AYMARD, A. & AUBOYER, J. HISTÓRIA GERAL DAS CIVILIZAÇÕES: Vol.5. Rio de Janeiro: Bertrand, 1994

Emanueli Cristina Weber Stremlow

“História Geral das Civilizações” é uma obra contendo XVII volumes, contendo uma análise de temas como: As Civilizações Imperiais da Grécia, Roma e seu Império, a Idade Média e assim por diante até chegar à Época Contemporânea, com o desmoronamento dos Impérios Coloniais e o Surto das Técnicas.

Em um de seus volumes, mais precisamente no volume V, os autores nos fazem compreender questões importantíssimas sobre as Civilizações Romanas (FIM) e sobre a Ásia Oriental do Inicio da Era Cristã ao Fim do Século II.

Como essa obra é uma “coleção”, os capítulos iniciais referem-se ao volume anterior, tratando as Civilizações Romanas. Neste contém as novidades econômicas e sociais, as sociedades Laica e Eclesiástica, o pensamento e a arte e por fim a morte e o legado de Roma Antiga.

Já nos capítulos sobre a Ásia Oriental, Aymard e Auboyer percorrem vários caminhos para que os leitores viajem no tempo e conheçam mais sobre as culturas, a vida social, religiosa, a evolução filosófica, a arte e inúmeras outras etapas do Oriente, fazem um paradoxo entre Irã, Índia, China e Japão, aprofundando-se em China e Índia, por serem duas grandes potências.

As relações comerciais nos primeiros séculos da nossa era foram prósperas, pois a via aberta por Alexandre Magno e partindo do mundo Ocidental para o Oriente, atingia seu pleno desenvolvimento, por os estabelecimentos da China e da Índia serem organizados em ampla escala e, pela necessidade do Império Romano em possuir “artigos de luxo”. (p.145)

Pelas mesmas vias das relações comerciais, desenvolvem-se as relações diplomáticas e, os contatos religiosos e intelectuais, no inicio da era cristã.

Quando tratam do desenvolvimento da Índia, nos permitem entender que a base da economia indiana é constituída pelo comércio, pela indústria e também pela agricultura. Pois toda vida social dessa sociedade é composta pelo real. O rei surge como um personagem ideal e mais que isso é o representante do divino no plano humano.

Tratando da vida religiosa, nos falam que o budismo transforma-se em uma filosofia e numa doutrina para os dialéticos, por conseqüência da separação entre religiosos e leigos. É o próprio que assume a iniciativa, pelo resultado de uma dominação política dos indos-gregos, convertidos ao budismo.

Quando tratam do desenvolvimento da China, nos permitem perceber que nos tempos do Han, tirando duas capitais imperiais e outras duas ou três capitais de antigos principados feudais, não há, nesta época grandes cidades na China. (p.192). A maioria da população vive no campo, portanto a massa é rural e não urbana.

A introdução do budismo na China ocorre em meados do século I da era cristã. E esta penetração parece estar relacionada com as conquistas da China na Ásia Central. (p.223)

Em síntese, o livro é uma enorme contribuição para todos aqueles que se interessam pela história e pela cultura dos povos da antiguidade e, ainda, contém uma excelente bibliografia, separada por capítulos o que torna o livro mais fácil de ser entendido.


Trecho Selecionado:

A China

Ao lado deste bloco indiano, também a China atravessa uma grande época, a da paz dos Han posteriores, que é apenas o prolongamento das instituições dos Han anteriores. A cisão entre os primeiros e os segundos produziu-se no ano 8 da era cristã, quando Wang Mang usurpou o trono. Wang Mang, letrado e ministro da corte, era um teórico do confucionismo; uma vez no trono, tentou aplicar uma reforma do regime da propriedade de acordo com o socialismo confuciano. Chocava-se contra um estado de coisas completamente diferente: há séculos, e ainda mais sob os Han, a grande propriedade desenvolvera-se amplamente, em detrimento dos pequenos proprietários e dos homens livres que se tornaram clientes ou escravos. E, da mesma forma que, na Palestina, Cristo reprovava os maus ricos, assim também o chinês Wang Mang, seu contemporâneo, pretendia lutar contra a tal escravização. Estabeleceu um socialismo agrário e obstinou-se em aplicá-lo; decretou uma partilha de terras, fundou uma economia dirigida a fim não só de nivelar os preços, mas de constituir reservas para as épocas de fome. Seu programa ia de encontro a mentalidade dos conservadores e dos legitimistas; resultaram daí perturbações sociais; uma violenta rebelião camponesa explodiu no Chang-tong e durou três anos. Disto aproveitou-se o partido da oposição. Wang Mang teve de abandonar o trono, e os legitimistas restauraram a dinastia dos Han, confiando sua chefia a um representante do ramo secundogênito da família. Inaugurada em 25, essa nova fase na historia chinesa prolongar-se ia até 220. A bem dizer a interrupção de 17 anos que então se verifica, em nada mudou o curso da evolução chinesa. A China dos Han posteriores retomou seu desenvolvimento interno e externo como se nada de anormal houvesse acontecido. Intelectualmente, ela se estabilizou, tanto quanto anteriormente, num tranqüilo conformismo. No domínio estético continuou a evolução preparada na época precedente, e de maneira tão fiel, que se torna, por vezes, difícil distinguir certas peças Han do estilo dos Reinos Combatentes.

Os segundos Han contribuíram para dar a China um vasto império. A conquista da Ásia Central, já iniciada pelos seus predecessores, foi não só levada a termo, mas solidamente organizada em protetorado, graças à energia do capitão chinês Pan Tch’ao, que, de 72 a 102, organizou e administrou os oásis do deserto de Gobi. Tais oásis eram então ricamente cultivados e serviam de ponto de escalas as caravanas da rota da seda que para alem do Pamir, punham o mundo chinês em relação com o mundo indo-iraniano e, por seu intermédio, com a Roma dos Antoninos. De resto, tratava-se apenas da continuação do período precedente, quando as influencias ocidentais chegaram até a china. Pan Tch’ao teria mesmo desejado estabelecer relações comerciais e políticas com Roma, mas sua tentativa fracassou. Nem por isso o comercio foi menos ativo ao longo de toda esta imensa rota, pois como observa René Grousset, a Pax Sinica estendia a mão a Pax Romana por intermédio do Irã parto.

Os chineses do século III formavam um conceito bastante elevado sobre o poderio Romano; no concernente ao oriente romano, conheciam uma serie de dados, muitos dos quais lhe chegaram por via oral e, portanto, deformados; entretanto, sua narrativa pode oferecer certa curiosidade: ”Há, na região de Ta Ts’in (sob este nome designavam o Império romano de então, isto é, o “Grande Ts’in”), mais de 400 cidades. A residência do rei fica a beira do estuário de um rio. Utilizam-se pedras na construção de muros das cidades. Neste país há pinheiros, ciprestes, sóforas, olmos, salgueiros e todas as espécies de outras plantas e árvores. Pratica-se a agricultura com todas espécies de cereais. Os animais domésticos, são o cavalo, o burro, a mula, o camelo. Há muitos saltimbancos capazes de cuspir fogo, de atar-se desatar-se e dançar sobre 20 bolas. Esta região não tem senhor, soberano permanente; mas, mas quando uma calamidade extraordinária a assola, escolhe-se um rei digno, e o rei substituído não ousa sequer mostrar agastado com a decisão .(trata-se aqui de uma alusão, antes da época imperial, ao papel dos cônsules.) as pessoas são de alto porte, justas nas suas ações, como os chineses, mas usam o traje dos estrangeiros, e seu país é considerado outra China (o que explica o nome Ta Ts’in)(...) os palácios do rei são considerados sagrados. Usam-se bandeiras, batem-se tambores, empregam-se carros com a parte superior branca, e há escalas postais estafetas, como na China. A cada 10li há um pavilhão e a cada 30li um posto importante. Não há salteadores, mas há animais selvagens capazes de atacar os viajantes, sendo prudente viajar apenas em caravana. Conta-se cerca de uma dezena de reis tributários. A residência do rei tem mais de 100li de circunferência. O rei tem cinco palácios. Toma conhecimento dos assuntos judiciários ou administrativos num palácio desde a manha até a noite e, no dia seguinte, vai a outro palácio. Os generais são em números de 36 (numero sagrado na china) e sempre são consultados quando se trata de resolver assuntos de ordem política. Se um deles não vai à reunião, esta não é realizada. (...)

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