COOK, J. M. Os Gregos na Jônia e no Oriente. Lisboa: Editorial Verbo, 1971

Acadêmico: Tiago Portes Borges

Resenha:
O livro Os Gregos na Jônia e no Oriente, é um esboço, como o autor se auto titula, pioneiro de tal história. Demonstra que, embora os conhecimentos acerca dos acontecimentos políticos e militares sejam demasiado escassos para permitir uma narrativa com sequência, não faltam provas relativamente à história cultural e social dos gregos do Oriente. Nota-se que na obra, há um duplo objetivo. A primeira parte, trata dos diferentes ramos do povo grego, que finda a Idade do Bronze, emigraram rumo a leste, para o litoral da Ásia Menor, e a que hoje são chamados gregos do Oriente. O primeiro capítulo do livro se dedica à expor o ocidente da Ásia Menor antes dos Gregos, discorrendo o autor sobre como era Mileto, a primeira fundação da Jônia, metrópole de muitas e grandiosas cidades do ponto e do Egito.

Fala-se da condição geográfica da região, com a apresentação de um mapa da costa ocidental da Ásia Menor nos primeiros tempos gregos. É quase certo que os primeiros colonizadores gregos, chegados nos navios em que se haviam transportado através do Egeu, desenbarcaram numa terra sub-povoada e sem organização política efetiva. O capítulo II é reservado às grandes migrações e ao Período Arcaico, sendo que a primeira colonização grega da costa ocidental da Ásia Menos remonta ao Período Arcaico, época que se seguiu ao desmoronar dos reinos dos fins da Idade do Bronze. A fundação das cidades jônicas vem descrita na tradição clássica, conhecida através de escritores recentes, como Estrabão e Pausânias, mas que, no século V a. C., segundo o autor, começara a ser elaborada.

O verdadeiro processo de colonização deve ter-se prolongado, de fato, por várias gerações. Contudo, muitos traços da narrativa tradicional são bem fundamentados. Assim por exemplo: o movimento não foi tanto de colonização mas sobretudo de migração. Os Jônios do Oriente constituíram uma miscelânia: só depois de atravessarem o Egeu é que adquiriram uma espécie de unidade e desenvolveram aquelas características que fizeram deles um povo único. No terceiro capítulo, conhecemos a sociedade na Jônia antiga, com os devidos méritos pelo autor, ao gênio e a humanidade de um homem – alguns historiadores diriam dois homens – autor de dois poemas épicos intitulados Ilíada e Odisséia, e que o mundo antigo chamou-lhe de Homero.

Esses poemas são a base de qualquer texto sobre a sociedade desses povos. Os capítulos subseqüentes, são dedicados a expansão da Jônia, até atingir sua estatura perfeita no mundo mediterrânico, os Gregos e o Levante, no capítulo VI a arquitetura e a arte na Renascença Jônica, novamente, os capítulos muito bem servidos de gravuras, plantas baixas e desenhos em cortes, tudo para não deixar a desejar o entendimento do leitor. No capítulo VII é dedicado as cidades e individualidades da Renascença Jônica. O auge das realizações dos gregos do Oriente, a era das personalidades dominantes, uma explicação da Jônia sobre o domínio Ateniense são alguns dos temas tratados na obra. De modo geral, o texto é acompanhado de desenhos, diagramas de construções, modelos de habitações da época e objetos que demonstram a preocupação do autor em levar ao leitor a máxima informação possível, o que certamente consegue, uma vez que a linguagem utilizada é clara, de fácil entendimento e que reflete, junto com as fotos e notas no final do livro, um excelente resultado.


Trecho selecionado: “Alexandre e o mundo oriental”

Trecho:
Ao transpor os Dardanelos, rumo à Ásia, na primavera de 334 a. C., o jovem Alexandre começou a grande aventura da sua breve vida. Ia com ele um exército que não chegava a contar 40 000 homens, uma armada demasiado fraca para o poder escoltar para além Jônia, e, dentro dos cofres de guerra, escassas soldadas para uma semana. Levou consigo alguns contingentes gregos, mas mais no intuito de servirem de penhor do comportamento dos estados aliados que ia deixando atrás de si; o grosso das suas tropas de combate era composto por macedônios, transformados por seu pai numa força invencível. Em mente tinha a conquista do Império Persa. Pequeno como era, este exército não dependia de reforços e Alexandre gozava assim de grande liberdade de movimentos, como Ciro, contando ainda com a grande vantagem da têmpera da sua cavalaria, extraordinariamente bem treinada.

Penetrando no interior, derrotou os sátrapas junto do rio Granico, continuando para sul em direção a Sardes e à costa jônica. Onde quer que conquistasse terras do rei reivindicava-as como suas. Conseguiu a colaboração das cidades gregas, declarando-as livres e dispensando de tributo os seus territórios; e, ao contrário do que os Macedônios haviam feito na Grécia, substituiu os governadores pró-persas por democracias. Mileto ofereceu breve resistência. Mas o maior obstáculo de Alexandre foi Halicarnasso, pois aí as guarnições do sátrapa, além de reforçadas por um corpo de mercenários gregos, eram animadas pela presença de Mémnom de Rodes, a quem Dário III confiara o supremo comando do Ocidente.

Alexandre assentou Arrais a menos de um quilometro da porta de Mílasos, e, enquanto esperava pela chegada do material de guerra necessário ao cerco, fez uma incursão malograda a Mindo. Começou então a desgastar as defesas orientais de Halicarnasso, conseguindo por fim abrir brecha na muralha; antes, contudo, de lograr forçar a passagem, os situados levantaram no interior outra muralha de tijolos e continuaram a opor resistência. Depois de nova batalha indecisa, os defensores da cidade fizeram uma surtida em força: as ambições de Alexandre quase caíram por terra, pois ele próprio havia sido derrotado; a catástrofe só foi evitada pelos veteranos de seu pai, que formavam a reserva. Entretanto, como tinham sofrido pesadas baixas, os sitiados guarneceram os baluartes de Sálmacis e da ilha e abandonaram a cidade às mãos dos Macedônios.

Nem mesmo então ficou assegurada a vitória sobre Halicarnasso: a guarnição local agüentou mais de um ano uma força superior a 3000 homens que Alexandre deixara atrás de si. Mas a forma generosa como haviam sido tratadas as cidades jônicas produzira o seu efeito: os contra-ataques persas levados a cabo posteriormente no Egeu poucas conseqüências tiveram. Os mercenários gregos aprisionados foram tratados com clemência, o que também veio facilitar a tarefa posterior de Alexandre; e, como a fama militar de Alexandre ia aumentando ao mesmo tempo que a de Dario diminuía, as unidades gregas perderam a vontade de lutar até ao fim pela causa persa. Depois de Halicarnasso, o mais grave risco que os Macedônios correram não residiu na possibilidade de uma derrota militar mas na de um acidente na pessoa do seu comandante, pois um dos segredos da espantosa estratégia de Alexandre era o desprezo pela própria vida. Alexandre não deu descanso às suas tropas durante o inverno; no entanto, passou-o na Lícia, onde a neve impedia os naturais da região de se fazerem às montanhas. Atravessou a Ásia Menor através de uma rota circundante, recebeu provas de submissão dos Paflagônios do Norte e libertou ou submeteu as cidades da costa meridional. Entretanto, Dario tinha instalado o seu quartel-general em Damasco; assim, no outono de 333, quando Alexandre ia abrindo caminho até à Síria, o exército persa cortou-lhe a linha de comunicações em Isso. A batalha daí resultante foi decidida pela fuga de Dario, quando se viu atacado pelo centro.

Alexandre tomou então o que para ele era uma resolução corajosa. Em vez de continuar até o fim a vantagem adquirida, sem esperar que Dario pudesse reunir novos exércitos, dirigiu-se para o sul, foi à Fenícia e apoderou-se das bases navais dos Persas. As outras cidades fenícias reservaram-lhe um bom acolhimento, mas a defesa agressiva da ilha-cidade de Tiro deteve-o sete meses. Mais tarde, nos fins do outono de 332, Alexandre penetrou no Egito, onde foi recebido como rei e deus; traçou, depois, na orla ocidental do Delta os limites de uma nova cidade, Alexandria, que depressa se tornaria a maior do mundo mediterrâneo. O arquiteto encarregado de desenhar esta Alexandria fora contagiado pelo então nascente entusiasmo por projetos grandiosos; diz-se, com efeito, que se propunha esculpir o monte Atos, de 1980m de altura, de modo que desse a idéia de Alexandre em libação, com uma cidade em cada mão e um rio a correr de uma para a outra.

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