DIRIGER, D. A escrita. Lisboa: Verbo, 1968

Nome de aluna: Marília G. Puff

Resenha: A escrita, de Diringer, é uma obra na qual o autor faz uma cronologia detalhada sobre a origem da escrita.

Na Introdução, faz um apanhado geral, focando coisas como: importância da escrita, sua origem, seu desenvolvimento e expansão, o autor encerra esta parte classificando-as nas tais categorias: a escrita pictográfica ou figurativa, as escritas analíticas transicionais, as escritas fonéticas e por fim a escrita alfabética.

Quando fala dos primórdios da escrita, o autor a denomina como escrita embrionária. “as mais antigas formas de escrita embrionária- figuras esquemáticas de animais, modelos geométricos, pinturas e objetos de varias espécies- foram encontradas no Nordeste da Espanha, no Sudoeste na França, na parte oriental do Mediterrâneo, no Norte da Europa e no Norte da África”(p.29). Sobre essa escrita Diringer nos mostra (no decorrer deste breve capítulo) que ela não era de sentido decorativo, mas provavelmente estava ligada a magia e a rituais.

Ao tratar das escritas analíticas no Médio Oriente antigo, como a escrita egípcia, a escrita dos mesopotâmicos, a escrita cretense e a escrita hitita, diz que são em geral erroneamente caracterizadas como ideográficas. Apresenta-nos a descrição das escritas dos povos citados anteriormente, desde suas origens, subdivisões até a decifração.

Apropria-se de um capítulo inteiro para falar das escritas do extremo oriente, sendo elas a escrita chinesa, as escritas não chinesas da China e a escrita japonesa. Posso dizer que não apenas este capítulo, mas sim, que o livro todo é riquíssimo em ilustrações, nas quais as inscrições que fazem referência aos tipos de escritas estudadas facilitam o entendimento das mesmas.
Sobre as escritas maia e asteca, faz uma apresentação destes povos, suas crenças, as origens ainda incertas da escrita e a sua parcial decifração.

Finaliza sua obra falando sobre as escritas fonéticas e a expansão do alfabeto, passando e explicando o aramaico, assim fazendo o mesmo com o grego e com o latino, além de trazer a nós as suas ramificações e descendências.Uma obra de grande importância e repleta de informações sobre todas as escritas, excelente para a melhor absorção do conhecimento desta área para o leitor.


Trecho: A escrita vista de uma forma simples.

Literal e resumidamente, a escrita é expressão gráfica do discurso, a “fixação” da linguagem falada, numa forma permanente ou semipermanente ou, como disse um estudioso francês, une représentation visuelle et durable du langage, qui le rend transportable et conservable. Por meio dela, a linguagem é capaz de vencer as condiçõesordinárias de tempo e lugar. Por meio dela, um comerciante da Babilônia livrou-se das dificuldades da lei, e pôde inscrever numa tabuinha de barro os pormenores exatos de uma transação (sem imaginar, com certeza, que iria um dia para o Museu Britânico); uma copia completa de Quitiliano pode permanecer intacta, coberta pelo entulho e pelo pó, no Mosteiro de S. Gall, para ser depois encontrada por Poggio Bracciolini; e, para dar outro exemplo, talvez um pouco a despropósito, Matthew Arnould foi capaz de registrar séries minuciosas de pensamentos e sentimentos, conhecidas por Culture and Anarchy.(...)
Sem a escrita, a cultura, definida como uma “inteligência transmissível”, não existiria (senão, talvez, numa forma tão rudimentar que mal se reconheceria). A lei, a religião, o comércio, a poesia, a filosofia e a historia – todas aquelas atividades que dependem de certo grau de permanência e transmissão – seriam incalculavelmente restritas. As possibilidades inerentes à transmissão oral são de longe mais vastas do que há um ou dois séculos atrás, mas, em confronto com os mundos abertos pelo uso da escrita, estão circunscritas a estreitos limites.

(...) A escrita teve origem num passado relativamente recente, se o compararmos com os milhares de anos por que se estende o progresso intelectual da humanidade. Uma análise das causas primeiras seria extraordinariamente difícil e tarefa melindrosa, como analisar as “causas” de uma guerra ou de uma revolução: em cada um destes casos, as futuras gerações são alheias a essas causas e devem, conseqüentemente, analisá-las com prudência. O que se pode dizer com nenhuma certeza é que não há provas concretas de ter sido utilizado qualquer “sistema completo” de escrita antes dos meados do século IV a.C.

(...) Talvez se possa dizer que todas as formas de inscrição gráfica, rudimentares ou eruditas, têm as suas raízes na necessidade humana de “comunicar” e “exprimir”. Contudo devemos estabelecer uma distinção clara entre escrita “embrionária” e escrita “propriamente dita”, se quisermos tornar praticável o assunto que nos propormos debater, a pintura pré-histórica e a escultura que nos chegaram do Paleolítico superior são, como veremos, uma experiência para a expressão e para a comunicação e, simultaneamente, uma espécie de magia por simpatia (é impossível separar duas funções). Tais formas prolongam-se até aos tempos históricos, mesmo depois de surgir a escrita alfabética. Mais a maioria destes esquemas, antigos ou modernos, são isolados, arbitrários e dispersos, pois limitam-se a “fixar” a língua e as idéias sem se relacionarem com a escrita sistemática e consciente (no sentido mais profundo do termo), que encontramos pela primeira vez no quarto milênio a. C.

Isto não quer dizer que se negligencie tudo quanto seja anterior a esse período; pelo contrário, tudo quanto permita esclarecer-nos sobre as primitivas experiências do homem relativamente à expressão e à comunicação, por mais distante que esteja do estudo dos escritos atuais, só pode contribuir, pela riqueza de pormenores, para o conhecimento da escrita e seu desenvolvimento. O próprio testemunho da antropologia moderna não deve ser desprezado, quando, ao examinarmos comunidades e povos “primitivos”, recentes ou contemporâneos, obtivermos novo esclarecimentos sobre as formas rudimentares de comunicação. Mas é necessário evitar cair em extremos, ao reagir contra as idéias demasiado simplificadas sobre os “primitivos” e “rudes” graus de civilização, e reunir, na categoria a que pertence a escrita, todas as formas de expressão gráfica usadas pelo homem.

A escrita como entendemos, é uma atividade consciente ligada intrínseca e inseparavelmente ao desenvolvimento muito mais recente do intelecto do homem. O aparecimento ou a estabilização da escrita – cuneiforme, chinesa, ou hieroglífica hitita – implica um maior grau de consciência e diferenças na espécie que tinha o homem do Paleolítico.(ps. 15-19)

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