MACLAGAN, M. A cidade de Constantinopla. Lisboa: Editorial Verbo, 1972.

Nome do aluno: Indiamara Catarine Pech

Resenha:
O autor utiliza-se de uma escrita descritiva, narrando tudo sobre a história de Constantinopla, desde a época bizantina até a queda de Constantinopla.

“A razão que me leva a prolongar esta história de Constantinopla desde a época Bizantina até um período relativamente tardio da história turca fundamenta-se no fato de a cidade dever mais a seus governantes otomanos do que aos imperadores gregos a nobre silhueta que hoje apresenta” (p.13). Pra termos uma melhor “visão” da época da cidade, das igrejas e mesquitas, apresenta diferentes figuras, fotos e mapas de acordo com o texto, muito bem elaboradas e escolhidas.

Além de escrever detalhadamente toda a história da cidade, desde a sua fundação realizada pelo imperador Constantino, até a sua queda, fato ocorrido em uma terça-feira, gerando uma “espécie de trauma”, onde até hoje os gregos evitam atos solenes nesse dia da semana: “Ainda hoje nenhum grego escolhe de ânimo leve uma terça-feira para um ato solene, seja batizado ou casamento” (p.137), informa a vida dos habitantes, mas principalmente dos governantes da época, construindo uma breve biografia dos mesmos, transcrevendo seus trajetos, planos e conquistas ao decorrer dos seus governos.

Das mesquitas, templos e igrejas relata os estilos, decorações, pinturas e a importância delas para os governantes. “Miguel III restaurou completamente Santa Maria do Farol. Este acontecimento é descrito numa famosa homilia de Fócio, que ao princípio se supôs referir-se profusamente adornado de mármores e mosaicos. Na concha, via-se uma figura da Virgem e na Abóbada outro de Cristo” (p. 99).

Uma passagem interessante neste livro é quando o autor trata da construção das igrejas, e em especial a igreja hoje conhecida como Bodrum Camii, que PR muitas vezes é considerada como o mosteiro de Myrelaion, fundado por Romano I para lhe servir de necrópole e a sua família. O edifício foi transformado em mesquita c. 1500 e um incêndio, que deflagrou no ano de 1911, danificou seriamente. Hoje o que resta desta antiga construção, mostra invulgarmente o que era a maior magistral arquitetura na época.

Em sua volta, realizaram cuidadosas escavações com a finalidade de se encontrar e compreender como funcionavam as relações catedráticas no interior e derredor da mesma. Um mapa que refere-se a mesma em sua posição, mostra os principais momentos bizantinos de Constantinopla, tendo ao sul o Mar de Mármara, com as muralhas voltadas para o mar junto a saída do estreito de Bósforo. Ainda no mesmo mapa pode-se observar a Coluna de Godos a norte e as Muralhas do Corno de Ouro a Noroeste.

O mais impressionante na obra, além do já citado, é como Maclagan nos faz “viajar” até aquela época, devido aos detalhes, fotos, dos percursos que descreve, de como eram as igrejas, podemos ter uma imagem da cidade, sem falar que se utiliza de uma linguagem de fácil interpretação. Por fim, o livro pode ser considerado uma grande fonte histórica que documenta os fatos ocorridos na cidade de Constantinopla, das vitórias e perdas, sempre dando ênfase a mesma. Tem por objetivo, como já citado inicialmente, narrar a história de Constantinopla, tentando também explicar o fato de a cidade dever mais a seus governantes do que aos seus imperadores gregos.

“Pode chegar em Constantinopla uma certa melancolia, uma tristeza de viuvez e de velhice, mas há também uma abundância de beleza, história, recordações do passado, romance e tragédia, brutalidade e heroísmo, que fazem parte da história da Humanidade. Nenhum europeu pode mostrar-se ingrato para com esta venerável e potente fortaleza, guardiã da religião e do saber, numa época em que a cultura da cristandade ocidental, menina ainda, dava os primeiros e desajeitados passos no sentido da apreciação e da apreensão desses mesmos valores. De certa maneira, todos nós nos acolhemos a proteção das muralhas de Constantinopla. ” (p.163).


Título do trecho selecionado: A cidade de Constantino

Trecho:
O conquistador legou a sua família, como herança, o Império Romano: uma nova capital, uma nova orientação política e uma nova religião; e essas inovações que introduziam foram aceites e consagradas por sucessivas gerações...a vantajosa posição de Constantinopla, que parece ter sido pela Natureza para centro e capital de uma grande Monarquia.
E. Gibbon, Declínio e Queda do Império Romano, Capítulo XVII

Constantino é uma das figuras épicas da História. Duas das suas decisões alteraram o curso dos acontecimentos: a primeira foi a adopçâo do cristianismo, a outra a fundação de Constantinopla. Nascido em Naísso ascendeu ao poder graças aos seus dotes militares. Nunca perdeu uma batalha em toda a sua carreira. Seu pai fora aclamado Augusto no Ocidente, mas morrera na distante Britânia um ano depois de Dioclesiano se haver retirado. Constantino foi proclamado imperador pelas suas tropas, em York, mas teve de abrir caminho para o poder a partir de seu remoto acampamento.

Em 312, derrotou, perto de Roma, o seu principal rival no Ocidente, Maxênxio. Segundo a tradição, foi antes desta batalha que Constantino teve a visão de uma cruz luminosa, rodeada das palavras: In hoc signo vinces. Firmou então acordo com o imperador do Ocidente, Licínio, e, em 313, pelo Edicto de Milão, os cristãos foram autorizados a exercer o seu culto. Depois de terem vivido na ilegalidade e de ainda recentemente terem sofrido bárbaras perseguições, os continuadores de Cristo ascenderam rapidamente a uma posição privilegiada e viram-se reconhecidos pelos poderes seculares. Mas esta mudança foi causa de perturbações, tanto para a igreja como para o Império. Licínio continuou pagão e as relações entre ele e Constantino toldaram-se.

Em 323, Constantino marchou em direção a leste e em duas batalhas decisivas aniquilou o seu rival. A segunda dessas batalhas foi travada no mar, ao longo de Crisópolis (a actual Escutaria), na margem direita do Bósforo, em Setembro de 324.

Constantino, agora o chefe supremo do mundo romano, devia já ter decidido fixar a posição da capital do Império do Ocidente. A lenda atribui-lhe a escolha de vários locais para esse fim – Naísso (sua terra natal), Sárdica (a Sófia de hoje), um lugar perto de Tróia e Calcedônia. Bizâncio mantivera-se fiel a Licínio, e Constantino cercou-a e tomou-ª Como Severo fizera um século antes, começou por lhe demolir as muralhas; porém, sua larga visão de soldado aprendera também o valor estratégico da cidade. É desnecessário acreditar que um vôo simbólico de duas águias tenha desviado por acaso a sua atenção de Calcedônia.

Crê-se que a decisão foi tomada no fim de 324 e os trabalhos começaram imediatamente. Os progressos foram tão rápidos que a nova capital era formalmente consagrada em 11 de maio de 330 e a data da morte de Constantino, em 337, estava provavelmente já quase terminada. Crê-se que o imperador tencionava chamar-lhe Segunda Roma, mas desde logo triunfou o nome de Constantinopla, isto é, Cidade de Constantino; e enquanto a nova cidade prosperava, Roma mergulhava na decadência.

Antes de examinarmos a nova metrópole, devemos deter a nossa atenção num outro aspecto do reinado de Constantino. Ao contrário de Diocleciano, foi bem sucedido na estabilização da moeda. Esta era cunhada com base no ouro. A unidade monetária teve primeiro o nome solidus, mais tarde o de nomisma e a partir do século XIII o de hyperperos; mas no mundo Ocidental era conhecida simplesmente por besante e deu o nome ao disco de ouro heráldico. O sólidus pesava cerca de 4,5 gramas (uma libra esterlina pesa quase 8 gramas) e não sofreu desvalorização até meados do século XI. Poucas moedas tem demonstrado tanta resistência e mesmo depois desta data ainda manteve elevada reputação internacional. Com o apoio de moedas menores de prata e de bronze, esta robusta, geralmente bela e duradoira moeda foi um factor que contribuiu para o progresso econômico de Constantinopla.
O grande imperador teve de tomar a sério o seu papel de protector da Cristandade. A nova posição da igreja demonstrou claramente a existência de graves divergências doutrinárias no seu seio. Pouco depois de ter triunfado em Itália, Constantino teve de enfrentar as implicações da heresia donatista e aprovou as decisões do Concílio de Arles. Depois, e a medida que Constantinopla crescia em tamanho e riqueza, viu-se obrigado a defrontar a heresia ariana e os seus numerosos sequazes.Abstemo-nos de discutir aqui princípios de teologia; por isso, limitar-nos-emos a dizer que Ário era um sacerdote de Alexandria, demasiado monoteísta para aceitar a completa divindade de Cristo.

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