CRESSON, A. Filosofia Antiga. São Paulo: Difel, 1954

Nome da aluna: Andréa kolenetz

Resenha
- Nesse livro o autor trata da filosofia antiga nos seus primórdios, do século IV a.C. até 529 d.C.já na era atual. Assim, temos a filosofia dos Presocráticos, de Sócrates, de Platão, de Aristóteles, das escolas epicurista e estoicista e a filosofia judaico-cristã da escola de Alexandria.

Os primeiros a questionar a criação do mundo, a existência das coisas, foram os Presocráticos da Escola Jônica. Para eles o mundo era formado por quatro elementos: água, ar, terra e fogo. Entre esses filósofos não havia um consenso sobre qual desses elementos era o mais essencial. Para Tales era a água, para Heráclito o fogo e assim por diante, mas todos acreditavam que esses elementos eram o princípio da vida. Também acreditavam que tudo se move e que tudo passa tão rápido que o presente acaba nem existindo.

Opondo-se aos jônicos estavam os Pitagóricos e os Eleatas. Para os Pitagóricos havia uma intima relação entre a natureza e os números. Acreditavam que havia um fogo no centro da terra, que era imóvel e em torno dela moviam-se o sol e cinco planetas. Para os Eleatas não existia movimento nem multiplicidade.

Após estes vieram os Sofistas. Enquanto as teorias dos Pitagóricos e Eleatas defendiam a verdade através de matemática, física e astronomia, os Sofistas acreditavam no poder do espírito humano, no poder de da retórica, a arte de convencer. Para eles o homem era a medida do homem.

No meio dessas teorias, nasceu Sócrates. Para ele, era necessário conhecer a si mesmo. Somente quem se conhece sabe realmente o que quer. Para isso é necessário que aconteça o parto do espírito, que as idéias que temos dentro de nós sejam libertadas. Sócrates acreditava que todo homem busca a felicidade, porém se não se conhece acaba agindo mal, e ninguém age mal voluntariamente.

Platão, discípulo de Sócrates, aceitava a idéia do parto do espírito, porem a complementou dizendo que para que haja parto é necessário estar o espírito grávido. Assim, segundo ele, nós vimos a sabedoria antes de nascer, e é necessário fazer ela sair de nós nesse mundo. Para Platão existia um Deus, porém ele não ordenava esse mundo, mas sim o demiurgo que foi criado por ele. O mundo possuía uma alma, e a alma do homem é ligada a essa alma, coisa que não ocorre nos animais. Platão era contra a estrutura familiar e acreditava que o governo devia ser composto por homens de Razão, onde se destaquem os apetites da cabeça, não do coração ou do ventre.

Para Aristóteles, o mundo e Deus são eternos. A alma de homens e animais difere porque o ser humano tem discernimento, e a felicidade consiste em cada um cumprir a função destinada a ele, no caso do homem, ser racional. Quanto a estrutura familiar Aristóteles discorda de Platão. Segundo ele a mulher deve ser submissa ao homem e os filhos aos pais. E como o homem é um animal político o governo deve ser aristocrático, com a classe média no poder e as classes restantes sujeitas a ela.

Depois de Aristóteles, destacaram-se os epicuristas e os estoicistas. Segundo os epicuristas deve se viver o momento presente e os homens são infelizes porque acham que os deuses se importam com eles e porque sabem que vão morrer. Acreditam que o nada provém do nada e alma é feita de átomos. Para os estoicistas Deus é a alma do universo, a cada dez mil anos o mundo acaba e se refaz novamente, a felicidade consiste em estar de bem consigo mesmo e considerar indiferentes às coisas que independem da nossa vontade. Outras filosofias como a dos céticos não acreditavam que a verdade existia já que não havia como descrevê-la e saber com quem estava. Esses praticamente aboliram a certeza de seus vocabulários.

A filosofia judaico-cristã nasceu na Alexandria quando idéias de vários filósofos são foram juntadas ao judaísmo. Várias idéias dessa filosofia estão pelo mundo até hoje, incorporadas a Bíblia Sagrada, muitas de Platão.

Enfim, essa obra é uma síntese das principais idéias da filosofia antiga, que nos mostra os primeiros passos dos grandes filósofos que hoje conhecemos.


Título do trecho selecionado: “Do período Alexandrino ao fechamento da Escola de Atenas (529 D. C.)”

Trecho
- Aristóbulos parece haver constatado, mais de cem anos antes da era cristã, freqüentes analogias entre alguns dogmas Platônicos, e algumas das proposições contidas no Antigo Testamento. Segundo o citado filósofo, deveria Platão ter tido conhecimento dos livros bíblicos, de forma que a sabedoria dos gregos, em última análise, procederia das revelações recebidas por Moisés. Filão de Alexandria opina no mesmo sentido. Judeu, não duvida da autenticidade e do valor das revelações contidas na Bíblia - história do mundo e Leis a seguir. Mas helenista e filósofo, é admirador de Platão, e considera incontestáveis suas principais doutrinas. Seu fim é, pois, operar a síntese das verdades reveladas, e dos argumentos platônicos. Coisa possível, acredita ele, se soubermos ler as Escrituras, buscando o sentido real sob o literal, em certas passagens.

Faz-nos a Bíblia conhecer a existência de um Deus Único, Criador de todas as coisas. Platão por seu lado, demonstra a realidade desse Deus. A concordância de Platão com os livros sagrados, sugere a Filão suas teorias religiosas. Deus para ele, é incorpóreo, invisível cognoscível pela simples razão. È o Ser universal, o Ser em si, que paira sobre a justiça, sobre a ciência, sobre o bem, sobre o belo. Uno, simples, imutável, eterno, existe em si mesmo e por si mesmo. Fez-se, livremente, criador. Mas a mundo por ele criado, está submetido a necessidade. È Ele a sede de todas as coisas. Ele contêm tudo.

A Bíblia faz-nos ainda conhecer que: Deus trabalha o mundo por intermediários, os anjos, ministros de suas vontades. No Timeo, Platão explica da mesma forma que Deus realizou certos seres de natureza divina, tendo confiado a um deles o Demiurgo, o cuidado de ordenar a matéria. O deus de Filão não criará, pois, nem produzirá, senão por seus intermediários.

(...)

Partem todos da mesma idéia básica. Possuímos emanados do próprio Deus, livros que contêm todo o conjunto de verdades. Tais livros não são somente os que Deus ditou a Moisés, mas ainda os Evangelhos, que Jesus Cristo veio pregar sobre a terra. Pois que temos tais obras, estamos numa situação admirável. Se uma questão qualquer se nos apresenta, nosso primeiro cuidado deve ser o de procurar no Antigo e no Novo Testamento, se não o haveria Deus acaso solucionado. Se o fez, inútil insistir mais.

Não significa isto, porém que se deva renunciar a toda reflexão filosófica e racional. Quantos problemas sobre cós quais Deus nada nos fez conhecer! Quantos princípios comportam conseqüências que ele não tirou! Alias dificilmente se entende por vezes como podem estar de acordo certas proposições reveladas. Enfim, os pagãos, os ateus, levantam objeções ou pedem esclarecimentos. De tudo isso pode e deve se ocupar a razão humana. Deve-o tanto mais saber por ter sido ele um presente de Deus. Como poderia, pois, estar em desacordo com os livros sagrados? Certas verdades ultrapassam, talvez, nossa razão humana. Nenhuma pode, entretanto, ser-lhe contrária. A maior parte das proposições reveladas devem, nessas condições, ser demonstráveis pela razão. As que não puderem ser, devem ao menos comportar uma definição racional. Considere-se assim, a filosofia, como a “serva da teologia” e apliquemo-nos a faze-la realmente tal.

Pareceu cômodo e razoável aos Padres da Igreja, o terem Platão e os Platônicos encontrado uma série de provas e raciocínios que se harmonizavam in totum com as preposições judaico-cristãs. Ainda que em suas Confissões se haja Santo Agostinho acusado de exaltar excessivamente a Platão, confirma ele mesmo, tal harmonia, por volta de 470 D.C.. Dir-se-ia que Deus permitira ao filósofo grego, apreender todas as verdades que pode o espírito humano quando ainda não esclarecido pela fé. Existência da divindade criadora, papel primordial da idéia do Bem na formação e na direção do mundo, idéias e verdades eternas nas decisões divinas, assimilação do nascimento à queda, conservação das almas depois da morte, punição dos maus, recompensa dos bons, tudo isso foi entendido por Platão, e tudo isso é o cristianismo, menos o Cristo. Saibamos, pois, servir-nos do que sua razão encontrou, para dar à fé todo o apoio que lhe assegurará o triunfo.

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