HIRSCHBERGER, J. História da Filosofia na Antiguidade. São Paulo: Herder, 1965

Nome da aluna: Andréa Kolenetz

Resenha:
O livro História da Filosofia na Antiguidade, de Johannes Hirschberger faz uma análise crítico-científica das idéias dos filósofos na antiguidade, fazendo-nos compreender como surgiram as ideologias de filósofos como Aristóteles, Platão, Sócrates, ideologias estas relacionadas ao saber, a vida, a realidade, a verdade, ao mundo, a ciência, a física, o espírito, a religião, ao mito, enfim, conceitos que tiveram seu desenrolar na civilização romana, mas cujas concepções são muito analisadas e discutidas até os dias atuais.

O autor ressalta nas entrelinhas do livro como essas idéias surgiram, como foram expostas e como foram aceitas pela sociedade da época, bem como mostra as fontes de origem de tais ideologias.

No primeiro momento destaca a Filosofia Pré-Socrática, ou seja, antes da ideologia de Sócrates, com o seu desenvolvimento nas colônias gregas e baseado em conceitos naturais, neste contexto a noção de natureza é relativa a corpos, a espíritos, onde o mito suscita como algo muito semelhante a Filosofia, nesta época o filósofo é tudo, é o detentor da verdade.

Platão, Sócrates e Aristóteles são o foco de análise mais acentuada do autor quando o mesmo trata da Filosofia Ática, sendo este o momento em que a Filosofia se estrutura e permeia por diferentes contextos e análises. “Sócrates concebe o mundo com a nota típica geral de um pensamento sóbrio, nu e esquemático” (p.78), “Platão, sua filosofia aspira a ser o caminho para a verdade” (p.87), e Aristóteles “é com ele que nasce uma Filosofia formal do saber, a lógica” (p.175). Percebe-se assim que a Filosofia passa por processos distintos que se complementam.

A Filosofia do Helenismo é um contexto mais específico, em que as grandes escolas filosóficas se destacam, onde as ciências particulares se desmembram em disciplinas independentes, no entanto, a filosofia ainda segue os passos de Platão, Aristóteles com a lógica, a ética e da metafísica, onde o homem passou a ser tratado como tal, buscando sua salvação e felicidade interior.

Este foco se pesquisa se concentra nos anos finais antes de Cristo e nos primeiros anos depois de Cristo, “o Cristianismo, ainda jovem, entra em cena aos poucos arranca, à Filosofia, a direção do homem” (p. 256). Algumas escolas filosóficas ainda sobrevivem, mas com o tempo vão perdendo força e acabam se extinguindo, o neoplatonismo foi à última escola filosófica no sistema da Filosofia Antiga, a partir de então a mesma passa a adquirir uma diferente estrutura, afetada e muito pela religião.

Em síntese, o livro é uma contribuição de filósofos como Sócrates, Platão, Aristóteles, para a compreensão da Filosofia na Antiguidade e a relação existente com a Filosofia Moderna e Kant, bem como para uma reflexão acerca do que vem a ser a Filosofia e de que maneira esta vem sendo discutida nesta era moderna, tendo em vista que a modernidade mudou o modo de pensar das pessoas e dos filósofos atuais.

Compreende-se assim que as ideologias pregadas atualmente possuem um elo com os ideais do filósofos da Antiguidade. Então, porque estudar a Filosofia da Antiguidade? Para compreender e conhecer melhor a filosofia, seja ela moderna ou antiga, objetivando assim entender os seus problemas e a sua importância na construção da sociedade moderna e no aperfeiçoamento do ser humano.


Título do trecho selecionado: “A história da Filosofia enquanto Filosofia”

Trecho:
A História da Filosofia se transforma, por si mesma, em crítica do conhecimento, tornando-se assim Filosofia no sentido próprio da palavra; pois agora estamos no caminho para o conteúdo atemporal dos seus problemas. E agora evidencia-se também como a História da Filosofia é, na realidade, Filosofia mesma.

O mito e o logus- O berço da filosofia grega foi a Jônia, nas costas da Ásia-Menor. É Mileto, Éfeso, Clazomenas, Colofônia, Samos onde se encontraram maior parte dos pré-socráticos, sendo por isso a Filosofia pré-socrática chamada também jônica. Seu interesse capital está, como muitas vezes assinalado, na questão da natureza; e costuma-se por isso designar essa Filosofia como filosofia da natureza. A consideração da natureza ocupa aqui, de fato, o lugar primordial. Mais justo seria, porém, falar da metafísica em lugar de Filosofia natural; pois o tema do fundamento primeiro e dos elementos significa, em geral, o dos princípios do ser. O que se trata é de explicar a essência do ser como tal e não da simples verificação da matéria última constitutiva dos corpos naturais.

Cosmogonia- A idéia de fim surge, primeiro, com a Filosofia socrática, mas só na Filosofia de Platão e Aristóteles idéia e espírito se unificam numa força que penetra tudo até ao mais íntimo, na formação do ser. Mas Anaxógoras foi o primeiro filósofo a compreender o espírito e a sua atividade – a reflexão e o poder da vontade.

Platão e Kant- É fecundo de ensinamento, para a nossa questão, comparar Kant e Platão. Ambos os pensadores trabalham com fatores apriorísticos. Mas, enquanto que para Kant só as forma são a priori, para Platão também o são os conteúdos delas. Para Kant, o conteúdo das idéias deve realizar-se; para Platão eles já estão nelas realizados, o que não quer dizer que o nosso saber, a respeito delas, já esteja elaborado. Ao contrario, devemos num debate dialético sempre renovado, apurar-lhe sempre e cada vez mais o conteúdo, apesar da contemplação da idéia. Para Kant os sentidos, realmente, fornecem o material para o conteúdo do conhecimento; para Platão, eles nada contribuem para esse conteúdo. Kant estabelece uma união entre o empirismo e o racionalismo; Platão é puro racionalista.

Lógica- Sobre o saber e a verdade, já muito tinha ensinado a Filosofia anterior a Aristóteles. Mas, é com ele que nasce uma Filosofia formal do saber, a lógica. Não se trata apenas do nascimento da lógica. Ela é, desde logo, estruturada de um modo tão classicamente perfeito, que, ainda hoje, os caminhos trilhados nessa matéria são os mesmos traçados por Aristóteles. É marcante, a este propósito, a palavra de Kant, de que a lógica, depois de Aristóteles, não podia, em nada, retroceder, mas também não podia dar nenhum passo para frente.

Ser- A natureza de Deus consiste, pois, na atualidade na asseidade, na eternidade e necessidade. Aristóteles concebe a natureza de Deus também como forma pura. Este pensamento se esclarece, sabendo-se que, para ele, todo devir é a realização de uma forma e que a causa eficiente e final coincidem; donde, a causa de todas as causas, é também, a forma de todas as formas. E fica assim claro como Deus é ser. Ele é o todo, por que todo o existente existe pela sua causalidade primeira e nela se absorve.

Crítica da utopia platônica- a esta luz se compreende a crítica que faz Aristóteles da teoria platônica do Estado. Em vista da unidade e do poder do Estado, propusera Platão introduzir a comunidade das mulheres e dos bens para a classe dos guardas do Estado. [...], pois, se tudo devesse pertencer a todos, ninguém tomaria interesse por nada, por que o que não é nosso não merece o nosso cuidado. Não é a propriedade privada a causa de nascer a luta no Estado, mas a imoderação na aquisição e posse de bens. Além disso, é dever advertir que devemos evitar todos os extremos; pois desmesuradas riquezas levam à prodigalidade, à soberba, à opressão e à ilegalidade.

O neopitagorismo- Platão, já outrora, tinha-se apoiado em bases pitagóricas. O neoplatonismo, por sua vez, se apóia em o neopitagorismo. Não se sabe exatamente onde nascem, verossimilmente, dos remanescentes da liga secreta pitagórica na Itália. Compreender-lhe-emos logo a estrutura fundamental se atendermos a esta liga, e principlamente à linha dos pitagóricos: a rara mescla de ascese, fuga do mundo, esperança no além, mântica e magia.

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