FINLEY, M. I. Os Gregos Antigos. Lisboa: Ed. 70, 1988

Emanueli Cristina Weber Stremlow

Resenha:
Neste livro, o autor faz um panorama da civilização grega, sintetizando vários temas, dentre eles: Quem eram os Gregos; A Idade das Trevas e os Poemas Homéricos; Períodos da História Grega; Grécia Arcaica; A Cidade-Estado Clássica; Literatura, Ciência, Filosofia e Moral Popular; Artes Visuais e, por fim, A Era Helenística. O livro ainda conta com uma vasta bibliografia e diversas ilustrações, que nos ajudam a entender melhor a vida e a cultura do povo grego.

FINLEY faz uma análise de como essa civilização se desenvolveu, materialmente, socialmente, politicamente e culturalmente.

Quando se trata da origem dos gregos, o autor nos faz entender que as populações que falavam “proto-grego” emigraram por volta do início do segundo milênio a.C., para a Península da Grécia. Essa população ajudou a caracterizar a civilização que chamamos Micénica, no período entre 1400-1200 a.C. (p.13). Nos tempos Micénicos os gregos eram conhecidos como Aqueus (segundo registros de seus contemporâneos Hititas). No decorrer da Idade das Trevas o nome que passou a designar o conjunto dos gregos foi o termo “Helenos”.

Todos os gregos tinham consciência de fazer parte de uma única cultura, “seres da mesma raça e com a mesma língua, possuindo santuários comuns dos deuses e iguais rituais, costumes semelhantes”, como se expressa Heródoto (VIII 144). O autor comenta a frustração dos historiadores para reconstituir a vida desse povo através de resquícios materiais, dois longos poemas (Ilíada e Odisséia) e as tradições e mitos dos gregos. (p.17).

A sociedade grega, nos poemas de Homero, é formada por reis e nobres, que possuíam muitas terras e rebanhos e, que levavam uma vida de esplendor e de guerras. A educação era uma responsabilidade particular e não do Estado e os rituais religiosos eram emocionantes e estimulantes, mas resumiam-se em mitos.

Politicamente falando, nos mostra que a Grécia era composta por cidades-estado, por causa da sua pequena área e população. A palavra polis (um dos seus significados é político), significava um “estado que se governava a si mesmo”. Na polis grega não era tanto a política que causava as divisões mais sérias, mas a questão de quem iria governar, se “os poucos” ou “os muitos” (p.52). Na Grécia, se o individuo não nascia dentro de uma polis-comunidade, era quase impossível ingressar nela e consequentemente não tinha o direito de ser um cidadão.

A polis foi uma “concepção brilhante”, mas conseguiu realizar-se apenas em um curto espaço de tempo e não teve nenhum futuro.

O livro não se trata de uma narrativa e nem de um livro de consulta, como diz o autor em seu prefácio. Mas nos permite esclarecer várias dúvidas sobre como essa civilização se desenvolveu nas suas grandezas e fraquezas.


Trecho Selecionado:

“Guerra e Império”

Devido à sua situação geográfica, os gregos continentais estiveram durante muito tempo isentos de pressão estrangeira direta, e de ataques. O mesmo não se passou, contudo, com as colônias a oriente e ocidente. Para além de problemas freqüentes com povos mais primitivos, como os Citas ou os Trácios, respectivamente a norte e a oeste do Mar Negro, havia a ameaça mais séria dos impérios poderosos e civilizados. Na Ásia Menor, as cidades gregas caíram sob a soberania dos Lídios no século sexto, e depois, sob a dos Persas. Na Silicia, foram repetidas vezes invadidas por Cartago, que mantinha um bastião na ponta ocidental da ilha, sem nunca ter conseguido conquistar o resto.

O domínio persa significava pagamento anual de tributo, que era considerável, mas não esmagadora passividade nos assuntos externos, e liberdade econômica e cultural. Foi ao apoiar os tiranos que a Pérsia mais se imiscuiu na vida interna dos estados gregos, o que acabou por levar à revolta que eclodiu em 500 ou 499, em circunstâncias que estão longe de ser claras. Os Jônios pediram logo auxilio aos gregos continentais e não receberam nenhum, salvo vinte barcos da recente democracia ateniense, e cinco, de Erétria, na Eubeia. Mesmo assim, a Pérsia quase levou uma década a recuperar o total controle e culminou o seu sucesso com duas invasões maciças da própria Grécia, a primeira em 490, ordenada pelo rei Dario, a segunda em 480, sob o seu sucessor, Xerxes.

Muitas comunidades, à sua recusa em ajudar os Jônios, acrescentaram uma rendição perante os invasores. Foram apelidadas depreciativamente de “medistas”- e mesmo o oráculo de Delfos teve um papel equívoco, na melhor das hipóteses. Os Espartanos, apoiados na Liga Peloponésica, possuíam o único exército poderoso ao lado grego, mas, em parte por causa das dificuldades internas, e também devido a uma concepção estratégica falsa, foram lentos na defesa, embora provassem aquilo de que eram capazes, nas Termópilas e, mais tarde, em Plateias. Ficou reservado a Atenas vibrar os golpes mais significativos: Maratona em 490 e Salamina em 480.

Este último foi notabilíssimo: persuadidos por Temístocles, os atenienses aumentaram rapidamente a sua frota, saíram da cidade quando os Persas chegaram, deixando que a destruíssem, e, depois, com os seus aliados, esmagaram os invasores numa grande batalha naval.

A partir daí, Atenas e, por conseguinte, a história da Grécia Clássica, alicerçou-se no domínio dos mares.

Os Persas tinham sido vencidos a custo; não foram dizimados. Era opinião geral que regressariam para uma terceira tentativa (que, por fim, o não tenham feito deveu-se em grande parte a problemas internos no seu império, que não podiam ter sido previstos). A prudência normal requeria, pois, medidas antecipatórias de conjunto e, uma vez que tinham que ser tomadas no Egeu e na costa da Ásia Menor, mais do que no continente, era natural que se entregasse o comando a Atenas. Organizou-se uma coligação sob a hegemonia de Atenas, com um centro administrativo na ilha de Delos (daí ser denominada pelos historiadores como Liga Delia). Arquitetada pelo ateniense Aristides com base num sistema de contribuições em barcos e marinheiros ou em dinheiro, a Liga afastou a frota Persa do Egeu no espaço de uma década. À medida que o perigo se foi atenuando, renasceu o velho desejo de total autonomia, mas Atenas não permitiu qualquer retirada, esmagando qualquer revolta. Desse modo a Liga tornou-se um império, e o símbolo da transformação foi a mudança da sede e tesouros de Delos, em 454, para Atenas. À exceção de três, todos os estados-membros contribuíam agora com dinheiro e não com barcos, o que significava que Atenas fornecia, dirigia e controlava virtualmente a frota inteira. Para se ter uma idéia da grandeza do contributo anual, diga-se que era aproximadamente igual ao rendimento público ateniense, oriundo de fontes internas.

Durante o quartel seguinte, o Império Ateniense constituiu o fato singular mais relevante na Grécia, e Péricles foi à figura dominante nos assuntos de Atenas. A sua política foi expansionista, embora altamente equilibrada e disciplinada. Reforçou consideravelmente as alianças de Atenas na Trácia e no sul da Rússia, o que teve um significado estratégico, mas, acima de tudo importante, por serem a fonte das importações cerealíferas vitais de Atenas. Estabeleceu alianças com a cidade da Silicia; tentou, sem sucesso, atacar o Egito, chegou a acordo com a Pérsia. Porém as relações de Atenas com Esparta agravavam-se progressivamente. Amigáveis, pelo menos, de maneira formal, nos anos que se seguiram às Guerras Pérsicas, os dois blocos de poder entraram em conflito aberto por volta de 450, com algumas lutas efetivas, e depois voltaram a uma paz incomoda, que durou mais de duas décadas.

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