LANGE, K .Pirâmides, Esfinges e Faraós. Belo Horizonte: Itatiaia Limitada, 1958

Nome de aluna: Marília G. Puff

Resenha:
Nesta obra “não deixaremos nem uma vez de revelar nossa emoção nestas páginas...” (p. 9), diz o autor sobre os cinco anos de estudos e pesquisas realizadas por ele, este é o resultado dos quatro invernos que passou no Egito para concluir o seu livro.

Expõe sabiamente os “rastos dos primeiros homens”, falando sobre os primeiros operários, e as primeiras oficinas. Pois o Egito não possui apenas uma historia baseada nos grandes monumentos construídos por grandes faraós, mas possui um aglomerado de peças, ferramentas do período paleolítico. Essas peças analisadas por um arqueólogo nos mostram a perspicácia desses homens.
Quando fala das pirâmides de Gizé e da Esfinge, analisa o fato de tamanha perfeição ser equivocadamente mencionada como se tivesse sido construída por escravos. Além de citar os mistérios da grande esfinge e o porquê de ela ter estado oculta por alguns períodos, como quando Heródoto visitou o Egito.

Apresenta-nos os rituais, os deuses adorados pelos antigos egípcios, os animais e a forma como eram tratados e cultuados, enfim o grande poder que a religião exercia sobre aquele povo.
Do mesmo modo, que nos apresenta a importância dos faraós e das rainhas do Antigo Egito, também seus riquíssimos tesouros que eram levados para as tumbas para servirem a eles na outra vida.

No decorrer de sua obra, o autor introduz vários trechos de textos que ilustram bem tudo o que ele relata, textos que transpassam a autoridade do faraó, assim como textos do cotidiano antigo, textos religiosos, encantamentos e também correspondências como este trecho que copio aqui “ Senpamonthes a seu irmão Pamonthes. Que ele se regosije! Enviei-te o corpo de minha irmã mãe Senyris, embalsamado, com uma tabuinha, aos cuidados de Galés, que a embarcou no próprio navio(...) Desejo-te boa saúde, meu irmão. Ano 3, 2 de Thot”(p.247).
Como afirma Lange “é ao Egito ainda que devemos os fastos rituais, o báculo, a tríplice coroa, o flabelo, o incenso, a cruz alada cujo sentido hieroglífico é vida, ressurreição” (p.279).


Trecho: A grande esfinge

“Pelas três e meia atingimos quase o deserto, onde se ergueram as três pirâmides. Não me contenho mais e toco meu cavalo a grande galope, patinhando no pântano. Maximo, dois minutos depois de mim, faz o mesmo. Corrido furiosa... mau grado meu, lanço gritos, e vamos subindo, num turbilhão, ate a esfinge. No começo, nossos árabes nos seguiam, gritando: “ Esfinge, esfinge, oh! oh! oh! ela crescia, crescia e saia da terra como um cão que se levanta.

A areia, as pirâmides, a esfinge, tudo cinzento e afogado numa grande tonalidade cor de rosa; o céu é completamente azul, as águias voam, planando lentamente em torno da do cimo das pirâmides. Detemo-nos diante da esfinge, que nos fita de maneira aterrorizante; Maximo esta completamente pálido, tenho medo que minha cabeça não se ponha a girar e procuro dominar minha emoção. Tornamos a partir, a toda a brida, enlouquecidos, arrebatados, em meio das pedras; damos a volta às pirâmides, a passo, ao pé delas mesmo. As bagagens tardam a chegar, a noite desce.

Esfinge. – Sentados na areia, fumamos um cachimbo, contemplando-a. Seus olhos parecem ainda cheios de vida, o lado esquerdo está embranquecido de excrementos de pássaros (a calota da pirâmide de Quéfrem tem também grandes manchas compridas) e está justamente voltado para o sol levante; sua cabeça é cinzenta, orelhas muito grandes e afastadas como as de um negro, o pescoço é gasto e encolhido; na frente do peito um grande buraco da areia que o deixa a descoberto...”.

Era assim que há cem anos, se chegava até o mais formidável monumento da humanidade. Foi Gustavo Flaubert quem escreveu as linhas acima, a 7 de dezembro de 1849, no decurso de uma viagem pelo vale do Nilo, com seu amigo e benfeitor Maximo du Camp. Tinha então vinte e nove anos e se o estudo das inscrições o entediava, sua sensualidade fremente escancarava-se totalmente aos esplendores orientais. Atrás de si, o Santo Antão inacabado, à sua frente Madame Bovary e Salambô.

Hoje vai-se o bonde elétrico – linha 14 – de Ataba el Khadra até a estação terminal, quando se prefere tomar um veiculo. Depois montava-se num camelo de aluguel, de que uma califa inteira ajaezada aguarda ao pé do cemitério dos reis os turistas curiosos por se içarem sobre as magras montarias e se deixarem balouçar pela andadura majestosa. Em seguida descansa-se, tomando chá no jardim do Mena House.

Quem quer ir a pé ate a esfinge, deve resignar-se, depois de ter galgado o planalto da pirâmides, a afundar penosamente na areia, suportando ao mesmo tempo o assalto de beduínos ávidos que exercem, há varias gerações, um direito de pedágio sobre os visitantes do pais dos milagres. Oferecer-lhe-ão, com uma insistência infatigável, seus serviços como guias, e antiguidades duvidosas – a maior parte mesmo uma inautenticidade flagrante – e o viajante fará bem em contratar um deles, quando menos para que mantenha os outros à distancia.

Por ocasião de minha primeira visita, a inoportunidade deles me irritou a ponto de não ter eu mesmo visto as pirâmides e só ter lançado uma olhada rápida ao esfinge.

O esfinge? Aguardo aqui objeções. Pelo que me toca, diria com mais gosto a esfinge. De certo o esfinge egípcio é geralmente um ser masculino, diferentemente do esfinge grego, leoa com dorso de mulher. Contudo, apelo aqui para a autoridade de Hans Gerhard Evers: “Quando se descobriu com surpresa que a maior parte das esfinges egípcia representavam reis – e não seres femininos – acreditou-se logo que se tratava obrigado a dizer o esfinge, em contrario ao uso e a língua. Essa preocupação de precisão não se justifica absolutamente. Ninguém pensa em dizer o estatua, quando o personagem esculpido é Apolo ou Napoleão. Da mesma maneira “esfinge” é um termo geral que designa certa combinação plástica de homem e animal.os que quiserem,mau grado este argumento. Levar em conta, entretanto, o sexo da esfinge, cairão, no Egito, no maior embaraço.(...) .

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