FARRINGTON, B. A Ciência Grega e o Que Ela Significa Para Nós. São Paulo: Ibrasa, 1961.

Nome: Vanessa Fátima dos Santos

Resenha: No livro o autor busca explicar o desenvolvimento da ciência grega, a sua relação com a filosofia, à prática e técnicas do cotidiano e suas bases econômicas.

A ciência grega mesmo com algumas controversas, segundo o autor é uma das antigas civilizações próximas, com traços próprios, os gregos se destacam pela capacidade de pensamento racional.
O surgimento dessa ciência provoca grandes mudanças sociais, como exemplo citado pelo autor, à divisão do trabalho, a aparição de uma classe pensante, o progresso nas escritas e na astrologia, que não era considerada apenas algo curioso.

No capitulo que fala sobre tradições religiosas, Farrington afirma que Pitágoras, considerado um dos mais ilustres da ciência grega, é o fundador da tradição religiosa, e suas idéias estavam ligadas a política e a religião e a matemática, que juntas seriam a chave do mistério do universo e uma forma de purificação da alma. A comunidade pitagórica era religiosa e dedicada à pratica do ascetismo e aos estudos da matemática.

O autor manifesta-se contrário a Platão, mesmo afirmando que nada ele deixou de contribuição à ciência matemática o considera um dos homens mais inteligentes da história grega.

O período pré-socrático, embora fosse dividido pela carreira de Sócrates, é a época de formação da ciência, onde o interesse da filosofia natural estende-se pela política e pela ética, nesse período segundo o autor, o desenvolvimento técnico foi o que mudou a estrutura social, baseada principalmente na exploração da terra, em uma nova forma de sociedade que se dirigia principalmente para a área industrial, assim formou-se uma classe nova na sociedade, que era formada pelos industriais e comerciante, onde essa classe logo dominou o poder político das cidades.

Sobre a escravidão Farrington afirma que ela se estabeleceu para tornar o rico mais rico, o pobre que não tinha muita escolha levava uma vida parasitária e ociosa, pois a sociedade falhou quanto a organização dessa classe, pois não disponibilizou um sustento para ele conseguir sobreviver a suas próprias custas, tornando assim a sociedade uma área de luta entre cidadãos ricos e pobres, pelo que era produzido pelos escravos.

Na segunda parte do livro ele fala sobre o fim da ciência grega, deixando de ser uma força ativa, mas a fala também do seu renascimento junto com a ciência moderna, onde essa tem como origem a ciência grega e com maior feito a ressurreição do sentido histórico, a influência exercida pelo homem em seu destino, e quando a ciência moderna surge, os pioneiros retomaram a antiga tradição grega.

O autor levanta a questão do porque a ciência grega deixou de ser uma ciência presente no meio social, e porque ela voltou com tanta força na ciência moderna, através da explicação das suas relações com os desenvolvimentos técnicos sociais e políticos.

O tema abordado no livro situa-se entre os séculos VI e V. a.C.


Titulo do Trecho Selecionado: A divida da ciência grega as mais antigas civilizações do oriente Próximo

É verdade que houve uma astrologia babilônica, primitiva e ingênua, a qual procurava prever as inundações, secas, epidemias, guerras – isto é, acontecimentos que se referiam ao país ou ao rei, e não ao individuo. Mas a astrologia que consiste na obtenção do horóscopo, ligando o destino dos indivíduos às estrelas, como se entende hoje tal prática, parece ter sido produto da ciência alexandrina e era desconhecida no Egito antes da conquista da Grécia pelos macedônios. (Martin P. Nilsson, The Risse of Astrology in the Hellenistic Age, Lund, 1943.) Este exemplo aconselha-nos cautela na aceitação das opiniões tradicionais sobre a relação da Grécia com as civilizações pré-helênicas.

Titulo do Trecho Selecionado: Técnica e Ciência

È evidente a existência de uma ciência anterior a civilização, o que se mostra pelo comportamento dos povos selvagens contemporâneos. Driberg, excelente observador, assegura-nos que os selvagens são seres racionantes, capazes de interferências, pensamento lógico, argumentos de especulação. “Há selvagens que são pensadores, filósofos, profetas, dirigentes e inventores.” Driberg insiste no caráter verdadeiramente cientifico de algumas das atividades dos selvagens. “Não só o selvagem se adapta ao seu ambiente natural, como também adapta o ambiente a suas próprias necessidades. É esta interminável batalha entre as forças da natureza e o engenho humano que conduz eventualmente a alguma forma de civilização. “Os selvagens” dispõem de meios complexos para o abastecimento de água potável; praticam a irrigação; plantam árvores com múltiplos objetivos: para melhorar o solo, para livrar-se do vento, por motivos estratégicos ou a fim de ter matéria-prima para suas armas, ou fibras para fiar; constroem barragens nos rios, e preservam a caça. De séculos ou milênios de tais atividades surgem as artes e os ofícios em que se baseia a civilização.

Titulo do Trecho Selecionado: A atitude platônica ante a filosofia natural

Por estas razões e muitas outras, atraiu e atrai ainda, um grau de atenção a que os filósofos sofistas anteriores não podem aspirar. Contudo, o grande prestigio desta obra constitui uma dificuldade para o historiador da ciência. Muito escreveu Platão sobre os problemas da epistemologia, que se acham no limite entre a filosofia e a ciência. Sua envergadura de filosofo é indubitável; no entanto sua contribuição para a ciência é discutível. Merece ele na história da ciência o mesmo lugar que se lhe reconhece em filosofia? A ciência anterior a Platão tinha realizado notáveis progressos, que podem ser, a largos traços, classificados em três secções. O primeiro passo decisivo, que associamos especialmente aos filósofos de Mileto, foi a nova atitude de tentar a explicação dos fenômenos da natureza – incluindo a natureza humana – sem nenhuma intervenção sobrenatural. Em segundo lugar, encontramos os começos de uma técnica rudimentar de investigação da natureza mediante experimentos. Na Jônia, na Sicília, na Itália e na própria Atenas houve um incremento da prática da experimentação e da observação o que pela maior compreensão das suas conseqüências filosóficas, determinou um agitado debate sobre a validade da prova dos sentidos. Em terceiro lugar, ainda que importância disto haja sido pouco reconhecida, e o fato tenha sido negado por alguns, veio a conexão fundamental entre a filosofia e a técnica, que determinou o caráter da primitiva filosofia da natureza.

Titulo do Trecho Selecionado: A visão da alma e do corpo

Aqui, novamente, como na questão de fazer reviver a fé na divindade das estrelas, Platão significa uma reação. Também, como antes, devemos dizer algo em seu favor: Platão nada trouxe para a ciência no que diz respeito a observação e a experimentação; é duvidoso que a matemática lhe deva algo.

Platão foi ainda mais longe no desprezo da capacidade intelectual dos técnicos, não só despejando-os da sua própria qualidade de inventores também negado haver qualquer verdade cientifica na arte da manufatura. Com engenhoso sofisma, Platão prova, na mesma passagem da republica, que quem possui o verdadeiro conhecimento cientifico de uma cosia não é quem faz, mas quem a usa. Este é o único que possui a verdadeira ciência, a qual deve transmitir ao fabricante para que este tenha assim “correta opinião”. Esta doutrina exalta a situação social do consumidor e reduz, por sua vez a do produtor, sendo evidente sua importância na sociedade fundada na escravidão. Ao escravo que fábrica coisas não lhe pode permitir que ele seja possuidor de uma ciência superior à do senhor que as utiliza. Constitui isso uma barreira efetiva contra o avanço técnico, e contra a verdadeira história da ciência. Platão preparou o caminho para a concepção grotescamente anti-histórica, que foi mais tarde corrente na antiguidade, de que os filósofos é que tinham sido criadores da técnica que depois ensinaram aos escravos.

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