da população ficou com as terras e com o poder. Outra, ficou sem nada, dedicando-se ou ao artesanato ou à procura de outras terras e ilhas para colonizar. E, por fim, a maioria, que foi submetida a trabalhar compulsoriamente, como escravos, nas terras dos que se impuseram sobre os demais.

A sociedade era igualitária, em alguns séculos se tornou uma sociedade diferenciada em classes: os que tinham poder e terras (que se deram o nome de eupátridas, que em grego quer dizer “filhos do pai”, adquirindo o significado de “bem-nascidos”), os trabalhadores manuais e comerciantes, e os escravos.

Os eupátridas formaram o governo e passaram a habitar próximos uns dos outros, dando origem à cidade. Como se consideravam os “melhores” (aristoi, em grego) deram o nome ao seu governo, onde somente eles podiam participar, de aristocracia (“governo dos melhores”).

No século VII a. C., Atenas teve um desenvolvimento comercial e urbano muito intenso. Uma outra classe de homens livres se desenvolveu: a dos comerciantes, que realizaram as trocas entre o que se produzia artesanalmente em Atenas e as ilhas e colônias gregas (na Ásia Menor ou mesmo na Itália). Só que essa classe de homens livres, mais os pequenos proprietários de terras (os que ficaram com as piores terras, as montanhosas) se sentiam prejudicados pelos eupátridas, que não se interessavam pelos seus problemas. E passaram a lutar pela participação nas decisões do Estado ateniense.

Dessa luta nasceu a democracia grega.

“O nascimento da democracia grega”

A reforma política de Clístenes foi a mais radical até então: ele estabeleceu finalmente direitos iguais para todos os cidadãos livres e nascidos em Atenas.

Diferentemente do regime aristocrático de Clístenes não dividiu a população pelo critério de nascimento. Também diferentemente de Sólon, não dividiu a população pela riqueza. Para estabelecer critérios de participação, Clístenes dividiu a população em bairros, que eles chamavam de demoi.

Atenas foi dividida em dez regiões, equilibrando-se as áreas urbanas, litorâneas e das montanhas. Pelo sistema de sorteio, ele formou a nova Bule, que passou a ter quinhentos membros. O Conselho dos Quinhentos praticamente governava Atenas por um prazo de um ano. E qualquer cidadão poderia ser sorteado. Mas a Assembléia do Povo é que era soberana em todas as questões. Com isso Clístenes estabeleceu uma nova forma de governo em que os demoi é que detinham o poder. Daí o nome do que ele criou de “governo dos demoi” – democracia.
Todos os cidadãos tinham direitos iguais, sendo que por cidadãos entendia-se: os que tivessem nascido em Atenas, tivessem cumprido o sérvio militar de dois anos, dos dezoito aos vinte anos, fossem livres e do sexo masculino. Clístenes é o criador de uma forma de governo em que as decisões políticas eram sempre coletivas.

Posteriormente, outras reformas foram acrescentadas à democracia ateniense: na época de Péricles (444 a. C. – 429 a. C.) foi instituída a remuneração pela participação na vida pública. Era uma forma de estímulo à participação política do cidadão mais pobre. Esse é também o período em que mais se desenvolveu a cultura em Atenas: na arquitetura, na escultura, na filosofia, no teatro etc.

“Sócrates e a democracia grega”

É claro que o desenvolvimento do pensamento de Sócrates em grande parte deveu-se a esse clima e a essa condição: Atenas era uma cidade em que tudo se discutia livremente e de forma apaixonada. O conhecimento se desenvolve melhor em condições democráticas. Mas, ao mesmo tempo, Atenas tinha muitos problemas, a começar por ser sustentada pela pior forma de exploração do trabalho: a escravidão. Atenas também vivia às custas das cidades que dominava. Isso fazia com que essa democracia, embora perfeitamente teoricamente, fosse frágil. Havia um poder invisível por trás daquela liberdade que não admitia questionamentos e dúvidas. Os interesses eram muito fortes.

E Sócrates com sua desconfiança de tudo, fazia ver que a democracia grega não era completa. Faltava alguma coisa que nem mesmo ele sabia. Por isso duvidava de tudo. Pagou com a sua vida o preço de suas dúvidas. Para nós, tantos séculos depois, e que ainda lutamos no mundo por uma democracia plena, o que fica é um valioso ensinamento: precisamos conhecer melhor a democracia grega e o pensamento de Sócrates. Eles ainda pertencem ao nosso cotidiano.

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