DONNER, Herbert. História de Israel e dos povos vizinhos, Volume 1. São Leopoldo: Sinodal, 1997.

Nome do Aluno: Marieli Ivancheski Padilha

Resenha:
Herbert Donner mostra-nos neste livro que não se pode fazer uma pré-história de Israel sem analisarmos os países do Oriente Antigo.

As fontes literárias quanto às arqueológicas são muito importantes para se estudar este lugar, como diz o autor “a história de Israel deve ser apresentada a partir das fontes” (p.17). É este o assunto que ele demonstra ter entendido muito bem, além de explicar sobre o tempo dos patriarcas, os quais com as suas famílias e seus rebanhos andam de um lugar para outro, procurando a Terra Prometida. O Gênesis é o único documento literário que conserva a história deles e suas tradições. Esses temas nos ajudam e muito na compreensão do porque surgem tantas dúvidas sobre o povo de Israel, pois as fontes são poucas, e a maioria delas é bíblica, onde se complica mais ainda, porque ele deve ser estudado junto com os outros povos vizinhos, como o Egito, Mesopotâmia, Síria e Palestina.

O livro ainda faz uma análise da história primitiva de Israel, desde o início e o seu desdobramento, com as suas conseqüências e outras explicações. Além disso, é mostrado como era a vida e instituições das tribos israelitas que viviam na palestina durante a época dos juízes, mas este período traz pouca informação sobre eles.

Oferece-nos também um grande contexto sobre o período de formação dos reinos nacionais israelitas no solo palestiniense antes da formação da monarquia entre alguns povos. Este período foi muito complicado, pois era preciso passar por processos de aprendizagem para se saber administrar certa região.

Davi fundou o reino de Judá e assumiu uma união pessoal entre o seu reino e Israel, comenta o autor. Ele também cita que “Davi se tornou rei de Israel através de um autêntico trabalho bilateral, no qual os deveres e direito de ambos os lados certamente estavam bem definidos” (p 226).

Com a ajuda bibliográfica bastante vantajosa que o autor nos apresenta, é fácil de entender o livro e compreender como Davi se tornou rei Israel e Judá. Depois de este rei morrer quem assumiu o seu lugar foi seu filho Salomão, o qual tinha muitas relações com a costa da Fenícia e algumas outras cidades.

A partir desses relatos o autor nos confirma que não é possível perceber tudo sobre Salomão, mas que um dos objetivos dele era ter prioridade na política. Mas o autor não cometa só sobre os reinos, ele também relata a saída do Egito e a grande caminha da pelo deserto, o qual Moisés foi o comandante.

Assim, a obra assume um caráter muito responsável, com uma linguagem fácil, além de trazer uma boa cronologia retratada pelo historiador Eduard Meyer ao final deste primeiro livro, demonstrando as datas mais antigas, que são possíveis calcular e a duração que cada rei conseguiu ficar no poder. O autor continua caracterizando o povo de Israel no segundo volume de sua obra a qual fala sobre a época da divisão do reino ate Alexandre Magno.

Uma análise bem feita com o aprofundamento das pesquisas bíblicas, assim foi tratado o primeiro volume de História de Israel e dos povos vizinhos, com a tarefa de mostrar como surgiu e evoluiu um povo onde esta cercado de dúvidas.


Título do Trecho selecionado: “Israel, e seus patriarcas”

Trecho: Israel surgiu do solo da terra cultivada palestinense. A fase de seu surgimento e de sua primeira existência, de seu início e de seu desenvolvimento deve ser exposta historicamente sob o conceito básico “história primitiva de Israel”. Ela se estende até a formação do Estado sob os reis Saul e Davi. Daí resulta que tudo o que precede este período deve ser tratado sob o título “pré-história de Israel”—não obstante o fato de o AT afirmar o surgimento de Israel já no Egito e a partir dali contar com sua existência como uma grandeza pronta sob a direção de Javé e de Moises.

A situação não é tal, que não soubéssemos nada sobre a pré-história de Israel. No Israel da época posterior à tomada da terra, mais ainda após a formação do Estado, circulavam numerosas tradições sobre a época primitiva, que mais cedo ou mais tarde foram fixadas por escrito. São tradições sobre a época em que os israelitas e seus antepassados ainda não se encontravam na Terra Prometida, ou pelo menos não definitivamente. A promessa divina da posse da terra havia sido dada, mas ainda não cumprida. Do conjunto da tradição podem-se extrair três grandes temas em torno dos quais essas tradições giram e às quais se referem: os patriarcas, o êxodo do Egito e o estabelecimento da aliança junto ao monte de Deus no deserto. Com o passar do tempo estes temas se tornaram pilares fundamentais da fé de todo o Israel. Transcenderam seu significado original limitado e alcançaram importância para todo o Israel. Depois que se conclui esse processo de surgimento das tradições, Israel encontrou nelas sua identidade nacional e religiosa.

O resultado literário final desse complicado processo de tradição é o Pentateuco, ou — uma vez que o Deuteronômio deve ser tido como grandeza independente — o Tetrateuco de Gênesis até Números. Ninguém com formação histórica confundirá a exposição do Tetrateuco em seu conjunto e as diversas tradições nele reunidas com historiografia. Da mesma maneira, porém, não deveria haver dúvida de que as tradições da época primitiva conservam lembranças históricas que, mediante a aplicação de métodos históricos, deverão ser exploradas e avaliadas a partir da forma final em que se apresentam a nós. O esforço em relação a isso é mais necessário ainda pelo fato de as fontes literárias extra-israelitas para a pré-história de Israel serem muito escassas. E sem a constante consideração das tradições literárias do AT, os resultados da investigação arqueológica da Palestina — material da primeira categoria ara o historiador! — são mudos ou induzem ao erro. Quem trabalha com a pré-história de Israel se encontra em situação semelhante á de quem precisa, a partir de Quinto Fábio Pictor em Políbio, a partir de Lívio e Dionísio de Halicarnassos, reconstruir a história romana ab urbe condita [“ desde a fundação da cidade”] até a instituição da república. Como no caso dele, evidenciar-se-á que com métodos históricos se consegue obter mais conhecimento históricos do que inicialmente seria de se esperar.

Os Patriarcas — O único documento literário que conservou tradições dos patriarcas é o Gênesis (Gn 12-35). É bom alvitre esclarecer enfaticamente que do Gênesis não se pode extrair p.ex., o quadro de uma época dos patriarcas como parte da história de Israel ou até do Oriente Antigo. Israel ainda não existe na época dos patriarcas nem sequer conforme o testemunho do próprio AT, e o Oriente Antigo fica em grande parte excluído da perspectiva. O Gênesis narra nada mais do que a história de uma família ao longo de três gerações num horizonte muito restrito, quase sem efeitos para fora e a partir de fora. As evoluções e mudanças políticas e culturais experimentadas pelo Oriente Antigo no 2º milênio a.C. tocaram as tradições dos patriarcas de modo apenas marginal e quase imperceptível — se é o que fizeram.

Abstraindo da atmosfera básica “patriarcal”, bela e preponderantemente pacífica, das histórias dos patriarcas, uma das primeiras impressões que elas transmitem é a da vida instável de migrantes que tiveram os pais. Esses patriarcas, aos quais foi feita a promessa da Terra Prometida, não moram nessa terra, ou sempre só fazem de passagem, até partirem de novo. Com suas famílias e seus rebanhos andam infatigavelmente de lugar a lugar; só na morte encontram seu merecido repouso. Distâncias não têm importância nenhuma; milhares de quilômetros são percorridos. Alguém poderia dizer: os patriarcas nômades, e mudanças de lugar não são incomuns entre nômades. Mas, mesmo sob este pressuposto, os caminhos dos patriarcas são estranhos emaranhados. A conseqüência parece inevitável: esses caminhos não podem ser históricos, mas devem ter motivos histórico-traditivos. Observando os lugares em que estiveram os pais em suas peregrinações, cai na vista que as regiões da Palestina não estão representadas por igual nem sequer aproximadamente.

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