REALE, G. O Saber dos Antigos. São Paulo: Edições Loyola, 1999.

Nome do aluno: Indiamara Catarine Pech

Resenha:
Neste livro, Giovanni Reale faz uma síntese sobre os valores e também sobre os males que afligem os homens contemporâneos, não só ilustrando isso, mas mostrando também as fontes dos mesmos, proporcionando indiretamente “conselhos” , considerando-os como terapia, para recuperar dos valores perdidos no decorrer do tempo.

O que pretende nesse livro, além do já citado, é impressionar a razão, os sentimentos e a imaginação dos leitores, fazendo com que estes tome consciência desses males, o que seria a falta de cultura, tradição, crença, sinal de fraqueza, falta de espírito...Para explicar os males que afligem os homens, cita grandes nomes da Filosofia, tais como Nietzsche, Platão, Sócrates, Demócrito, dentre outros filósofos importantes.

O livro contribui desata forma para que se possa entender de forma absoluta o que é de fato esses males que afligem o homem contemporâneo, afirmando ser o niilismo a raiz desses males, e para conceituar o mesmo, cita teoria de Nitzshe. O autor dedica-se para demonstrar, da melhor maneira possível, o que são esses males, como surgiu, qual seu conceito, o seu desenvolvimento no decorrer do tempo, para que possamos entender.

O autor em seu livro faz críticas ao ser humano que, mesmo sabendo da falta de valores, considera-se feliz, sabendo que, desde nosso nascimento, somos doutrinados e modelados para a sociedade. Assim percebemos que “os males espirituais que afligem o homem de hoje tem uma raiz comum que é muito fácil de identificar: a cultura contemporânea perdeu o sentimento daqueles grandes valores que, na era antiga e medieval e também nos primeiros séculos da era moderna, constituíram pontos de referencias essenciais, e em ampla medida irrenunciáveis, no pensamento e na vida” (p. 17)

Ao decorrer do livro, cita os pensamentos e idéias dos antigos filósofos, explicando as teorias de cada qual, como por exemplo: Aristóteles e a distinção entre razão cientifica e razão metafísica, Platão e o sentido do Eros, Sócrates e o individualismo levado ao extremo, dentre outras fontes bibliográficas citadas no livro.

Reale, dando ênfase a Filosofia, afirma que os “interesses materiais, tecnológicos, industriais, sucesso e dinheiro empobreceu radicalmente o homem” (p. 12) e, conseqüentemente, esqueceu de cuidar dos valores da vida, da alma, do espírito, deixando o mal o atingir.

Outro objetivo do autor no decorrer deste livro é proporcionar auxilio ao homem contemporâneo, tentando fazer com que ele “volte”, às raízes de nossa cultura, fazendo com que ele leia mensagens de terapia para esses males, que deve ser erradicado “por meio da recuperação de idéias e de valores, supremos” (p. 13).

Enfim, podemos concluir que o autor quer mostrar, através da escrita, que a alma sem filosofia fica doente e que, por esse motivo, os antigos eram tão sábios, pois dava valor extremo a alma, deixando para segundo plano os bens materiais que os rodeavam, pois bem como Giovanni Reale afirma: “se queres ficar bem, cuida sobre tudo da saúde da alma, e depois da do corpo, a qual exigirá muito de ti” (p.16).


Título do trecho selecionado: “Nietzsche: profeta e teórico do Niilismo”

Trecho:
Os males espirituais que afligem o homem de hoje, como já adiantei no prefácio, tem uma raiz comum que é muito fácil de identificar: a cultura contemporânea perdeu o sentido daqueles grandes valores que, na era antiga e medieval e também nos primeiros séculos da era moderna, constituíam pontos de referência essenciais, e em ampla medida irrenunciáveis, no pensamento e na vida.

O filósofo que compreendeu a fundo esse ponto fundamental da história do Ocidente foi Friedrich Nietsche, que o sintetizou com o termo “niilismo” e descreveu-o com traços de profundidade teórica e lucidez conceptual bastante notáveis. O autor de Assim falou Zaratustra depois buscou inutilmente um resultado positivo no niilismo com sua doutrina da “vontade de potência”, que, na verdade, é um beco sem saída. (O próprio Nietzsche não conseguiu levar a termo sua doutrina senão de forma fragmentaria e problemática).

Mas suas análises, conduzidas com um estilo cortante e frases bem construídas, que cercam o objetivo de todos os lados até alcançar o núcleo do problema, ainda se impõem como o que de melhor se escreveu sobre o assunto. Assim, considero particularmente útil abordar a problemática que pretendo discutir neste livro começando por algumas instituições nietzchianas. Só é possível compreender em que sentido a sabedoria antiga pode oferecer pontos de partida significativa para uma recuperação dos valores se se toma consciência de que o homem contemporâneo perdeu e esqueceu aqueles valores, atentando para as conseqüências que daí provém.

Ao caracterizar e descrever o niilismo, Nietzsche julgou exercer o papel de um profeta, indicando algumas linhas e certas conclusões da história futura. E o fez com base numa aprofundada compreensão do que acontecera no passado e estava acontecendo em sua época. Num fragmento de 1887 escrevia: “No que me diz respeito, eu que às vezes sinto em mim o ridículo de um profeta, sei que jamais encontrarei nisso tudo la charité d’um médecin. Perdido nesse mundo miserável, coudoyé par les foules, sou como um homem cansado que, olhando para trás, só consegue enxergar désabusement et amertume em longos anos profundos, e diante de si uma tempestade em que não há nada de novo, nem doutrina nem dor” (11[234][1].

Em outro fragmento, em que traçava algumas idéias daquele que deveria ter sido o prefácio de sua obra Vontade de potência, esclarecia ainda mais: “Descrevo aquilo que virá: o advento do niilismo. Posso descrevê-lo agora porque agora se produz algo necessário – e os sinais disso estão por toda parte, para velos faltam apenas os olhos. Aqui não comemoro nem lamento que isso aconteça: acredito que, mesmo na maior crise, deve haver um momento em que o homem se volta para si mesmo de uma forma mais profunda; que o homem consiga restabelecer-se depois, que consiga sair dessas crises, é uma questão de força: é possível ...O homem moderno crê experimentalmente ora neste, ora naquele valor, para depois abandoná-lo; o círculo de valores superados e abandonados esta sempre se ampliando; cada vez mais é possível perceber o vazio e a pobreza de valores; o movimento é irrefreável – embora tenhamos tentação de diminuí-lo em grande estilo. No fim, o homem ousa uma crítica dos valores em geral; reconhece sua origem; conhece o bastante para não acreditar mais em valor nenhum; eis o pathos, o novo tremor...A história que estou relatando é a dos dois próximos séculos...” (11 [119]).

E enfatiza: “O que estou relatando é a história dos dois próximos séculos. Descrevo o que virá, o que não poderá vir de outra forma: o advento do niilismo. Pode-se narrar essa história hoje, pois aqui a própria necessidade esta em ação. Esse futuro manifesta-se numa infinidade de sinais, esse destino anuncia-se por toda as partes; todos os ouvidos já sintonizam essa música do futuro. Já há muito tempo toda a nossa cultura européia agita-se com uma tensão torturante que aumenta a cada década, como se se encaminhasse para uma catástrofe: inquieta, violenta, impetuosa; como um rio que quer desaguar, mas que não se lembra mais, nem tem medo de se lembrar” (11[411]).

A ESSENCIA DO NIILISMO

Mas em que consiste o Niilismo?

Vejamos as respostas dadas por Nitzsche, que atinge uma clareza exemplar.

Num fragmento, sempre de 1887 (o ano crucial de Nitzsche amadureceu essa problemática), lemos: “Niilismo: Falta o fim; falta resposta e o por quê?’; o que significa Niilismo? – que os valores supremos o desvalorizam”.

Os pressupostos do Niilismo são: “que não exista uma verdade; que não exista uma constituição absoluta das coisas, uma ‘coisa em si’” (9[35]).

E eis um violento destaque desse conceito: “ contra a suposição de que ‘um em si das coisas’ deveria ser necessariamente bom, feliz, verdadeiro, uno, a interpretação de Schopenhauer do ‘em si’ como vontade foi um passo essencial; contudo, ele não soube divinizar essa vontade: deteve-se no ideal moral cristão. Schopenhauer ainda estava dominado a tal ponto pelos valores cristãos que era obrigado a ver a coisa em si – depois que ela deixou de significar’ Deus’ para ele – como má, estúpida como algo que se devia rejeitar de uma vez por todas. Ele não compreendera que pode haver infinitas formas de poder-ser-outro e até de poder-ser-Deus. Maldição daquela dualidade limitada: bem e mal” (9[42]).

[1] F. Nietzsche, Frammenti postumi (1887-1888), Trad. It. De S. Giametta, Milão, Adelphi, 1971, vol. VIII, tomo II. Todos os fragmentos de Nietsche citados, salvo indicação contrária, são extraídos desse volume.

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