DIEHL, CHARLES, Os Grandes Problemas da Historia Bizantina, São Paulo: Editoras das Américas, 1961.

Acadêmico: Ivanilso Antonio Trojan

Resenha:
Neste livro o autor mostra de que forma surgiu a Império de Constantinopla, sua influencia na Idade Média e de que forma entrou em decadência depois de 1000 anos de história.

O autor do livro busca lançar uma luz sobre os fatores que contribuíram para a decadência do Império, ou seja, analisa todos os entraves sociais, políticos e militares que podem ter contribuído para a decadência deste Império. O autor que também enfatiza que este Império, que perdurou por mil anos, teve vários problemas, porem também deixou um legado próprio, não podendo ser definido como apensas a continuação e a decadência do Império Romano. Bizâncio, depois rebatizada de Constantinopla em homenagem a seu fundador Constantino, quando fundada visava ser apenas uma continuidade de Roma, a capital do Império Romano. Porem, devido a grande diversidade de sua população; composta por gregos, armênio, capadocios, semitas, egípcios; esta civilização adquiriu cultura própria, embasada na diversidade das raças, que a constituíram. Em meio a este ambiente surgiram vários teólogos, escritores, filósofos, sábios eruditos que alavancaram o prestigio de Constatinopla, atraindo para o local também a prosperidade do comercio, atraindo pessoas que vinham comprar e vender os seus produtos, indivíduos que pretendiam incorporar-se ao exercito ou então estudar na Universidade de Constantinopla. Neste meio cultural também floresceram as letras e as artes, que podem ser vistos até hoje, como por exemplo, no estilo arquitetônico de algumas igrejas. O imperador Bizâncio era o grande herdeiro dos cessares, romanos e, a ele,cabia legislar e comandar o exercito. O Império foi governado por vários soberanos sendo que, na sua maioria das vezes, o poder era tomado à custa de envenenamento e mortes violentas, uma vez que o Império carecia de leis de secessão para determinar a transmissão do poder. Vários imperadores tinham origem humilde antes de subirem ao trono, eram camponeses, artesãos, escudeiros. A partir de Basílio I surgiram as dinastias, ou seja, as famílias imperiais. As tomadas violentas do trono, através de conspirações e mortes, levaram ao surgimento de guerras civis e, consequentemente ao enfraquecimento do poder do imperador. Constantino elegeu o Cristianismo como a religião oficial do Estado e a submeteu ao controle do imperador, dando-lhe o direito de intervir na escolha dos patriarcas de Constantinopla, como também podia levá-lo a abdicar do cargo. A igreja submetia-se as ordens do imperador considerando que o imperador era o supremo senhor da fé. Assim sendo a igreja oriental manteve-se a mercê dos soberanos enquanto a Igreja Ocidental, governado pelos papas tornava-se independentes dos papas. Sob o enfoque militar, Bizâncio era uma fortaleza erguida por Teodosio. Constantinopla resistiu as invasões bárbaras, figurando como a única capital que não caiu nas mãos dos bárbaros, devido a solidez de seu exercito, conforme afirma o autor “bárbaros jamais tomaram o lugar dos Imperadores Bizantinos” (p. 37), a decadência do poderio do exercito começou com o aumento da burocracia civil e com a desconfiança a respeito dos grandes chefes militares e seus comandados, tendo como conseqüência o desprezo das instituições militares. Com o poderio militar enfraquecido foi o fim do Império. Talvez o que realmente foi a causa da decadência do império foi o conflito dos administradores com os grandes proprietários de terra, eles queriam, e na grande maioria da vezes conseguiam, desapropriar os pequenos proprietários, gerando desta forma um problema social e agrário. Com o passar do tempo a pequena propriedade estava se extinguindo. Em conseqüência diminuía o numero de homens livres, pois ao passarem suas terras para o senhor feudal, indiretamente se tornavam seu escravo, desta forma aumenta o atrito com o imperador. A cada capítulo do livro o autor discorre sobre os problemas do Império, decorrentes de diversas causas que, na sua somatória, contribuíram de forma decisiva para a decadência do Império Bizantino. Apesar dos entraves políticos e sociais, este Império também teve suas virtudes, deixando um grande legado nas artes e letras. A história talvez tenha mantido o Império Bizantino na obscuridade, pelo fato de haverem poucos autores dedicados ao seu estudo, relegando esta fase simplesmente como a parte final e decadente do grande Impero Romano.


Título do Trecho selecionado: “O Império Bizantino”

Trecho: Para bem compreender o que foi o império bizantino, devemos apresentar primeiro, em breve esboço, os grandes períodos de sua história. Veremos assim que, contrariamente ao que se costuma pensar, esse império foi capaz de muita energia e de verdadeira grandeza, e que, se, conheceu fracassos gritantes, e se terminou em decadência tão lamentável, conheceu também, e muito mais do que se crê, períodos de êxitos magníficos, de influência largamente difundida, e de dias de glória incontestável, nos quais, segundo expressão de um poeta bizantino, "o império, mulher idosa, parecia uma jovem enfeitada de ouro e de pedras preciosas".

Mudando para Constantinopla a capital da monarquia, Constantino preparava o nascimento do império bizantino. O século V determinou essa evolução. A grande invasão, sem poupar completamente o império romano do Oriente, - Alarico, Átila e Teodorico, em certos momentos foram inimigos temíveis - foi menos desastrosa que para o Ocidente, mas teve conseqüências importantes. A queda do império romano do Ocidente, o estabelecimento de reinos germânicos, sobre suas ruínas, tiveram como efeito rejeitar cada vez mais para o Oriente tudo o que subsistia do antigo império romano. Por outra parte, a crise religiosa, nascida da heresia monofisista, teve como resultado, sobretudo depois do concílio de Calcedônia (451), tornar mais difíceis as relações entre o império e o papado, a tal ponto que um verdadeiro cisma separou Constantinopla de Roma. Por isso, quando o imperador Zenão, para apaziguar as lutas religiosas, promulgou o edito de união (482), quando o imperador Anastásio tomou uma atitude cada vez mais intransigente: a respeito do papado já aparecia a concepção de um império puramente oriental, vivendo vida à parte e onde se encontravam alguns dos traços característicos do que viria a ser o império bizantino: monarquia absoluta, à maneira das monarquias orientais; administração fortemente centralizada; Igreja cuja língua era a grega, e que por isso mesmo tendia a se constituir organismo independente, e que por outra parte dependia estreitamente do Estado que governava. A evolução que arrastava Bizâncio para o Oriente parecia chegar ao fim.
Enquanto no Ocidente, no século V, o império romano se desmoronava sob o choque das invasões bárbaras, e na Gália, na Espanha, na África, na Itália, reis bárbaros substituíam o governo dos casares, Bizâncio conhecia outros destinos. Sem dúvida também sofreu com o choque das invasões, as dos hunos e dos eslavos nos séculos V e VI, as dos avaros nos séculos VI e VII, as dos árabes e búlgaros no século VII, e essas invasões, de modo definitivo ou passageiro roubaram-lhe partes importantes do terr­itório, ao mesmo tempo em que deixaram às vezes no interior do império tribos bárbaras que, aliás, fundiram-se bastante depressa dentro da unidade Bizantina. Mas Constantinopla jamais caiu nas mãos dos invasores; os soberanos bárbaros jamais tomaram lugar dos imperadores bizantinos, e na capital inviolada da monarquia continuaram vivas a lembrança de Roma e a tradição romana. O imperador bizantino considerava-se sempre como sucessor legítimo e continuador dos cessares; pretendia ser o único com direitos de ostentar o nome de imperador.

Em todas as fronteiras o império tinha inimigos perigosos; a defesa do território, portanto, era uma das grandes preocupações dos imperadores. De que modo os soberanos procuraram resolver o problema militar, mais sério do que qualquer outro, e em que medida conseguiram?
Uma coisa importava sobretudo: possuir um bom exército. "O exército - diz um imperador - é para o estado o que a cabeça é para o corpo. Se não cuidarmos bem dele, estaremos comprometendo a sal­vação do próprio império". E, com efeito, enquanto o exército permaneceu sólido, o império continuou a existir. De que elemento se compõe esse exército? Em primeiro lugar, o recrutamento nacional, que sempre existiu, e conservou sua importância. No decorrer do século VII, e talvez mesmo desde a época de Herácli, aparece um novo regime, a dos feudos militares, que se aplica tanto aos súditos do império como a certos elementos estrangeiros. Consiste essencialmente na concessão de terras sob a condição, para o beneficiário, de prestar o serviço militar; e para assegurar a continuidade desse serviço, a terra doada goza de certos privilégios: é inaliená­vel insequestrável, hereditária, e um dos filhos deve substituir o pai, se este se torna incapaz de servir.

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