GIORDANI, Mário Curtis. História do Império Bizantino. Editora Vozes: Petrópolis, 1968.

Nome: Carolina Ribeiro Julio

Resenha: O autor pretende nesta obra, mostrar uma visão diferente da História do Império Bizantino, que por muito tempo foi renegada pelos filósofos e historiadores, que a consideravam como “ridícula” e “uma coleção de declamações e milagres” (pág. 35), mas que para Mário C. Giordani é de grande importância para o homem.

A cidade de Bizâncio era importante por suas rotas marítimas e terrestres, o que levou Constantino a escolhê-la para a construção da nova Roma, que a chamou de Constantinopla. Assim, o autor considera os fatores geográficos de grande importância para a história desse império, pois devido a sua posição geográfica, o Império Bizantino não possuía uma nacionalidade, e sim, era unida pela língua grega, e pela religião cristã.

No capítulo II, o autor faz uma construção da história política indo da Dinastia Teodosiana até a queda do Império Bizantino. Colocando os problemas de política interna - problemas de sucessão e questões religiosas – e externa – a luta constante pela sobrevivência – onde soube defender-se até sua queda marcando o fim do da Idade Média e início dos Tempos Modernos.

Nos capítulos seguintes, fala das estruturas sociais do Império do Ocidente, onde a estrutura político-administrativa era baseada no sistema romano, impedindo que o poder ficasse “em mãos incompetentes” (pág. 105). A economia era baseada na agricultura, indústria e comércio e impressionava pela riqueza. Os filósofos eram na verdade grandes pensadores que procuravam respostas racionais para problemas relativos ao homem e ao universo, porém a filosofia não afastava o pensamento religioso, e sim estava presente como forma de fortalecer a fé cristã.

A arte Bizantina era influenciada pela religião e apresentava um dualismo entre helênico-oriental, onde a tradição grega seria a tradição profana e a oriental, teria um caráter religioso. Ao contrário dos gregos, os bizantinos apreciavam o luxo e a abundância da decoração.

Finalizando o livro, o autor fala do legado do Império Bizantino, mostrando sua influência nas nações medievais, e sua contribuição na religião, na arte, na filosofia, no direito e na ciência. Segundo ele, a primeira contribuição de Constantinopla foi ter sido barreira contra as invasões dos árabes e turcos. Devido a sua posição intermediária entre o Oriente e a Europa, permitiu um intercâmbio cultural, onde a ciência, por exemplo, dos persas, árabes e até mesmo dos chineses penetraram o Ocidente. As lições eternas da Grécia antiga era mantidas pelos humanistas bizantinos, o que atraia principalmente os italianos, que iam em busca deste conhecimento. “Note-se que a conservação dos manuscritos dos clássicos é por si só um título de imperecível glória para Bizâncio e um motivo de perene gratidão de todos os povos civilizados” (pág.285).

Assim, Mário C. Giordani promove um diálogo com o leitor, conduzindo-o a uma análise crítica da história, validando sua proposta de trabalho sobre o Império Bizantino. O livro é bem divido, permitindo um perfeito entendimento dos acontecimentos. O autor explora mais os aspectos da sociedade bizantina, mostrando sua importância e influência para os homens.


Título do trecho selecionado – “O quadro Geográfico e a População”.

Trecho
– Através da longa história do Império Bizantino, suas fronteiras variaram bastante de acordo com as vicissitudes sofridas pelo prestígio das armas imperiais. Assim, é que nesta breve exposição do cenário geográfico em que se desenrolaram os eventos constitutivos da História Bizantina, convém, desde logo, distinguir duas zonas: 1) os territórios que integravam a região de que Constantinopla era naturalmente o centro político; 2) as regiões por assim dizer exteriores a esse domínio, as quais, por uma fatalidade geográfica estavam destinadas a se desintegrarem da comunidade imperial sob a influência imperial de diferentes forças centrífugas.

Faziam parte da primeira zona: a Síria Setentrional com Antioquia, a alta Mesopotâmia, a Transcaucásia, a Ásia Menor, o litoral do Mar Negro, o Vale do Danúbio, o Litoral Adriático e a península balcânica. “Tal é o quadro determinado pela natureza para constituir um Estado cujo centro é Constantinopla”.

À segunda zona pertenciam o Egito, parte da Síria, o norte da África e a própria Itália.

O Mar Negro e o Mar Egeu que separaram a Europa da Ásia Sul - ocidental estão em comunicação por dois estreitos canais (o Bósforo e o Helesponto ou Dardanelos) entre os quais se situa ainda o mar de Mármara. De relativamente fácil acesso tanto do continente asiático como do europeu, constituindo passagem marítima obrigatória para o tráfico do Mar Negro para o egeu e Mediterrâneo ou vice-versa, o Bósforo estava fadado a desempenhar relevante papel político e econômico através dos tempos – “ No ponto em que as águas do Bósforo passam para a Mármara estende-se para o Noroeste uma soberba baía, de uns onze quilômetros de extensão, curva como uma foice ou um chifre e conhecida na História como Chifre de Ouro. Entre ela e o Mármara fica um promontório montanhoso, na forma aproximada de um triângulo isósceles, cujo vértice rombudo está voltado para a Ásia”. Nesse promontório gregos de Mégara haviam fundado (séc. VII) uma colônia que recebeu o nome de Bizânico, derivado, ao que se parece, de Byzas, chefe da expedição fundadora.

O historiador grego Políbio (séc. II a.C) “analisa brilhantemente a situação política e, sobretudo econômica de Bizânico, reconhece a grande importância do intercâmbio que se mantinha entre a Grécia e as cidades do Mar Negro, e escreve que nenhum navio mercante poderia entrar ou sair desse mar contra a vontade dos moradores de Bizânico, que diz, possuem em suas mãos todos os produtos do Ponto, indispensáveis à humanidade”.

Quando Constantino, após ter examinado outros lugares, escolheu Bizânico para a construção da nova Roma, a antiga colônia megárica tinha o aspecto de um povoado sem maior importância e “só ocupava uma parte do promontório que se adiante no mar Mármara”.

(...) Construída numa importante encruzilhada de importantes rotas marítimas e terrestres (via marítima entre Mar Negro e o Mar Mediterrâneo), vias terrestres da Europa Continental ao Índico e do Vale do Danúbio ao Eufrates, estava fadada a tornar-se simultaneamente um centro político e econômico de primeira grandeza. Em virtude de sua situação geográfica, Constantinopla seria ao mesmo tempo potência marítima e continental.

“O papel histórico de Constantinopla consistiu em defender essas grandes vias e em utilizá-las para a sua expansão: elas serviam igualmente a seus exércitos, a seus negociantes, a seus missionários que irradiavam longe sua influência”.

Já acentuamos que Constantinopla era o centro político natural de um conjunto de regiões situadas em ambos os continentes. Um simples olhar sobre uma carta geográfica revelará que a grande cidade não podia continuar a ser o que Roma fora: capital de um império em que o Mediterrâneo era verdadeiramente mare nostrum. Essa impossibilidade geográfica de ser a sede de um Império Mediterrâneo chocava-se com a mentalidade restauradora dos imperadores que sonhavam com o domínio da velhas províncias ocidentais. Acrescenta-se a necessidade em que se encontrava Constantinopla de defender as rotas que a ligavam com seu domínio geográfico natural.

A chave da explicação de numerosos acontecimentos da política interna e externa de numerosos acontecimentos da política interne e externa bizantina encontra-se me parte nesses fatores de ordem geográfica.

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