TOYNBEE, Arnold J. Helenismo. Rio de Janeiro: Zahar, 1969

Nome do aluno: Adreane Cavasin Ferreira

Resenha: Nesta obra, o autor faz uma interpretação e uma exposição dos principais momentos em relação ao desenvolvimento do helenismo na história de uma civilização: a Greco-Romana.
O autor nos conta num apanhado geral as maiores tragédias ocorridas numa civilização-a Helênica. O início de sua existência entre fins do segundo milênio a. C. até o século VII da Era Cristã, uma história em torno de 1.800 anos. Registrado como nascimento do helenismo a bacia do mar Egeu. Segundo o autor, o helenismo na sua essência não foi geográfico ou lingüístico, mas social e cultural (p. 19). Considera-se civilização helenística a que se desenvolveu fora da Grécia.
O autor apresenta a expansão da cultura helênica, primeiramente no Mediterrâneo, e depois com Alexandre o Grande, ela estendeu-se para interior, rumo ao leste e ao sul. A cidade de Alexandria, no Egito, tornou-se a metrópole da civilização helenística. Foi um importante centro das artes e das letras.

De um modo geral, o helenismo foi à concretização de um objetivo de Alexandre “o grande”. Que visava levar e difundir a cultura grega em todos os territórios conquistados. Por onde estendesse suas conquistas, pretendia que fosse centro da civilização grega. Essas cidades eram defendidas e administradas por gregos. A era helenística marcou a transição da civilização grega para a romana. Com a conquista do Império Persa, o impacto da cultura helênica se espalhou por outras cidades. Em Jerusalém, foi tão grande a influência dessa cultura que o Novo Testamento foi escrito em grego. O período de influência helenística na Palestina, apesar de muitas revoltas, ganhou força até na época de Jesus, tendo durado séculos.

Toynbee estuda o desenvolvimento das cidades-estados, e suas características presentes em outras civilizações. Sendo assim, o modelo destas cidades não pode ser considerado como uma característica presente apenas no mundo helênico. Inicialmente um dos traços principais da cultura helênica, considera-se a manifestação do culto ao homem.

Este livro é mais uma contribuição para adeptos da cultura greco-romana, pois revela a história de extensos períodos de guerras pelo poder, relatando feitos de grandes líderes e estrategistas de guerra. Como o caso de Felipe II e depois seu sucessor Alexandre o Grande, que com seu exército e sua cavalaria fiel, aniquilaram várias cidades, com o ideal de propagar o helenismo.
O autor, no decorrer do seu texto, nos mostra as dificuldades existenciais de uma civilização, tais como as formas de política nas cidades-estados helênicas. Mais adiante também nos fala sobre a emancipação das cidades-estados e o fim de uma cidadania que havia se tornado um fardo para a população. Destaca o meio social, citando alguns filósofos que tiveram papel de grande importância, fala do papel da mulher na sociedade helênica, e no campo da tecnologia, sobre nomes famosos como Amínias de Corinto, (o primeiro heleno a imaginar navios movidos pelos remos tríplices), e Teodoro de Samos, (o primeiro a fundir o bronze), porém os helenos, nesse campo, nunca foram pioneiros. Na literatura surgem vários poetas, que tratavam de temas como: “a experiência do indivíduo ao adquirir consciência de si mesmo” (p.58). Físicos como Tales de Mileto, dedicava-se a pesquisar sobre a natureza do universo material, principalmente a água.

Toynbee cita a cidade de Atenas, a mais desenvolvida das cidades gregas, que desde a fase de transformação social, já seguia seu próprio caminho. A Grécia viveu seu momento de maior esplendor cultural, nesse período, particularmente a cidade de Atenas. Época do auge da democracia, a cidade combinou guerra e desenvolvimento.

O autor nos mostra sua linha de pensamento sobre a monarquia e a federação, explicando porque não foi possível a unidade política que o mundo helênico tanto necessitava. Relata sobre um período marcado por extensas guerras em Roma. Como conseqüência surge à idade da agonia. Nos últimos capítulos da obra mostra o papel do cristianismo, que surge como marco para o fim da civilização helênica.

Este livro é uma contribuição expressiva para toda a sociedade, porque retrata os acontecimentos de uma civilização muito distante da nossa época, mas que deixou sua contribuição na cultura Greco-latina em todos os aspectos de vida humana. Como na arte, na filosofia, na ciência política, nas técnicas, na literatura, mas principalmente na religião.
A bibliografia completa utilizada para esta pesquisa, pelo historiador Arnold J. Toynbee encontra-se listada nas últimas páginas desta obra. Para facilitar o leitor em seus estudos foram separadas as traduções mais destacadas em nossa língua.


Titulo do Trecho selecionado: “O colapso do helenismo”

Trecho: A vitalidade desses elementos helênicos incrustados no cristianismo é ilustrada pela história do segundo renascimento dos povos orientais que se tinham revoltado contra o domínio macedônio nos séculos III e II a. C., e foram novamente dominados no último século a. C., pelos exércitos romanos. O reinício do contra-ataque oriental no século V da Era Cristã não tomou a forma de uma insurreição armada contra um poder secular helênico. Dessa vez a batalha foi travada no seio da Igreja cristã, e as armas empregadas, a teologia e a lingüística. Cristãos de língua síria, egípcia e armênia uniam-se contra os cristãos de língua grega e latina, adotando doutrinas diferentes sobre a natureza da Segunda Pessoa da Trindade Cristã, e usando as próprias línguas nacionais, ao invés do grego, como veículo da liturgia e literatura cristãs. Nessa segunda batalha, travada com armas culturais, os povos orientais tiveram êxito. A sudeste das montanhas Tauro, a língua grega e a versão “ortodoxa” grega da doutrina cristão se limitaram ao interior das muralhas de umas poucas cidades – Antioquia, Élia Capitolina (Jerusalém) e Alexandria – antes da conquista militar das províncias transtaurinas do império romano pelos árabes muçulmanos, no século VII da Era Cristã. Mas embora se rebelassem contra a língua grega e a hierarquia da Igreja “imperial” (Melquita), os povos orientais não fechavam seu espírito ao pensamento helênico. Traduziam para suas próprias línguas não só as obras dos Patriarcas Cristãos, como também os trabalhados dos filósofos helênicos e dos homens de ciência que haviam fornecido aos teólogos cristãos suas ferramentas mentais. Desse modo, o pensamento helênico propagou-se entre os vassalos orientais do império romano pelas Igrejas monofisitas, e entre os vassalos do império persa pela Igreja nestoriana. E quando ambos os impérios foram conquistados pelos árabes muçulmanos, os cristãos orientais, que se converteram à nova religião judaica do conquistador, proporcionaram ao islão uma teologia própria que derivava das mesmas fontes helênicas da teologia do cristianismo. As obras helênicas filosóficas e científicas que haviam sido antes traduzidas do grego para o siríaco passaram a ser traduzidas para o árabe, e o mundo islâmico continuou a aceitar a autoridade de Platão e Aristóteles, de Hipócrates e Galeno, mesmo depois que o mundo cristão ocidental se havia apartado do feitiço do pensamento helênico e começado a pensar por si mesmo.

Dessa forma, quando três novas civilizações – a cristã bizantina, a ocidental cristã e a islâmica – surgiram no que fora antes domínio da civilização helênica, todas três deram mostras da inspiração helênica que receberam através dos canais cristãos e islâmicos. De fato, todas três podem ser classificadas ao mesmo tempo como “helênicas” e “judaicas”. Uma civilização “helênica” pode ser tomada de uma erupção de explosivo espírito helênico que jaz enterrado, mas não extinto, sob sua superfície cristã ou islâmica. E, nos dias de hoje, a cristandade ocidental ainda sente os efeitos de uma erupção excepcionalmente virulenta – popularmente conhecida como a renascença – que começou na Itália, cerca de seis séculos atrás, e dali se propagou ao resto da cristandade ocidental e a outras partes do mundo, em conseqüência do recente processo mundial de “ocidentalização”. No campo das artes e ciências, a influência da cultura helênica redescoberta foi digerida e superada pelos espíritos ocidentais antes do fim do século XVII. No campo da política, um renascimento do culto helênico dos Estados locais idolatrados é, hoje, a religião dominante do ocidente e de um mundo que se ocidentaliza rapidamente. Disfarça-a apenas um tênue verniz de cristianismo, islão ou outras religiões altas. A história trágica do mundo helênico mostra que essa forma de idolatria é um fantasma do helenismo que abrigamos com risco. O mundo moderno deve afastar esse demônio, se deseja evitar a mesma sorte de seu predecessor helênico. (p. 220-222)

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