BULFINCH, T. Mitologia Geral. Belo Horizonte: Itatiaia, 1962.

Nome do aluno: Aline Marjorie Rocha

Resenha: O autor nessa obra mostra as diversas mitologias existentes, desde as mais conhecidas e difundidas como a Grega, Romana e Nórdica, como as outras que apesar de não serem tão divulgadas não deixam de ser menos ricas e interessantes em seu conteúdo.

A obra volta-se primeiramente, talvez por sua extensão, para a Mitologia Grega. Conhecemos o princípio do reino de Zeus, Hera, Apolo e tantos outros que já nos são tão familiares através do que nos é contado oralmente, dos ditados populares e principalmente da literatura da qual são freqüentes fontes de inspiração, como o autor mesmo diz, ”As divindades do Olimpo já não tem um só fiel entre os vivos. Agora pertencem, não ao ramo da teologia mas da literatura e do bom gosto”(pág.11).

A Mitologia Romana entra logo após e entre ela e grega as diferenças são muito pequenas, sendo os deuses praticamente os mesmos, só se mudando seus nomes, pois os romanos ainda no princípio de sua ascensão absorveram muito da cultura grega principalmente a mitologia.
O autor discorre também sobre a Mitologia Nórdica, que abrangia países como Dinamarca, Noruega, Suécia e Islândia. Essa mitologia nos apresenta Valhala, residência dos deuses nórdicos Odim e Tor, pai e filho, cujo dois dias da semana são atribuídos na tradução pro inglês: quarta-feira seria o dia de Odim e quinta-feira o de Tor, isso comprova o grande poder dessa mitologia entre as regiões do norte.

Tão grande como ela em influência, foi também a Mitologia Hindu, que sobrevive até hoje na Índia e também na China e em outras regiões orientais através de Buda e seus dogmas. A religião hindu é baseada nos Vedas, livros cuja escritura acredita-se ser do próprio Brama o deus supremo, que junto com Xiva e Vixenu formam a trindade principal dos deuses hindus.
O que se observa de acordo com o autor, é que o que pra nós não passa de mitologia para os antigos era religião, cuja algumas ainda prevalecem como é caso já citado da Índia. Também há a semelhança da criação do mundo e do homem em todas as mitologias. O dilúvio mandado por Deus aos homens é semelhante em quase ou se não tudo com o dilúvio mandado por Zeus aos homens, vemos aí o quanto o Cristianismo tem das religiões pagãs da antiguidade.

Thomas Bulfinch também questiona sobre o porquê da origem das mitologias, colocando três teorias para elas: a histórica, a da Escritura, a alegórica e a física. Como pode se desmentir ou crer em cada uma delas deve-se acreditar que as mitologias surgiram em uma fusão de todas elas, como o autor mesmo cita,” Podemos acrescentar que existem muitos mitos que tiveram origem no desejo do homem de explicar fenômenos naturais que ele não compreendia e não poucos nascem de um desejo igual de dar explicação a nomes de lugares e pessoas”, (pág.264).
Em suma, não se pode descartar a importância e influência da mitologia, seja qualquer uma delas. Elas estão presentes ainda hoje e constantemente são lembradas em alusão
nas linhas dos livros de poema e prosa, na arte e afins. São pedaços da Antiguidade que foi retido e passado de geração a geração sem se deixar perder. É isso que Thomas Bulfinch nessa extraordinária obra quer deixar claro pra quem a lê.


Título do trecho selecionado: “Vertuno e Pomona”

Trecho: As Hamadríades eram ninfas das matas. Pomona pertencia a essa categoria,e ninguém a ultrapassava no amor por jardins e pela cultura de árvores frutíferas. Não queria saber de florestas e rios, e adorava cultivar o solo e as árvores que davam deliciosas maçãs. Na sua mão tinha, não um dardo, mas, sim, uma faca de poda.Assim, armada, ocupava-se no corte de ramos que cresciam à toa e, ao mesmo tempo, dos rebentos mais frondosos; outras vezes, para fender rebentos e inserir um enxerto fazendo com que um tronco alimentasse um galho alheio. Tomava cuidado com suas favoritas, as árvores, e não as deixava perecer pela seca, desviando cursos de água para que passassem próximos delas e suas raízes sequiosas pudessem beber. Essa ocupação era a sua inclinação e a sua paixão;estava livre daquilo que é inspirado por Vênus. Não deixava de ter medo dos camponeses e tinha seu pomar fechado, não deixando nenhum homem entrar. Os Faunos e os Sátiros teriam dado tudo que possuíam para conquistá-la, e o mesmo teria feito Silvano, que parece mais novo do que realmente é, e Pã, que usa uma coroa de folhas de pinheiro em volta da cabeça. Mas Vertuno amava-a mais que os outros;mas não tinha melhor sorte que os demais. Quantas vezes, disfarçado em ceifeiro, ofereceu-lhe milho num cesto, parecendo-se com um verdadeiro ceifado. Com uma correia de palha em torno, dava a impressão de que acabara de cortar capim. Outras vezes tinha um aguilhão na mão e dava a idéia de que acabara de desatrelar os seus bois cansados. Também aparecia com uma podadeira, disfarçado em viticultor;e ouras vezes com uma escada às costas parecia que ia colher maças. Algumas vezes caminhava como um soldado reformado e também como um pescador com sua cana, como se tivesse indo pescar. Desta maneira conseguia aproximar-se dela repetidas vezes, e assim foi alimentando e aumentando a paixão, de tanto vê-la.

Um dia apareceu disfarçado de velha, com cabelos brancos cobertos por uma touca, e apoiada num cajado. Entrou no jardim a admirou os frutos: “Podes orgulhar-te, querida”, disse a velha a Pomona, a quem beijou, com um beijo que não era de todo de mulher. Sentou-se, a seguir, na margem dum ribeirão e olhou para os ramos carregados de frutos, mesmo por cima dela. À sua frente havia um olmo em volta do qual crescia uma parreira carregada de belas uvas. Ela elogiou a árvore e à associada videira. “Mas”,disse ela,”se a árvore estivesse só e não tivesse videira agarrada a si, não teria nada para nos atrair ou nos oferecer, a não ser suas inúteis folhas. E, igualmente a videira, se não tivesse enrolada em volta do olmo, estaria arrastando-se pelo chão. Por que não aprendes essa lição, dada pela árvore e a videira, e consentes em unir-te com alguém?Gostaria que o fizesses. Nem a própria Helena teve mais pretendentes, ou Penélope, esposa do perspicaz Ulisses. Mesmo quando os rejeitas, eles prestam-te corte – essas divindades rurais e outras de várias categorias que freqüentam estas montanhas. Mas se és prudente e queres fazer uma boa aliança, e deixas uma pobre velha aconselhar-te – velha que te ama mais do que tu própria podes imaginar – então, manda embora os outros e aceita Vertuno, sob minha recomendação. Conheço-o tão bem como ele a si próprio. Não é uma divindade errante, mas pertence a essas montanhas. E não é como muitos dos namorados de hoje, que amam a primeira donzela que vêem;ele ama-te e só a ti. E além de tudo isso, é jovem e belo, tem o poder de tomar quaisquer formas que lhe agradem e pode fazer de si aquilo que tu lhe ordenares. Ainda mais, gosta das mesmas coisas que tu, tem prazer na jardinagem e aprecia muito as tuas maçãs. Mas agora ele não quer saber nem de flores, nem de frutos, nem de qualquer outra coisa, mas só de ti. Tem dó dele e faze de conta que ele está falando por intermédio de minha boca. Lembra-te de que os deuses castigam a crueldade, e que Vênus odeia os corações insensíveis e cedo ou tarde pune ofensas dessas. Para provar que isto é verdade, deixa-me contar-te uma história, bem conhecida em Chipre, onde é considerada como verdadeira;espero que a mesma tenha algum efeito em ti e te faça mais clemente.

Ífis era um jovem, filho de pais modestos, que uma vez viu Anaxárete e logo enamorou-se dela – uma nobre senhora pertencente a antiga família de Têucria. Lutou por muito tempo contra a paixão, mas quando viu que a não podia subjugar, foi á mansão dela suplicar-lhe amor. Primeiro contou sua paixão á ama, a quem pediu que desse apoio à sua pretensão. Depois tentou captar a simpatia dos criados domésticos. Muitas vezes escrevia seu amor em placas de madeira e outras vezes pendurava nos portões da casa dela grinaldas de flores regadas com suas lágrimas. Deitava-se no umbral do portão da casa de sua bem-amada e queixava-se da sorte aos parafusos e trancas. Ela, porém, era mais surda que as vagas que se levantavam numa tempestade de novembro; mais dura que o aço das forjas alemãs, ou que a rocha que está agarrada ao seu penedo original.Troçava e ria-se dele, acrescentando palavras cruéis ao tratamento áspero, e nunca sequer deu uma sombra de esperança.

Ífis não podia agüentar mais as tormentas de amor não retribuído e em frente ao portão da casa dela, disse estas últimas palavras: “Anaxárete, venceste e já terás de aturar mais as minhas importunações. Goza de teu triunfo!Canta canções alegres e coroa tua cabeça com louros, pois venceste!Eu morrerei;coração duro, regozija-te! Pelo menos nisso posso contentar-te e obriga-te a elogiar-me; e assim provarei que meu amor por ti tirou-me tudo menos a vida. E não deixarei que boato algum te informe da minha morte. Virei eu mesmo e tu ver-me-ás morrer e poderás deliciar-te com o espetáculo. Mas, oh!deuses, que olhais para baixo e vedes os sofrimentos humanos, observai meu destino!Só vos peço isto: que eu seja lembrado nas eras vindouras e que adicionem os anos de vida que perco aos de minha fama.” Assim falou Ífis e, virando o seu rosto para não ver a casa em que ela morava, amarrou uma corda ao batente do portão, sobre o qual muitas vezes pendurara grinaldas de flores,e, colocando o nó em volta do pescoço, disse:”Pelo menos esta grinalda te agradará, cruel donzela!” E, deixando-se cair, ficou suspenso com o pescoço quebrado. Quando caía, bateu contra o portão e o ruído resultante foi como de um gemido. Os criados abriram o portão e encontraram-no morto, e, com exclamações de compaixão, levantaram-no e levaram-no à casa de sua mãe, pois seu pai já não vivia. A mãe recebeu o cadáver do filho, envolvendo-o nos braços e apertou-o ao peito, enquanto dizia palavras que só uma mãe que perde um filho pode proferir. O triste funeral passou pela cidade e o cadáver, pálido, foi colocado num ataúde para ser transportado ao lugar onde se encontrava a pira funerária. Por acaso, a casa de Anaxárete ficava na rua onde passava a procissão fúnebre e as lamentações dos que choravam por Ìfis chegaram aos ouvidos daquela a quem a divindade da vingança já marcara para um castigo.

“Vamos ver esta triste procissão”, disse ela e, subindo a uma das torres de sua casa, olhou para baixo e viu o préstito fúnebre. Mal haviam seus olhos fitado o corpo de Ífis, deitado no ataúde, começaram a ficar rígidos e o sangue de seu corpo a esfriar-se. Tentou dar um passo para trás, mas já não podia mexer os pés; em vão quis virar o rosto;aos poucos todos os seus membros tornaram-se duros como pedra, tal como sempre foi seu coração. Para que não tenhas dúvidas do fato, a estátua ainda existe, e encontra-se no templo de Vênus em Salamina, na figura de Anxárete. Agora, pensa bem nesta história minha querida, e põe de parte o teu desprezo;não hesites mais e aceita um marido. Assim nem as geadas invernais poderão danificar os teus novos frutos, nem os ventos furiosos levar as tuas flores!”

Quando Vertuno acabou de falar, desfez-se do disfarce de uma mulher velha, e apareceu à frente de Pomona em suas formas originais, como um jovem belo. Para ela foi como o sol saindo das nuvens. Ele teria renovado as súplicas, mas não foi necessário;seus argumentos e sua presença agradável prevaleceram e a Ninfa não mais pôde resistir e a chama do amor também ardeu em seu coração.

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