COULANGES, de Fustel. A Cidade Antiga. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

Nome da aluna: Juliane Kasiuk

Resenha
- Nesta obra, o autor procura oferecer um trabalho didático voltada a necessidade de se estudar as mais velhas crenças dos antigos para reconhecer as suas instituições e faz isso propondo-se a mostrar as regras e os princípios que governavam a sociedade grega e a sociedade romana, já as duas tiveram a mesma base, atravessando por uma série de revoluções e colocando presente as diferenças entre povos, comparando-as com a sociedade moderna. “O nosso sistema de educação obrigando-nos a viver desde a infância na tradição dos gregos e dos romanos, habitou-nos a compará-las sempre conosco, a julgar a sua história pela nossa e a explicar as nossas revoluções pelas deles”. p.1.

A obra apresenta uma breve introdução voltada a finalidade de fazer com que o leitor, perceba o quanto a idéia errada formada sobre Grécia e Roma muitas vezes perturba as nossas gerações.“Por uma observação errada das instituições da cidade antiga, imagina-se poder fazê-las reviver entre nós nas leis da atualidade”. p.2. Procurando assim, fazer com que o estudo destes dois mundo seja feito com uma única preocupação, de que nada no futuro poderá assemelhar-se a eles, já que as suas histórias tornam-se estranhas a nós.

O livro ainda oferece uma composição gráfica do alfabeto grego, com uma tabela seguida de abreviações e acentuações, que oferece o esclarecimento e entendimento a escritos gregos e romanos presente em seus textos, além de uma divisão entre: Livro Primeiro- Crenças Antigas, Livro segundo- A família, Livro terceiro- A cidade, Livro quarto- As revoluções e livro quinto- desaparece o regime municipal, estes subdivididos em capítulos que trabalham cada etapa da Grécia e de Roma, desenvolvendo passo a passo cada acontecimento que marcou grandes revoluções políticas e sociais da época. E por fim, encerra com as notas, o glossário e um índice analítico, que esclarece todas as dificuldades que possam ser encontradas no decorrer de seus escritos.

Coulanges procura, neste trabalho, oferecer uma contribuição para os estudantes que desejam encontrar fontes, as quais esclarecem as relações existentes entre as leis dessas instituições e as crenças de seus povos, com base ao crescimento das sociedades, tanto gregas quanto romanas. O autor ainda salienta: “Felizmente, o passado nunca morre completamente para o homem. O homem pode esquecê-lo mas deste passado guardará sempre a recordação”. p.5.

A história muitas vezes transforma-se em um aglomerado de informações que confundem os que tentam decifrar seus mistérios e tornam assim suas pesquisas um tanto incompreensíveis aos que buscam estudá-la.

Buscar entender a conduta social e política de dois povos que, mesmo diferentes, possuem uma forma de governar muito parecida, é um objetivo que pode ser esclarecido nesse livro, já que o autor faz uso de uma linguagem acessível, agregada a valores históricos, sociais e econômicos, ainda trabalhando com mitos e crenças ligados a uma religião diferenciada nas sociedades, voltadas ao entendimento da atualidade pela busca de comparações da modernidade com um passado remoto, sendo que o texto original é do século XIX, Coulanges (1830-1839) foi um dos mais nomeados historiadores franceses, o livro” A Cidade Antiga” é sua obra-prima e um dos clássicos da historiografia moderna.

Faz, assim uma breve comparação: “Estabelece-se a crença: A sociedade atravessa uma série de revoluções. A crença desaparece: A sociedade muda de aspecto. Esta foi a lei dos tempos antigos”. p.451.

Em síntese, é possível resgatar os estudos à uma cidade antiga, procurando a influencia encontrada na atualidade, sem que esta sofra modificações nem altere a historia da época, sendo este o real objetivo do livro. Oferecer o estudo aprofundado da Grécia e Roma, em suas instituições e formação como cidades.


Título da obra- A cidade Antiga. COULANGES de Fustel. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

Título- Livro Primeiro- Crenças Antigas.

Capítulo II- O culto dos mortos ( p.14 a17)

Trecho- Desde os mais remotos tempos, deram estas crenças lugar as normas de conduta. Como, entre os antigos, o morto necessitasse de alimento e de bebida, concebeu-se como dever dos vivos, satisfazer-lhe esta sua necessidade. O cuidado de levar aos mortos os alimentos não esteve a cargo do capricho ou dos sentimentos variáveis dos homens; foi obrigatório. Assim se estabeleceu toda está religião da morte, cujos dogmas cedo desapareceram, durante, no entanto, os seus ritos até o triunfo do cristianismo.

Os mortos eram tidos como entes sagrados. Os antigos davam-lhe os epítetos mais respeitosos que podiam encontrar no seu vocabulário; chamavam-lhes bons, santos, bem-aventurados. Tinham por eles tanta veneração quanto o homem pode ter pela divindade que ama ou teme. Para o seu pensamento cada morto era um deus.

Está espécie de apoteose não era somente apanágio dos grandes homens; entre os mortos não havia distinção de pessoa. Cícero diz-nos: “ Os nossos antepassados quiseram que os homens que tivessem deixado esta vida fossem contados no número dos deuses. Não era mesmo necessário tem sido homem virtuoso; tanto era deus o mau como o homem de bem; somente o mau continuaria na sua grande existência em todas as suas más inclinações já reveladas durante a sua primeira vida.

Os gregos davam de bom grado aos mortos o nome de deuses subterrâneos. Em Ésquilo, o filho invoca seu falecido ai com estas palavras: “Oh, tu que és um deus sob a terra”. Eurípides, falando de Alceste, acrescenta: “ Junto do teu tumulo o viandante Paraná e dirá: Aqui teve agora a divindade bem- aventurada”. Os romanos davam aos mortos o nome de deuses manes. “Prestai aos deuses manes quanto lhes é devido” diz Cícero. “São homens que abandonaram esta vida terrena; considerai-nos como seres divinos”.

Os túmulos eram os templos destas divindades. Por isso tinham a inscrição sacramental Dis Manibus, em grego Theoiz Khthoníois. O deus vivia enterrado no seu túmulo. Manesque Sepulti, no dizer Virgilio. Diante do túmulo havia um altar para os sacrifícios igual ao que há em frente dos templos dos deuses.

Encontramos este culto dos mortos entre os helenos, os latinos, os sabinos e entre os etruscos, encontramo-lo também entre os arianos da Índia. Os hinos do Rig- Veda referem-se ele. O livro das leis de Manu fala deste culto para no-lo apresentar como o mis antigo culto professado tempsicose passou por cima desta velha crença, e apesar da religião de Brama ja estar estabelecida anteriormente. Sob o culto desta religião ou sob a doutrina da metempsicose, subsiste ainda viva e indestrutível a religião das almas dos antepassados, a obrigar o redator das leis de Manu a tomá-la em consideração e a admirar ainda as suas prescrições no livro sagrado. Não é singularidade menor deste livro tão excêntrico conservar as regras relativas às antigas crenças, sendo evidentemente redigido em época em que já predominam crenças inteiramente opostas. Isto nos prova que, se é preciso muito tempo para as crenças humanas evoluírem, ainda muito mais tempo se torna necessário para as práticas exteriores e as leis se modificarem. Ainda em nossos dias, depois de tantos séculos passados e de tantas revoluções, os hindus continuam fazendo as suas oferendas aos antepassados. Estas idéias e estes ritos são o que de mais antigo encontramos na raça indo-euroupéia, sendo também o que ali tiveram de mais persistente.
O culto na Índia era o mesmo que na Grécia e na Itália. O hindu devia oferecer aos manes a refeição chamada Sraddha. “ Que o chefe da casa faça o Sraddha com arroz, leite, raízes e frutos, para conseguir a benevolência dos manes”. O hindu acreditava que, quando oferecia a refeição fúnebre, os manes dos antepassados vinham sentar-se junto dele e ali tomavam o alimento que lhes era oferecido. Acreditava ainda que esta refeição prestava aos mortos grata alegria: “Quando o Sraddha está feito segundo os ritos, os antepassados daquele que oferece a refeição experimentam contentamento inalterável”.

Deste modo, no começo, os arianos do Oriente pensaram como os do Ocidente, em relação ao ministério do seu destino para além da morte. Antes de crerem na metempsicose, que supunha existir uma distinção absoluta entre a alma e o corpo, acreditavam na vaga e indecisa existência do seu humano, invisível mas não imaterial, reclamando dos mortais alimento e bebidas.
O hindu, como o grego, tinha os mortos como seres divinos gozando de existência bem-aventurada. Mas era preciso preencher-se uma condição indispensável a sua felicidade; era preciso que nos tempos próprios os vivos lhes trouxessem as suas oferendas. Quando se deixasse de trazer o Sraddha ao morto, a alma desse morto abandonava a morada pacifica, e tornava-se alma errante, atormentadora dos vivos, se os manes eram verdadeiramente deuses, eram-no tão somente enquanto os vivos os honrassem com o seu culto.

Eram exatamente estes os mesmos juízos formulados a tal respeito tanto por gregos como por romanos. Ao deixarem de oferecer a refeição fúnebre aos mortos, estes saiam dos seus túmulos, sombras errantes, sentiam-nos gemer pela calada da noite silenciosa. Repreendiam os vivos pela sua negligencia ímpia; procuravam puni-los, enviando-lhes doenças ou ameaçando-os com a esterilidade do solo. Enfim, não deixavam aos vivos descanso algum até o da em que as refeições fúnebres se estabelecessem. O sacrifício, a oferta de alimento e a libação faziam-nos voltar ao túmulo e garantiam-lhes o repouso e os atributos divinos. O homem ficava, então, em paz com os seus mortos.

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