FINLEY, M.I. Aspectos da Antiguidade. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

Nome da aluna: Juliane Kasiuk

Resenha- Nesta obra o autor tem por finalidade fazer com que o leitor perceba a dificuldade existente em resgatar acontecimentos do passado, sem que a história torne-se “falsa”. Repete-se no decorrer dos escritos de “Aspectos da Antiguidade”, o refrão de que o drama grego “continua desesperadamente estrangeiro”, isso porque provavelmente boa parte da antiga experiência trágica não pode ser resgatada por nós.

Segundo o autor o melhor a fazer é preservar aquilo a que temos o conhecimento em Mao “conversar tanto quanto possível a consciência de sua inacessiblidade” p.1, percebe-se que costumamos nos prendermos muito a literatura e isso é uma grande falha, já que esta muitas vezes pode ser falsa, sendo que torna-se praticamente impossível saber como esses antepassados realmente pensavam e nisso a história perde-se.

O livro é baseado em ensaios da história grega e romana, ou seja, relata acontecimentos da época em que deuses reinavam na terra e filósofos questionavam o misticismo. “Na época de Tucídides, toda uma linguagem de filósofos já vinha questionado a estrutura mítica e desenvolvendo sistemas éticos e metafísicos novos e mais avançados, assentados em bases racionais”. p. 57. Assim como, as tentativas que os persas por duas vezes fizeram para invadir a Grécia Continental e tiveram suas previsões barradas, graças a liderança e a moralidade dos atenienses, transformando-se esse em mais um dos episódios heróicos como foi a guerra de Tróia que levaram Heródoto a escrever o primeiro livro da história grega; trabalho que imprecionou Tucídides, que escrevia com um aspecto extraordinário, desenvolvendo a história humana, por si própria, sem qualquer contato com o sobrenatural. Obras assim, evitam que a história seja condenada ao esquecimento e destacam as verdadeiras qualidades de um historiador.
Existem, é claro, profundas dificuldades ligadas a idéia global, sobre a compreensão do passado e tratando-se do mundo grego, a arte visível desse povo está ligada a maior riqueza de fontes em esculturas e imagens, como, as estatuas, os templos e grandes edifícios monumentais, que esclarecem o modo de vida dessa sociedade. Isso está presente em qualquer aspecto dos antigos na Grécia, destacando-se na arte e encenações.

A obra ainda apresenta uma expõe efêmera das mulheres na sociedade romana. Sempre sujeitas ao poder dos homens, ficando em segundo plano na política e nos negócios, esclarece que essa sociedade não era a única da história a sujeitar o sexo feminino ao pouco caso, seres esses que sequer podiam possuir nomes individuais, pelo menos, até uma época relativamente tardia da história. Totalmente submissas e subordinadas as condições da necessidade econômica em que encontravam-se eram subjetivadas a exercer qualquer trabalho. E certo que o que sabe-se sobre as mulheres desse tempo, foi dito por homens, pois, elas não tinham o direito de fazer uso da palavra, já que isso, significaria a acusação de estar expondo-se. “Seu papel era alegrar-se com a alegria e o sucesso dos maridos e do Estado para o qual concebiam e criavam a próxima geração de homens”. p.164.

Finley, ainda ressalta em seu trabalho, outros acontecimentos que transcrevem a história com os aspectos dessa antiguidade, como a questão dos escravos, a filosofia e a sociedade, o sistema político de Esparta e Atenas, tudo de maneira relativa ao bom entendimento do leitor, além da obra contar, com mapas da Itália e mediterrâneo Ocidental, Grécia e Ásia Ocidental, assim como, vastas informações voltadas a notas bibliográficas, que o torna um resumo do mundo antigo, onde podem de suas paginas, a mesma, desvenda diferentes visões dessa história que marcam uma época cheia de mistérios.

Em síntese, o autor focaliza aspectos do mundo antigo, que vão desde Creta Minóica até o declínio do império romano, a mais de vinte séculos depois. Descreve descobertas arqueológicas que tornaram mais acessível a civilização perdida de Creta onde chega a afirmar que talvez os gregos não tenham tomado Tróia e discute o julgamento de Sócrates em 99 a.C. fazendo uma combinação entre as pesquisas mais recentes e a sua imaginação histórica, envolvendo o passado ao presente de maneira moderna ao entendimento dos leitores em sua obra.


Título da Obra- Aspectos da Antiguidade, M.I.FINLEY. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

Título- Tucídides, O moralista (p.53 a 56).

Trecho- A fama das antigas guerras é normalmente construída por mitos e romances. Helena de Tróia, o desfiladeiro das Termópilas, Alexandre, Anibal- São as pessoas e os incidentes que mantêm vivas as guerras. Tal não ocorre com a Guerra do Peloponeso, travada entre Atenas e Esparta de 431 a404 a.C (com uma trégua intermediária de sete anos). Ela sobrevive não por causa de algum evento especial ou por causa da fama de seus participantes (com a discreta exceção de Alcibíades), mas graças ao homem que escreveu a sua história: Tucídides, o ateniense. Nenhuma outra guerra ou diga-se de passagem, nenhum outro tema histórico, deve tanto do que é a pessoa que o registrou.

É uma grande realização. Torna-se ainda maior quando examinamos mais atentamente o homem e o seu livro. Tudo o que sabemos a respeito de Tucídides está contido nos poucos fragmentos de informação que ele mesmo revela e numa bizarra biografa creditada a Marcelino. Mas, sem dúvida, ele era uma pessoa sem senso dehumor e não muito agradável-pessimista, cético, muito inteligente, frio e reservado na superfície, mas presa de fortes tensões interiores que ocasionalmente irrompiam em meio ao tom impessoal de seus estilo complicado e seco, nem fácil nem agradável de ler. Poucos são os grandes escritores, se é que existe algum outro, que soam melhor na tradução que no original. Ele se recusava a fazer qualquer concessão ao público, quer no estilo, quer no tratamento dispensado aos temas. Nada importava, exceto os fatos e as controvérsias, solucionadas por meio da devoção persistente à precisão e ao entendimento. As conclusões, ele as comunicava sem enfeites. O leitor que estivesse à procura da fantasia, que fosse procurá-las em outra parte, diria ele, pois não estou escrevendo com vistas ao aplauso momentâneo, mas à posteridade.

Era um homem jovem, perto dos trinta anos provavelmente, quando a guerra começou. Imediatamente percebeu tratar-se de uma guerra numa escala sem precedentes, e decidiu tornar-se o seu historiador. Não sabemos como procedeu acerca de seus métodos, com exceção de um trecho, breve e famoso, em que discorre sobre a incerteza do testemunho ocular. Minha narrativa, escreve, “baseia-se no que eu mesma vi e nos relatos de outros, após uma cuidadosa pesquisa que tem como propósito obter o máximo de precisão em cada caso... cheguei a minhas conclusões com muito esforço, uma vez que as testemunhas oculares discordam de memória ou por tendenciosidade. Nunca nomeia os seus informantes, e só em duas ocasiões coloca-se como participante direto. Para elaborarmos uma imagem de Tucídides, resta-nos arregimentar um grande número de testemunhas de ambos os lados, questioná-las em detalhe, decidir os dados, avaliar, pensar e escrever. Tucídides leu tudo o que havia para ser lido, o que não era muito, já que vivia num mundo onde imperava a fala, não a escrita. Basicamente, tudo- os debates, as batalhas- precisava ser reconstruído a partir do que ele ouvira ou testemunhava.

Como cidadão ateniense plenamente capaz, Tucídides não pode dedicar todo o seu tempo ao projeto. Todos seriam mobilizados para a guerra. Em 424, porém, foi exilado, acusado de fracassar no cumprimento de uma missão como comandante no Nordeste. Tipicamente, registra o fato de maneira breve e sem comentários, a não ser para acrescentar que agora estava numa posição mais cômoda para obter informações de ambos os lados. Seus ancestrais paternos tinham contatos na Irácia, onde ele possuía algumas propriedades, de modo que pode continuar livremente o seu trabalho. Sobreviveu às toda a guerra, e aparentemente pode retornar a Atenas quando ela terminou, morrendo pouco anos depois.

Quando morreu, alguém (a filha, segundo certa tradição) publicou o manuscrito exatamente como ele havia deixado. E a forma da obra naquele estágio apresenta aspectos bastante enigmáticos. O último livro difere em tudo dos sete que o procedem: parece uma coletânea de notas, organizadas, mas não elaborados. Termina abruptamente no ano 411 a.c, quase sete anos antes do fim da guerra. Seria sensato supor que Tucídides deixou de escrever quando chegou a esse ponto do relato. Contudo, existem trechos substanciais do mesmo volume que não podem ter sido escritos antes de 404, como o que discute a datação exata da guerra e a sua duração. Tucídides obviamente trabalhou na sua história por muito tempo após 411. Mas, ao invés de dar sequencia à narrativa, ele reviu e reelaborou algumas das partes precedentes, e pela primeira vez, inseriu longos trechos no trabalho original. Praticamente não há dúvidas, por exemplo, de que a oração funerária proferida por Péricles no primeiro ano de guerra, assim como o seu último discurso, de 430, não foram registrados por Tucídides na época em que supostamente ocorreram, mas quase trinta anos depois. São as visões do historiador a respeito do poder e das grandes possibilidades de Atenas no início da guerra, escritas à luz da derrota total e desnecessária da cidade. E mesmo antes, no primeiro livro, que descreve com detalhes os incidentes que levaram à guerra, existem algumas frases que se assemelham a notas marginais que Tucídides pretendia reformular e escrever.

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