FUNARI, P. P. Arqueologia. São Paulo: Contexto, 2003.

Nome do aluno: Indiamara Catarine Pech

Resenha:
O autor Pedro Paulo Funari, um grande arqueólogo brasileiro, faz uma sisntese, como já diz o título do seu livro sobre a Arqueologia, mostrando-nos que, além de ser uma atividade complexa e apaixonante, é uma grande aventura.

Um dos seus objetivos, em seu livro, é deixar nitidamente claro o que é de fato a Arqueologia, como ela era e como é vista atualmente. Trata cuidadosamente e detalhadamente do raciocínio, do objeto e da “construção” da Arqueologia, demonstrando que esta é uma ciência com técnicas e métodos próprios. Ao decorrer do livro, cita grandes nomes da Arqueologia como por exemplo, Willian Petrie, Vere Gordon Childe, Mortimer Wheler, dentre outros. Não deixa de mostrar o raciocínio de um arqueólogo e de como ele atua, afirmando que “uma das condições mais comum de trabalho do arqueólogo é a escavação, encontrar informações sobre possíveis ocupações antigas e, em seguida, faz-se um reconhecimento do terreno por meio de uma prospecção” (p.23).

Após falar de como pensa o arqueólogo, explica as várias formas de pesquisas e dos instrumentos usados para as atividades de campo. “A Arqueologia não é, do meu ponto de vista, uma simples técnica no sentido empirista da palavra” (p.63). Cuida de cada detalhe das técnicas, do que é preciso, qual instrumento usar, onde usar, como identificar um vestígio material (cerâmica, projéteis, pontas de lanças ou flechas, etc), enfim, das técnicas desde o desenterramento até a organização do trabalho arqueológico, sempre exemplificando através de fotos ou figuras. Explica cada método de uma forma bem nítida, de fácil entendimento, mostrando-nos que as técnicas de trabalho não são tão fáceis e que exige muito esforço, principalmente físico.

É claro que não deixa de citar as diferentes áreas dos conhecimentos, que fazem parte da Arqueologia, como por exemplo, a História que, segundo Funari, é particularmente importante, a Antropologia e outras, como a tipologia, explicando as relações existentes entre elas, o porque dessas relações e de como surgiu a mesma.

Dá ênfase total a Arqueologia, principalmente quando trata do poder que ela possui, “a criação e a valorização de uma identidade nacional ou cultural relacionam-se, muitas vezes, com a Arqueologia” (p. 101), e ao trabalho do arqueólogo no Brasil, mostrando as vantagens, tipos de formação, mercado de trabalho, desvantagens. “Há diversos caminhos possíveis para se tornar e se trabalhar hoje com Arqueologia no Brasil... as perspectivas são muito variadas, de acordo com as escolhas que venha a efetuar” (p.110).

Sobre as questões profissionais, fala que a Arqueologia possui várias áreas de atuação e especialização, dando sugestões de campos de trabalho para interessados. Por fim, faz uma lista de sugestões de leituras, filmes, sites e CDs para quem quiser aprofundar-se no assunto. Pode concluir, que o livro sintetiza e explica como tudo funciona dentro da disciplina, tendo por objetivo apresentar as principais abordagens, técnicas e métodos da Arqueologia, fornecendo um manancial básico de informações e uma visão condizente com a complexidade da Arqueologia, dando a oportunidade de avaliar criticamente e de conhecer as vertentes arqueológicas existentes.


Título do trecho selecionado: Como pensa o arqueólogo: do artefato à sociedade

Trecho: Uma das condições mais comuns de trabalho do arqueólogo é a escavação. Costuma-se antes de propor uma escavação, encontrar informações em documentos, em testemunhos orais, fotos e pinturas sobre possíveis ocupações antigas e, em seguida, faz-se um reconhecimento do terreno, por meio de uma prospecção. A prospecção é também chamada de levantamento ou survey, termo em inglês.

Identificando vestígios na superfície, determina-se uma área a ser escavada (o leitor encontrará mais informações sobre isso adiante, ao tratarmos das sondagens). Hoje em dia, na escavação, costumam atuar arqueólogos profissionais, voluntários, aprendizes e, as vezes, operários para o trabalho mais pesado e inicial da retirada da vegetação. Usam-se pás, picaretas, colher-de-pedreiro, pincéis, mas também baldes, peneiras, cordas, fitas métricas, papel para anotações e desenhos, câmaras fotográficas entre outros equipamentos.

O Estrato arqueológico é a unidade básica de seu trabalho. Cada estrato representa uma ação humana, como um aterro, a fundação de um muro. O arqueólogo define os estratos, com certa dose de subjetividade, mas sempre baseado no que se encontra no solo. Assim, cada estrato pode ser delimitado pela sua composição material particular e corresponde à determinada atividade humana, realizada pelos usuários originais desse espaço físico, ou a uma ação natural (depósitos de aluvião, inundações, etc).

O arqueólogo deve registrar os artefatos encontrados, por meio de desenhos, de modo que se possa saber sua exata localização. Para isso, é necessário desenhar seções estratigráficas e planos horizontais. As seções correspondem a profundidade em que os artefatos foram encontrados e os planos, à sua distribuição espacial.

Assim, a transposição desses estratos para seções estratigráficas verticais e planos horizontais permite ao escavador, terminado o trabalho de campo que consiste propriamente em anotar o que se encontrou na escavação, reconstituir o estado do material no momento da descoberta. Suponhamos que se trate de restos de uma casa, apresentando duas bases de muros em pedra e, no seu interior, grande quantidade de argila, reboco e cerâmica.

Ainda que se trate de um exemplo por demais simples para corresponder aos problemas reais derivados de situações concretas complexas, permite constatar que o objeto direto de observação do arqueólogo não é senão um vestígio, um destroço diminuto e material do contexto cultural. Por meio da leitura do registro arqueológico (ou seja, dos vestígios que o arqueólogo encontrou e procurou reproduzir em um desenho esquemático), deve-se chegar a reconstrução das atividades e ações que levaram o estado atual do material encontrado. No caso exposto, o arqueólogo deve tomar por base o depósito arqueológico encontrado, reconstruir as etapas de formação desse depósito, para chegar a uma reconstituição de ambiente do local de atividades socialmente significativo.

A reconstituição proposta pelo arqueólogo é sempre subjetiva (ou seja, depende de boa parte de sua imaginação, incrementada com outros estudos e muito conhecimento sobre o povo e a época estudada, além de noções de arquitetura, por exemplo), pois os dados encontrados e anotados devem ser interpretados pelo escavador e diferentes estudiosos podem chegar a propor interpretações diversas. Qual a altura da parede da casa? Com base em certos indícios, uns podem propor determinada altura, outros proporão outra, baseando-se em variadas hipóteses. Se não possuímos a parede preservada até o teto, como é o caso normalmente, sempre é necessário conjecturar a respeito.

A Arqueologia nada mais é que uma leitura, ainda que um tipo particular de leitura, na medida em que o “texto” sobre o qual se debruça não é composto de palavras, mas de objetos concretos, em geral mutilados e deslocados do seu local de utilização original. É impossível ignorar a subjetividade do trabalho arqueológico. Por outro lado (em função da “busca da verdade”), há uma crescente preocupação com a interdisciplinaridade, em especial, no que se refere à ajuda proporcionada por outras disciplinam que lidam com “leitura” e “interpretação”, em particular, com aqueles que se voltam para os objetos também, como é o caso da semiótica, disciplina preocupada com os princípios teóricos da comunicação.

Existem outras formas de leituras de imagens que podem ser, também, úteis para o arqueólogo, como é o caso da psicanálise, em aparência, tão distante da Arqueologia. Espadas, por exemplo, tem sido interpretadas como símbolos fálicos (pênis ereto), uma influência direta da teoria de Freud na análise de um artefato.

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