BEEK, M. A. Beek. História de Israel. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1967

Paula Mariana Morandi

Resenha: O autor neste livro, busca contar a História de Israel, através da explicação de todos os governos, assim como seus governantes. Mas não de uma maneira que simplesmente pareça uma repetição bíblica, mas valendo-se também de descobertas arqueológicas e textos extrabíblicos. Porém há uma grande dificuldade em se classificar a autenticidade desses textos, principalmente aos períodos que se relacionam com Moisés, e para construir a História de Israel, deve-se tomar por base todas as fontes disponíveis, fazendo nelas um exame crítico, o autor procurou apresentar uma história baseada nos relatos mais recentes, sendo a obra um resumo histórico.

A parte mais importante ocorre na Palestina, que fazia parte da “Crescente Fértil”, e a fertilidade de suas terras, a situação geográfica, e o potencial econômico influenciaram na história de Israel. Os israelitas preservavam muito a memória de suas origens, dando êxito aos Patriarcas, que eram nômades pastores, mas que permaneceram a maior parte do tempo na Palestina, sendo a existência confirmada pelos inúmeros altares e pedras sagradas. Moisés é uma figura muito importante, é considerado um libertador, porém sua vida ainda é um mistério, sabe-se que viveu no tempo do êxodo israelita do Egito, mas em virtude dos poucos dados cronológicos, resolveram negar a realidade histórica dele, afirmando apenas sua referência da origem levítica, comprovando talvez que a narrativa bíblica foi “maquiada”, onde se diz que ele foi um um grande legislador e agente de Deus.

Antes de ser um reino, Israel era governada por Juízes, que tinham poderes restritos a pequenas partes na Palestina, e tudo que ocorria hoje é conhecido através do Livro dos Juízes, que continha as reivindicações, lendas tradicionais que se associavam aos lugares sagrados. Israel, em certa parte de sua história, foi dominada pelos filisteus, sendo Samuel quem abriu caminho para o estabelecimento do futuro reino, distribuindo justiça e construindo um grande altar em veneração ao Senhor. Samuel era juiz quando o povo manifestou a necessidade de um rei como governante, então ele ungiu Saul, que era filho de uma família tradicional e respeitável, e que juntamente com seu filho Jônatas, e um pequeno exército, libertaram a Palestina dos filisteus. Quando Saul disse que estava com a alma inquieta, foi-lhe enviado ao seu reino, Davi que com sua harpa afastaria os males do rei, e diz a lenda que ele derrotou o gigante Golias com apenas sua audácia. Em virtude de sua grande amizade com Jônatas, eles fizeram por assim dizer um pacto de irmandade, que levou Davi ao poder. Davi foi sucedido por seu filho Salomão, que teve um reinado com poucos conflitos e tragédias, reunindo muitos tesouros em Jerusalém, e é lembrado hoje como um homem de muita sabedoria. Em seguida, temos Roboão, que ao assumir o poder, aumentou a divisão entre os reinos sul e norte, enfraquecendo Israel em virtude dos conflitos internos.

O Império Persa se desenvolveu em uma enorme região, e os seus reis governaram toda a Palestina, Jerusalém era considerada uma capital persa, deram autonomia mas não independência a Judá e eles tiveram dificuldade em aceitar a dependência a um povo estrangeiro. Após a decadência do Império Persa, Esdras e Neemias tentaram obter autonomia sobre Judá, e obtiveram êxito, o Império Persa também abriu caminho para os gregos. Após a morte de Alexandre Magno Jerusalém foi cedida aos Ptolomeus.

E durante “A Guerra dos Macabeus”, um conflito entre judeus piedosos e governantes Macabeus, do domínio Romano, deu-se a destruição de Jerusalém, então os Judeus se concentraram nos países do Mediterrâneo, mas revoltas contra os romanos e a população local eram freqüentes, templos foram fechados, alguns explicam que ocorrerem também pelo edito de Adriano contra a circuncisão, e outros afirmam que foi a decisão de Adriano de reconstruir Jerusalém.

No colapso da revolta de 135 D. C. Israel deixou de ser uma nação e em 14 de maio de 1949 o país virou um estado judeu.


Trecho Selecionado:

“A Conquista da Terra Santa”

Os relatos bíblicos da permanência de Israel no deserto dão a entender que a primeira tentativa de entrar em Canaã foi infrutífera: “ E desceu o amalecita e o cananeu, que habitavam no monte; e tendo-os batido e retalhado, os perseguiu até Horma” (Num. XIV, 45). O fracasso é atribuído a disputas internas. Dentre os doze exploradores, somente Josué e Caleb aconselharam um ataque; os outros dez falaram de Canaã como “uma terra que devora seus habitantes” (Num. XIII, 33). Dizia-se que o país era habitado por gigantes (os filhos de Enac ou Enacim) e, por isso, além das possibilidades de invasores fracamente armados. A desmoralização que se seguiu à derrota forçou, provavelmente, as tribos a se manterem no deserto. Só muito mais tarde tentaram novamente conquistar a terra prometida, e, desta vez, foram bem sucedidos.

Não podemos deixar de notar as diferenças entre o avanço israelita na Palestina e as incursões habituais de nômades, levados pela fome, ou sede a uma pilhagem. As campanhas de Israel não foram incursões de saque, mas tentativas de encontrar um lar e pastagens permanentes. Esta diferença é devida a duas causas: a crença tradicional das tribos de que Canaã era a terra dos seus antepassados e o desejo (geralmente esquecido) de se unir às tribos aparentadas, existentes na região, o que ainda não foi completamente explicado pelos críticos.

Os dados não-sistemáticos, e muitas vezes revistos, do Pentateuco, dos Livros de Josué e dos Juízes não permitem uma reconstituição satisfatória dos fatos reais. Contudo, os dados bíblicos concordam, em geral, com os achados arqueológicos. Sabemos, hoje, que a Palestina, nos séculos XIV – XIII A. C., era constituída de um grande número de cidades-estado, habitadas por cananeus e governadas por príncipes e cortesãos, tal como tantos feudos medievais. Os princípios deviam obediência ao Egito, e os Faraós tratavam-nos suave ou asperamente, conforme a ocasião.

Nossas fontes históricas mais importante sobre o século XVI A. C. são as cartas de Armana, cerca de 350 documentos, remontando aos reinados dos Faraós Amenófis III (1413 – 1377) e Amenófis IV (Icnatão, 1377 – 1360). As cartas, plaquetas de argila com inscrições cuneiformes, eram escritas em acadiano oficial, exceto nas mensagens diplomáticas da Palestina, que continham muitos termos cananeus. Jerusalém era chamada de Urusalimu e havia referências aos Apiru – ou hebreus – um termo ali usado para descrever tribos sem terras próprias e, sem conseqüência, um aborrecimento para o governo. A impressão geral, produzida pelas cartas de Armana é que as cidades – Estados da Palestina estavam frequentemente em guerra entre si, de modo que a região toda estava num quase-caos. Verificamos, também, que, uma vez que importantes rotas comerciais se cruzavam na Palestina, iam pra lá muito mais estrangeiros do que para qualquer outro país do antigo Oriente. Os poderosos vizinhos da Palestina estabeleceram colônias dirigidas por mercadores que representavam os interesses de seus países. Entre os mais poderosos estavam os egípcios.

As cidades eram, em geral, pequenas, embora fortificadas por muralhas imponentes. A impressão que causaram nos atacantes é descrita em Deut. I, 28 e em Num. XIII, 28. Já que os errantes israelitas não dispunham de armas para um encontro com os cananeus em campo aberto, preferiam realizar uma campanha de guerrilhas nas montanhas. Assim, lemos em Juízes I, 19 que os israelitas não podiam expulsar os habitantes do vale “porque estes tinham muitas carroças falcadas”. Até muito mais tarde – no século IX A. C. – ainda se dizia na Síria que os deuses dos israelitas eram deuses das montanhas que só podiam ser derrotados na planície (III Reis XX, 23).

Os israelitas foram comandados, em Canaã, por Jusué, filho de Nun, servo de Moisés. Embora a Bíblia pouco nos diga sobre o homem propriamente, faz-nos um relato completo de sua estratégia. Aparentemente, os israelitas avançaram de três direções: do sul, da Transjordânia no leste e, finalmente, do norte.

Josué descreve os acontecimentos no setor leste, onde conta que Jericó e Hai caíram em poder dos israelitas. Sabemos, pelas escavações feitas nessas duas cidades, que Hai foi habitada de 3300 a 2400 A. C. e, depois, só quando os israelitas ali se estabeleceram em 1000 A. C. O problema de ajustar descobetas com a descrição de Josué VIII foi discutido pó Alt, que sustentou que o uso da frase “até ao dia de hoje” (Josué VIII, 29) classifica o relato bíblico como uma lenda, transcrita em tempos posteriores, e por W. F. Albright cuja sugestão (de que Hai foi, na realidade, Betel) é fundamentada na débil evidência de que Betel foi destruída por atacantes no século XIII A. C.

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