Um Quadro Geral da Vida no Egito Antigo


Graças à geografia do Egito, a seu ritmo de vida dominado pelo Nilo, a sua escrita, enfim, pudemos nos aproximar da alma egípcia. Os parágrafos que se­guem permitirão situá-la melhor e perceber seus primeiros contornos. A alma egípcia não pode ser compreendida e apreendida com di­ligências do espírito muito racionais; ela tem que ser sentida, adivinhada. Ele é muito estra­nha a nossa mentalidade. É preciso, para co­nhecê-la, deixar falar nossa intuição e, sobretudo, escutar a mensagem que nos envia através dos milênios. Por isto, nos capítulos que virão, daremos, com mais freqüência, a palavra aos próprios Egípcios, por meio dos inúmeros textos que nos foram legados.

O calendário

O ano egípcio era dividido em 365 dias e em 12 meses de 30 dias, além de cinco dias adicionais no fim do ano. As três estações de quatro meses eram, como vimos: a inundação (akhit), a "saída" da inundação (périt), a colheita (chemou). Os meses somente recebe­ram nomes na Época Recente: até então, indi­cava-se apenas sua numeração. Uma data era dada assim: "Ano nove (do reinado) de Ramsés II, terceiro mês, dia 10."

Também dissemos que o início do ano era determinado pelo dia do nascimento helía­co da estrela Sothis (Sôpdit), que chamamos de Sírius, nascimento que devia coincidir com o primeiro dia da inundação em Mênfis.

Infelizmente, os ciclos de Sírius, como os do Sol, são de cerca de 365 dias e um quar­to, e como os Egípcios não tinham anos bissextos, as datas da inundação e do nascimen- to de Sírius tinham uma defasagem de um dia cada quatro anos. Mil quatrocentos e sessen­ta e um anos depois, a coincidência ocorria de novo, com um ano de defasagem. Este longo ciclo chama-se "período sotíaco". Os Egíp­cios, com certeza, notaram esta defasagem que trazia o verão no meio do inverno e pare­ce que eles remediaram na Época Recente. Na maioria do tempo, havia, portanto, dois ca­lendários, se assim se pode dizer: um oficial em defasagem perpétua com o outro que servia para a vida real.

Sabemos com certeza que o nascimen­to de Sôpdit coincidiu exatamente com o pri­meiro dia do calendário oficial egípcio, em 139 antes de nossa era. Então, por um simples cál­culo, pode-se ver que ocorreu a mesma coin­cidência em 1322, em 2783 e em 4244. A ques­tão que se apresenta então é saber em qual destas duas últimas datas o calendário foi inventado. É bem tentadora a data de 4244, mas estamos em pleno neolítico no vale do Nilo e a explicação que faria do calendário a contribuição de uma civilização estrangeira cai por si mesma, pois a observação do nas­cimento de Sírius ocorre no Egito.

Resta 2783, que cai no início do Impé­rio Antigo, data que parece ser confirmada pelas inscrições das Pirâmides. A quem se deve esta descoberta do calendário? A ques­tão permanece ainda sem resposta.

A anotação da posição de Sôpdit no ca­lendário egípcio devia se fazer regularmente; apenas algumas observações chegaram até nós, permitindo, felizmente, fixar com exati­dão reinados como os de Tutmés III e Amenó­fis I, da XVIII dinastia, e o de Sanusrit, da XII dinastia.
Fontes e pontos de referência de uma História.

Fontes e pontos de referência de uma História

Todas essas considerações permitem-­nos, hoje que as datas da história egípcia fo­ram confrontadas com as dos países vizinhos, terminar com as discussões de dinastias que dividiram durante muito tempo, os egiptólo­gos sobre a duração da história egípcia. Hoje, estão todos mais ou menos de acordo.

Até a descoberta da chave dos hieró­glifos, por Champollion, a história egípcia nos era conhecida apenas através dos autores gre­gos e latinos, assim como pela Bíblia. Esse conhecimento era reduzido, muito parcial e muitas vezes falso. A sucessão dos reis nos vem da lista composta pelo escriba Manéthon, que dividiu a história egípcia em 30 dinas­tias, do Rei Menés a Alexandre, o Grande. Essa lista foi, depois, parcialmente confirmada pelo papiro de Turim (infelizmente em mau estado) e por listas dinásticas restauradas sobre os monumentos.

A partir de Champollion, a civilização egípcia não é mais muda, pois temos a imensa riqueza dos hieróglifos ou dos papiros escri­tos em letras cursivas (hierática) derivadas dos hieróglifos. Esses dados históricos foram confirmados com êxito, recentemente, pela decifração de textos escritos em caracteres cuneiformes.

A história do Egito está dividida, clas­sicamente, em um determinado número de períodos.

O período tinita, ou Império menfita (3000-2780) que compreende as duas primei­ras dinastias. O Antigo Império (2780 a 2400) vai da III à VI dinastia. Segue-se, então, o pri­meiro período intermediário, bastante obs­curo, que vai do fim da VI dinastia ao início da XI (2400-2065). O Médio Império ou primei­ro Império tebano (2065-1785) compreende o fim da XI dinastia e a XII. Segue um segundo período intermediário (1785-1580), da XIII à XVII dinastia. Depois, o Novo Império ou se­gundo Império tebano (1580-1200) compreen­de as XVII e XIX dinastias. A Decadência, en­fim, encerra a história do Egito antigo (1200- 333) e compreende as 10 últimas dinastias; é às vezes subdividida em terceiro período intermediário até a XXIV dinastia e em Baixa Época em seguida.

O faraó faz a História

O “Rei de direito divino" é fraca expres­são para designar o faraó. Desde o Antigo Império, ele é Deus, ele é Hórus. Pouco a pou­co, esta noção evoluiu, o rei não será mais que "o representante de Hórus", depois o "filho de Rá", mas permanecerá sempre ligada a ele a qualidade divina. Voltaremos a este assunto na parte desta obra consagrada à religião do Egito, onde veremos que todo culto exercido lá o é em nome e no lugar do rei.

Todavia, é assaz impropriamente que empregamos a palavra faraó para designar o rei do Egito: este nome não aparece, com efei­to, senão posteriormente na história egípcia. Foram os Gregos que criaram o termo faraó a partir do egípcio Per-aâ que quer dizer "A casa grande", isto é, o palácio.

V. S. F., iniciais de Vida, Saúde, Forca eram comumente empregadas para designar rei. Sob o reino de Akhénaton, o rei herético do Novo Império, vê-se pela primeira vez as três palavras unidas à de faraó: U Per-aâ, Ankh, Oudja, Senb, Neb", o que quer dizer: "Faraó, Vida, Saúde, Força, o Senhor".

"Eu sou vosso filho", exclama Ram­sés III, "produzido por vossos dois braços. Vi­da, Saúde/ Força de toda a terra. Criastes para mim a perfeição sobre a terra. Eu exerço mi­nha função em paz."

Mas as palavras mais empregadas nos textos são as de "Majestade" (hem), das quais tem os freqüentes exemplos nesta obra. O rei diz, falando de si: Minha Majestade (hemy) ou Sua Majestade (hemef).

Toda a história oficial do Egito gira em torno do faraó que literalmente "faz a histó­ria". É ele que presta aos deuses egípcios o culto que lhes é devido, que constrói palácios, templos e túmulos, que conduz as expedições guerreiras e ganha para si só as batalhas.

O rei é o "senhor do universo". Divino é seu nascimento, majestoso seu advento, esplêndido seu jubileu, sublime sua morte. Promoções, nomeações, punições, só ocorrem no Egito sob sua autoridade.

"Transformado, sob todos os pontos de vista numa pessoa divina", escreve Will Durant em sua Histoire de la Civilisation (Ren­contre, 1966), "o faraó era rodeado de uma multidão de servidores e de colaboradores de toda espécie: generais, lavadores, guardas do guarda-roupa imperial e outros altos dignitá­rios. Vinte pessoas se ocupavam de sua toa­lete. Barbeiros que não faziam outra coisa senão barbeá-Io e cortar-lhe os cabelos, cabe­leireiros que lhe arranjavam o capuz e o dia­dema, manicuras que cortavam e poliam suas unhas, perfumistas que ungiam seu corpo, enegreciam suas sobrancelhas com kohl, pintavam de vermelho suas faces e lábios. Uma inscrição colocada sobre um túmulo qualifica o ocupante de "Mestre de Atelier de maquilagem, Mestre do Pincel de maquilagem, Portador de Sandálias do Rei, ocupando-se de­las, segundo as regras".

O rei é excelente na caça como na guerra, mas também gosta de assistir aos es­petáculos de danças e de cantos, onde belas jovens se exibem seminuas.

“Aquele que o rei ama", pode-se ler, “será um imakhou (subsidiado dotado de um túmulo); para quem é hostil a Sua Majestade, seu cadáver é lançado à água."

A Corte e o Estado, reduzidos no Anti­go Império, iam pouco a pouco adquirir impor­tância, para atingir seu ponto culminante no Novo Império, na capital Tebas, onde a rique­za e o requinte dos costumes criaram uma atmosfera elegante e cortês.

Se, na Corte, os homens não usam, muitas vezes, senão tanga ou um vestido de linho, as mulheres têm, para as festas e as cerimônias, a arte de usar esplêndidos ves­tidos de transparência estudada. Esses vesti­dos se prendem sob o seio esquerdo e deixam livre o direito.

As belas usam sob suas magníficas perucas um cone de pomada perfumada da qual os homens se dignam fazer uso. Maqui­lagem estudada e jóias completam a toalete feminina. A elegância das Egípcias nada deixa a desejar às mulheres de hoje, das quais 4.000 anos as separam.

O Estado se complicará com o tempo. O rei nomeia um vizir, outros ministros, inten­dentes, governadores de províncias, no Egito ou nas suas possessões asiáticas. Uma mul­tidão de escribas anota sobre papiros o me­nor saco de trigo que entra ou que sai dos celeiros reais. Um texto do Novo Império nos remete recomendações feitas ao faraó no momento da posse de um novo vizir:
“Vigia os escritórios do vizir; sê aten­to a tudo que aí se passa. Toma cuidado para que eles sejam a armadura de todo o país... O cargo de vizir não é uma coisa suave e sim amarga ... Imagina que ele não tem por única missão respeitar os príncipes e os conselhei­ros; que não deve escravizar as populações... Quando um peticionário chega do Alto ou Bai­xo Egito... toma cuidado para que tudo se passe conforme a lei, que o costume seja observado e que o direito de cada um seja respeitado ... É uma abominação demonstrar parcialidade ... Olha aquele que conheces da mesma maneira que o que não conheces e o que está próximo do rei do mesmo modo que o que está longe. Pensa bem que o príncipe que se comporta assim permanecerá longa­mente em seu cargo."

Sorte e desdita do faraó

O camponês constitui a base da popu­lação do Egito. O povo não é infeliz nem opri­mido, exceto nos períodos de perturbação e de anarquia, dos quais é a primeira vítima. Basear-se nas condições de vida dos agricul­tores egípcios nas épocas de decadência se­ria dar uma idéia inexata da sociedade egípcia. Heródoto, que visitou o Egito no século V an­tes de nossa era, surpreendeu-se diante da facilidade com a qual os agricultores tiravam seu sustento do solo.

"Eles recolhem os frutos do solo com menos esforço que qualquer outro povo ... pois não têm o trabalho de lavrar a terra com o arado ou enxada; estão livres mesmo dos trabalhos que os outros homens devem se impor para obter uma colheita de trigo; pois quando o rio enche, espontaneamente irrigan­do seus campos, e depois se retira, cada um semeia em sua terra fazendo, depois, passear seu porco sobre os sulcos -a fim de esconder a semente; feito isto, só precisa esperar o momento da colheita."

Campos de cevada (eiôt) e de trigo com amido (bôte) se sucedem dos pântanos do deI­ta às fronteiras núbias. Além do "método do porco", descrito por Heródoto, os Egípcios utilizam para a lavoura e a semeadura um ara­do a relha de madeira ou de ferro ou ainda uma enxada rudimentar em madeira, compos­ta de um cabo bastante longo e de um gume de madeira preso à extremidade do cabo e mantido por uma corda trançada, como se pode ver sobre o hieróglifo do som mr.

Uma vez semeado o campo, o arado é puxado por duas vacas ou, na falta destas, pela mulher e os filhos.

Os agricultores cultivam geralmente os campos de um grande proprietário, de um nobre ou de um templo. Pagam as rendas em produtos naturais: sacos de trigo, linho, carne...

"Belos dias!" exclama o lavrador. "Te­mos despesas, a atrelagem paga. O céu faz o que nós queremos. Trabalharemos para o prín­cipe."

A colheita se efetua com uma foicezi­nha de cabo curto e de lâmina bastante larga que termina em ponta. As espigas transporta­das em cestos, pelos homens ou pelos bur­ros, são depositadas sobre a eira onde os bois pisam enquanto os homens remexem as es­pigas.

"Pisem para vocês", grita o vaqueiro a seus bois, "pisem, pisem para vocês. A palha é seu alimento. Os grãos são seus senhores. Não parem! Está tão fresco! "

Entretanto os escribas não têm, abso­lutamente, a mesma visão da vida no campo. Um deles descreve seu pavor diante de uma condição camponesa que parece bem excep­cional, na célebre Satire des Métiers, compos­ta no Médio Império:

"Esqueceste a situação do lavrador depois que tomaram o dízimo de sua colhei­ta? Os vermes destruíram a metade de seu trigo e os hipopótamos comeram o resto. Seus campos são infestados de legiões de ratos, devastados pelos gafanhotos, gado e passarinhos. Se o agricultor deixa um instante de vi­giar sua colheita, ela é pilhada pelos ladrões. Mas isto não é tudo; eis que é necessário substituir as correias que ligam o ferro da en­xada ao cabo e que estão fora de uso, eis que o boi está morto no arado... "

Cultura e criações variadas

"Pão-cerveja" significava alimentação para os Egípcios. Bebida nacional, a cerveja confeccionada à base de cevada e de tâmaras, era consumida um pouco, por toda parte e em todas as circunstâncias: no campo, no barco, nos cabarés e em casa.

O vinho era mais localizado, a cultura vinha se efetuando, em grande parte, na re­gião oriental do delta, mas também nos jar­dins privados (para a degustação de uvas).

As vindimas se operam simplesmente. Os cachos destacados à mão são colocados em cestos baixos, que são conduzidos direta­mente à cuba, bem perto dos pequenos domí­nios ou, depois de um trajeto em barco, ao celeiro dos grandes domínios. As cubas não eram de madeira, pois os Egípcios não sabiam construir tonéis. Os camponeses pisam com animação a uva das cubas de pedra com fundo inclinado. O suco assim obtido é transvasado em grandes jarras de fundo chato onde fer­mentará.

Um dia o senhor vem fiscalizar as vin­dimas; os operários exclamam:

"Vem, senhor nosso, verás tuas vinhas nas quais teu coração se compraz, enquanto os vinhateiros, diante de ti, pisam a uva, que é abundante sobre as cepas. Há nela muito suco, mais que nos outros anos. Bebe, embria­ga-te fazendo o que te agrada. As coisas te acontecerão segundo teu coração. A senhora de Imit aumentou tuas vinhas porque deseja tua felicidade."

O trabalho do camponês compreendia ainda a cultura do linho, frutos e legumes. O linho era arrancado quando estava ainda em flor. As espécies animais criadas foram nu­merosas no Antigo Império, quando tentaram domesticar gazelas, cervos, oryx, búfalos, addax, cabritos monteses... Mas rapidamente se percebe que essas espécies não consti­tuíam o melhor negócio e se contentaram com bois, burros, cabras, carneiros, gansos e pa­tos. O cavalo só será domesticado no Novo Império, depois de sua introdução maciça pe­los Hicsos. Galos e galinhas não eram conhecidos no Egito, nessa época.

O estábulo de bois se encontra perto da casa do senhor, que aí aloja seus criados por medo dos ladrões.

"Uma excelente precaução contra o roubo", escreve Pierre Montet, "era marcar o gado. Isso se fazia sobretudo no domínio de Amon e dos grandes deuses, como também no domínio real. Vacas e bezerros são agru­pados em determinado lugar, na campina, onde são laçados, cada um por sua vez e suas patas amarradas. Derrubam cada animal como se fossem abatê-Io. Os operadores aquecem o ferro e o imprimem sobre a espádua direita. Os escribas, é claro, estão presentes com todo seu aparato e os pastores beijam res­peitosamente a terra diante desses represen­tantes do poder."

Os escribas dirigem o país

A profissão de escriba é considerada uma das melhores no Egito... sobretudo pelos membros de sua corporação, ciumentos de seus privilégios e freqüentemente imbuídos de sua função. Um poema cita, em depoimen­to, os nomes de grandes escribas, muito co­nhecidos na história literária do Egito.

"Ser escriba, põe isso em teu co­ração ...

Um livro é mais útil que uma casa construída, que túmulos no Ocidente. É mais belo que um castelo edificado, que uma estre­la num templo.

Há, aqui, alguém que valha Djedefhor? Há, aqui, alguém que valha Imhotep? Não há, em nosso tempo, um homem como Nefri e Akhti, que é o maior. Digo-te o nome de Path-Djehouti e de Khakheperrê­senb... Existe um homem que valha Ptah­hotep ou ainda Kaires?"

Djedefhor foi um dos filhos de Quéops, construtor da Grande Pirâmide; Imhotep é o conselheiro e arquiteto do Rei Zoser (de quem falaremos depois); Ptahhotep, cujas máximas chegaram até nós completas, viveu no reino de Djedkarê, último rei da V dinastia.

Os escribas aprendiam sua profissão na escola, durante longos anos. Era necessá­rio saber ler, transcrever os hieróglifos, fazer anotações ditadas, copiar os textos antigos. Uma proteção divina lhes era assegurada du­rante essa aprendizagem, a de Thot, deus dos escribas.

O material constava essencialmente de uma paleta sobre a qual eram cavados dois recipientes para pintura negra e vermelha e um entalhe comprido para conter os pincéis, simples talos de madeira, muitas vezes mastigados numa extremidade. Os estudantes es­creviam inicialmente sobre lascas de calcário cacos de barro {ostraca} ou ainda sobre tábuas untadas de estuque. Depois passavam a se exercitar sobre os papiros, raros e dis­pendiosos.

Esse ensino não começava sozinho. O bastão do mestre era ainda o melhor instru­mento para forjar as jovens mentes egípcias, sempre inclinadas, como as das cri ancas de todos os países e de todos os tempos, 'ao ba­rulho, à tagarelice e à preguiça.

"Escreve", não deixa de repetir o es­criba Amemmosé, “discute com os que sabem mais que tu... Para seres forte é preciso exercitar-te cada dia ... Se tens um só dia de negligência, serás vencido. Ele só escuta aquele que o vence. Deixa teu coração escutar minhas palavras. Aproveitarás com isso. Aos macacos ensina-se a dançar. Adestram-se os cavalos. Agarra-se o milhafre no ninho. Faz-se voar o falcão. Não esqueças que se progride discutindo. Não negligencies as escrituras. Escuta, com o coração, minhas palavras e achá-las-ás proveitosas."

Sábias palavras, que fizeram da classe egípcia dos escribas (e dos sacerdotes, como veremos) a mais erudita da Antiguidade e Isto, convém ressaltar, há mais de 5.000 anos.

Depois de sua aprendizagem, se o aluno não andar de “cabaré em cabaré” com o odor da cerveja acompanhando cada um de seus pas­sos", tornar-se-á um personagem importante e seu trabalho será “a primeira das profissões".

“É o escriba quem impõe e cobra as taxas no Alto e no Baixo Egito; é ele quem faz as contas para tudo. Todos os exércitos dependem dele. É quem conduz os magistra­dos ao encontro do faraó e determina a pas­sagem para cada homem. Enfim, é ele quem comanda o país inteiro; todo negócio está sob seu controle", dizem os papiros.

BRISSAUD, J. O Egito dos Faraós. Rio de Janeiro: Otto Pierre, 1979.

Nenhum comentário: