GRIMALDI, Pierre. A Mitologia Grega. São Paulo: Difel, 1958

Nome do aluno: Adreane Cavasin Ferreira

Resenha: Nesta obra, o autor faz uma interessante interpretação dos ciclos da mitologia grega, apresentando as principais características e os símbolos mais representativos através dos mitos, que nos instiga até os dias presentes.

Segundo o autor, os gregos criaram vários mitos com o objetivo de preservar a memória histórica de seu povo. Há três mil anos, não havia explicações científicas para grande parte dos fenômenos da natureza ou para os acontecimentos históricos. Portanto, para buscar um significado para os fatos políticos, econômicos e sociais, os gregos criaram vários mitos ou lendas, de origem imaginativa, principalmente forças ou seres sobrenaturais pertencem ao domínio da religião.
Para os gregos o mito, participa de todo seu cotidiano está inserido nele, enxergavam vida em quase tudo que os cercava, serve como título de nobreza às cidades ou às famílias, desenvolve-se em narrativas históricas, ou explica as crenças e os rituais religiosos. Ou seja, para um grego o mito não conhece fronteiras está em toda parte.

O autor relata sobre a existência de personagens e figuras mitológicas das mais diversas. Como heróis, deuses, ninfas, titãs e centauros que habitavam o mundo material, influenciando em suas vidas. Era somente interpretar os sinais da natureza, para conseguir atingir seus objetivos. Os gregos tinham o hábito de consultar seus oráculos para saber sobre as coisas que estavam acontecendo e também sobre o futuro. Podemos dizer que estes tinham uma dependência destes oráculos, não faziam nada sem antes consultá-los.

Grimaldi desenvolve uma relação entre os mitos e os filósofos, pois os filósofos sempre tentaram explicar a Natureza e seus fenômenos, caindo às vezes em contradições em relação a idéias próprias com seus colegas de profissão. A Filosofia expandiu e acabou englobando áreas além da descrição da Natureza e seus fenômenos, incluindo em si o estudo do Ser Humano e todos os fenômenos relacionados a ele e ao seu pensamento. No entanto, as contradições entre os filósofos continuariam a inquietar o espírito humano por séculos, desde a relação com aos métodos empregados, em relação às teorias, e como explicar os sagrados fenômenos.

O autor no último capítulo deste livro faz questionamentos a respeito dos mitos perante a ciência moderna, e menciona que os próprios antigos procuraram uma explicação para os mitos e citas alguns filósofos que se dedicam a essa pesquisa. Os filósofos ocidentais do século XVIII sustentam que a imaginação humana é capaz de todas as loucuras quando não é reconhecida pela razão. Mas no século XIX a mitologia começou a ser tratada como um objeto de conhecimento e análise.

Segundo a reflexão dos filósofos contemporâneos, a mitologia seria um verdadeiro “sub-consciente” dos povos antigos onde estariam guardados suas aspirações, seus terrores, tudo que a moral consciente recusava com horror. Condições reveladoras da alma humana, cujos pesadelos e sonho são nutridos através dos mitos.


Título do Trecho selecionado: “Mitos e Mitologia”

Trecho: Tal é no seu conjunto, a mitologia grega: matéria de origens muito diversas, fragmentos muitas vezes mal estruturados em sínteses artificiais, a que o trabalho lento dos sábios, dos escritores, dos poetas, acrescentou ou suprimiu partes, ao sabor do capricho de cada um, mas em que ainda se distinguem por vezes os dados primitivos da imaginação e da piedade popular. O sábio e o espontâneo, o vivo e o artificial acham-se aí intimamente mesclados. Cabe à ciência moderna a honra de ter empreendido uma análise que ainda está longe do fim, mas que já permite uma compreensão melhor do verdadeiro significado e do alcance de uma forma de pensamento essencial ao espírito humano.

Se considerarmos agora a mitologia “clássica”, não mais na sua formação e evolução, mas como um todo já fixo, sob a forma “canônica”, verificamos que nem todos os mitos que nos propõe têm o mesmo alcance e a mesma forma. Alguns são relatos concernentes à formação do mundo e ao “nascimento” dos deuses. É a eles que conviria reservar o termo de mito no seu sentido mais estrito. Designá-los-emos aqui sob o nome de “mitos teogônicos” ou “cosmogônicos” conforme o caso. Tais narrativas foram reunidas, sobretudo por Hesíodo, mas são naturalmente muito anteriores e representam contribuições, algumas puramente gregas, e as outras provenientes das religiões orientais, ou mesmo pré-helênicas. Seria um erro, todavia, considerá-las como dados primitivos. Sã, o mais das vezes, concepções muito evoluídas que se formaram em meios sacerdotais e se enriqueceram pouco a pouco de elementos filosóficos, sob a forma de símbolos mal disfarçados. Tais mitos não cessaram de viver nem mesmo em plena época clássica e mesmo mais adiante. Continuaram a servir de suporte às crenças religiosas e, como veremos mais tarde, as religiões de salvação integrá-los-ão em seus mistérios.

Ao lado dos mitos propriamente ditos encontram-se “ciclos” divinos e heróicos. Esses ciclos constituem séries de episódios ou de histórias cuja única coerência é fornecida pela identidade da personagem central. Diversamente dos “mitos”, tais narrativas não possuem significado cósmico algum. Quando Heracles sustenta o Céu sobre os ombros, dá provas, cm isso, da sua força física e nada mais. Nem o céu nem o universo ficaram definitivamente “marcados” por isso. Pouco importa que o herói dessas narrativas seja um deus (Hermes, Afrodite, o próprio Zeus) ou um mortal semidivinizado. Nem toda lenda relativa a uma divindade reveste, necessariamente, um alcance teológico. Hermes furta bois e puxa-os pelo rabo para evitar que os rastos revelem o esconderijo onde os ocultou. É um tema folclórico muito conhecido, que não apresenta nenhum significado religioso particular.

O caráter essencial do ciclo é a sua fragmentação. O ciclo não nasce já formado; resulta de uma longa evolução, o curso da qual episódios primitivamente independentes se justapõem, bem ou mal, e se integram num todo. É o caso, por exemplo, das aventuras de Heracles, que ficaram durante muito tempo sem ligação recíproca. Cada uma das grandes “fadigas” ou “trabalhos” está ligada a um sítio ou a um santuário; nem sequer é certo que o seu autor tenha sempre sido, na origem, o próprio Heracles. É provável que o herói tenha confiscado em benefício próprio episódios preexistentes. O leão morto por Alcatoo, a serviço do rei Megareu, lembra singularmente o do Citeron de que Heracles livrou o rei Téspio. O processo é evidente para as extensões ocidentais mais recentes do ciclo Herculano: os viajantes gregos, depois os romanos, reconheceram Heracles nas terras italiana, gaulesas e até no umbral da Germânia. Assim, o jogo das assimilações com divindades indígenas acabou por integrar no ciclo elementos que, na origem, lhe eram estranho. E o próprio Heracles grego tem, assim caracteres que pertencem aos semitas Gilgamech e Melcarte, e a outros deuses, ainda cuja lembrança hoje se perdeu.
Muitas histórias análogas concernem nomes de lugar e fundam-se em jogos etimológicos. A imaginação popular nunca hesitava em inventar uma explicação. As variações no nome dos rios- fenômenos muito conhecido dos geógrafos, pois cada curso de água tem várias denominações conforme as populações ribeirinhas – fornecem, em particular, matéria inesgotável. E o mesmo de dá com o contorno das constelações, o curso de um planeta, em que se discernem atrações ou ódios cuja origem está numa aventura outrora ocorrida aos seres transformados depois em estrelas.

A matéria mítica pode pois classificar-se num certo número de categorias que permitem uma análise cômoda. Não nos deixemos, porém levar por semelhantes classificações, de fronteiras incertas. O mito cosmogônico pode degradar-se em ciclo ou em novela; a lenda etiológica integra-se num ou noutra com extrema facilidade. Como acontece com todos os seres vivos, as dissecações anatômicas não poderiam fazer esquecer que a realidade última da mitologia reside, não em membros esparsos, mas num organismo de pulsações e metamorfoses incessantes. (p.19-24)

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